Meriti terá usina de geração de energia e de combustíveis a partir do lixo
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O município de São João de Meriti, no Rio de Janeiro, vai receber uma das primeiras Unidades de Recuperação Energética (UREs) do Brasil: a URE Fluminense. Com todas as licenças para instalação já emitidas pelos órgãos competentes, a planta tem a capacidade de beneficiar até 1,2 mil toneladas diárias de resíduos sólidos urbanos para gerar energia elétrica e produzir combustíveis biossintéticos – o trabalho começa com 400 toneladas diárias geradas pela população da cidade.
A previsão é que as obras se iniciem nos próximos 30 dias e sejam concluídas em 2023. O projeto é uma parceria da URE Fluminense com a Mais Verde, concessionária de limpeza urbana de Meriti, em um contrato que conta com investidores externos e garante um financiamento de R$ 85 milhões em dois anos.
A URE Fluminense será construída na Estação de Transferência de Resíduos (ETR) da Mais Verde, no bairro Venda Velha. Para a obra começar, toda a área ao redor da ETR será descontaminada, eliminando qualquer passivo ambiental. Na usina, o lixo passará por inovadores tratamentos físicos e químicos para ser transformado em energia e combustíveis. A unidade tem potencial de ser uma solução para a gestão de resíduos da Baixada Fluminense e de toda a Região Metropolitana, já que tem capacidade de atender a outros municípios.
– A tecnologia waste-to-energy oferece uma solução definitiva para o lixo gerado em São João de Meriti, um dos municípios mais densos do Brasil, e vai transformá-lo em um modelo de solução técnica e ambiental na gestão dos resíduos. Queremos mudar a forma como toda a metrópole lida com a produção de lixo. A URE Fluminense será uma solução para uma região historicamente impactada por resíduos, marcada por feridas como a do Lixão de Gramacho, em Duque de Caxias, onde montanhas de lixo eram jogadas a céu aberto. Chegamos, enfim, ao futuro – explica o diretor da Mais Verde, Mário Carvalho.
A partir do beneficiamento de 400 toneladas diárias de lixo, a URE tem a capacidade de gerar 10 MW de energia elétrica, o suficiente para abastecer um bairro de 50 mil habitantes. Do total, 8 MW são exportáveis. Para gerar energia, a planta conta com a produção do CDR (combustível derivado de resíduos), que tem grande valor para queima em fornos industriais. Materiais como madeira, papel, papelão, tecido têxtil, couro e derivados de borracha serão separados e levados para trituração e granulação, resultando na produção do substrato.
O CDR será encaminhado, então, para o fracionamento molecular, onde a energia é convertida por meio de reações termoquímicas. Em seguida, em um processo chamado de gaseificação hermética, haverá a geração de um gás síntese que, após purificado, será encaminhado para a ignição térmica em turbinas do tipo Brayton e Ciclo Rankine Orgânico. Gera-se, assim, a energia elétrica.
Além disso, com 400 toneladas de lixo, a planta também vai gerar 40 mil litros de combustível biossintético, equivalente ao óleo diesel S-10, para abastecer os veículos da própria empresa, para abastecer parte da frota da Prefeitura e para venda. As matérias-primas utilizadas são resíduos de derivados de plástico, como sacolas plásticas e embalagens de biscoitos. Elas passarão por um processo chamado “fracionamento catalítico”, para a produção de líquidos por meio da curta exposição a temperaturas moderadas. A água ácida resultante do processo será transformada em água purificada, para reuso, em uma unidade de tratamento dentro da própria usina.
Após a triagem dos resíduos que chegam na unidade e o beneficiamento dos materiais apropriados para cada fim, os processos da URE resultam em 80% do total de resíduos tratados e beneficiados, 15% que seguem para descarte e tratamento no aterro sanitário, e 5% de cinzas decorrentes da gaseificação, que terão descarte apropriado.
A implantação da URE ajuda a reduzir custos com transporte, tratamento e disposição final adequada dos resíduos, além de gerar investimentos, empregos e renda em São João de Meriti. Trata-se de uma solução simultaneamente energética, ambiental e sanitária, que abre caminho para novas referências de gestão do lixo capazes de favorecer cada vez mais a proteção do meio ambiente e o bem-estar da comunidade.
Para o diretor geral da URE Fluminense, Ecles Luiz dos Santos, o projeto é importante para o sucesso de uma nova matriz energética no país:
– A URE é uma inovação diante do aumento da quantidade de resíduos resultantes do crescimento da população e da atividade humana. Além de dar uma destinação correta aos resíduos, esse tipo de complexo industrial elimina a necessidade de termos novas áreas para a implantação de aterros sanitários, reduzindo ainda mais um impacto ambiental que já é contido nos aterros. Isso consome muitos investimentos por parte das concessionárias de tratamento e destinação. Queremos criar uma nova mentalidade a partir de produtos que terão um valor diferenciado: não financeiro, mas um valor de qualidade de vida.