Artista plástico Marcondes Rocco morre aos 44 anos, após complicações da Covid-19

Vacinado com a primeira dose da vacina contra Covid-19 meritiense havia alcançado projeção nacional e era envolvido com causas sociais na Baixada Fluminense

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Artista plástico Marcondes Rocco morre aos 44 anos, após complicações da Covid-19

* Matéria sob atualização

A Baixada Fluminense perdeu um dos maiores talentos artísticos contemporâneos no auge da sua criatividade. Aos 44 anos, o artista plástico, professor e ativista Marcondes Rocco morreu após complicações causadas pela Covid-19 na tarde do último sábado (08/05). No dia 13 de abril, Marcondes foi vacinado com a primeira dose da vacina contra a doença.

Rocco sempre teve a veia artística pulsante: em 1995, foi o intérprete do funk “Quebra corrente”, o mais tocado naquele ano, colocando-o no meio dos grandes nomes do gênero na década de 90. A voz rouca é resultado do estouro no funk.

“A cultura não morre. A cultura nasce. A cultura brota. A arte brota. O artista não tem data de validade.”
– Marcondes Rocco

No auge da carreira musical, Marcondes gabaritou no vestibular – num tempo que não tinha cotas nem oferta de faculdades como atualmente. Ele denunciou o abuso que grandes equipes de som praticavam sobre a carreira de artistas como ele, de origem pobre e pele preta. “A nossa van era eu e Ricardo, e também o Claudinho e Buchecha”, explicou Marcondes durante uma entrevista gravada há um ano atrás. Ele que chegou a ser citado na música Cidadão, lançada pela dupla em 1998.

Além de MC Marcondes, o artista também foi o Professor Marcondes. Sua estreia nas salas de aula aconteceu também nos anos 90, durante o quarto período da faculdade de educação física. “Eu saía de Seropédica, vinha pra São João de Meriti e voltava pra Seropédica porque a faculdade era em tempo integral” – explicou Marcondes. Lecionou no colégio onde estudou, o Líbia Garcia, além de atuar no grupo cultural Capoeira no Coração – Marcondes foi capoeirista desde os 14 anos de idade.

A "Fábrica de Monstros" funcionava na sua própria casa no Morro do Conceito. Foto: acervo pessoal/Marcondes Rocco.

A “Fábrica de Monstros” funcionava na sua própria casa no Morro do Conceito. Foto: acervo pessoal/Marcondes Rocco.

Morador do Morro do Conceito, Rocco mantinha um ateliê na sua casa: a “Fábrica de monstros”, onde nasciam os seus quadros. As paredes eram usadas também como telas para estudos. A paixão pelo desenho veio desde a infância, mas foram os contratempos da vida adulta que fizeram a paixão virar sua vida do avesso. Ele contou: “eu tinha 150 reais na conta bancária, fui na loja comprar uma tela, pincel, tinta e pintei o rosto da minha filha com o dedo”. Uma semana depois de publicar o quadro na internet, ganhou em pedidos de quadros o que levava um mês para receber como professor de educação física.

O trabalho do artista plástico ganhou visibilidade nacional e foi assunto de reportagens em diversos veículos da imprensa. Agora assinando como MRocco, participava de eventos com a ‘tela preta’ realizando a pintura ao vivo junto de shows musicais.

Seu trabalho sempre acompanhou seu posicionamento ativista, especialmente enquanto homem negro e traduzindo suas ideias nas telas.

Nos seus últimos dias de vida, Marcondes Rocco estava mobilizando pessoas para a mudança de nome da Rua Guiana, localizada no Morro do Conceito, para o nome da sua avó. Com a sua morte, amigos e familiares resolveram seguir a homenagem, agora mudando o nome da rua para Professor Marcondes Portella dos Santos.

Para reunir pessoas a favor da mudança de nome da rua, uma petição foi criada no website change.org: https://www.change.org/p/exmo-sr-prefeito-da-cidade-de-s%C3%A3o-jo%C3%A3o-de-meriti-dr-jo%C3%A3o-ferreira-neto-rua-professor-marcondes-portella-dos-santos-rocco

Rocco deixou uma filha de 7 anos e um filho de 20.

* O repórter teve a honra de ser aluno do Professor Marcondes, sendo da primeira turma dele. Seu papel foi fundamental no início da adolescência deste que escreve para vencer o bullying praticado por uma geração tão voltada para atividades físicas e que não sabia lidar com jovens que tinham habilidades mais voltadas para a arte. Nos últimos anos, tornou-se um amigo e conselheiro. Fica a homenagem e a gratidão a um dos maiores meritienses que já viveram – e uma das maiores influências que tornaram o Site da Baixada possível.

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