Meeting Of Favela renova os muros da Vila Operária em Duque de Caxias

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Há 13 anos os muros da Vila Operária, em Duque de Caxias, não são mais os mesmos. Cenário do “Meeting of Favela” (MOF), maior encontro voluntário de arte urbana do mundo, a região recebe no dia 8 de dezembro mais uma edição do evento. São artistas de quase todos os continentes que se encontram para pintar voluntariamente as paredes da comunidade, que se tornou uma grande galeria a céu aberto. O foco é o grafite, mas o MOF reúne ainda apresentações de B-boys, MCs, DJs, skatistas, atores de teatro e circo, videomakers e fotógrafos.

O tema da 14ª edição é “No Morro não tem play”. A frase faz referência à uma crítica social de dúbio sentido, no morro não tem playground, então o favelado tem que se subverter mais uma vez e criar seu play em suas ruas, suas praças que é onde as crianças crescem e se desenvolvem, e nesse ambiente que foram surgindo os MCs, os poetas e toda uma gama de talentosos jovens. “Começamos a pintar em uma época que o graffiti ainda não era bem visto pela sociedade, e ainda tínhamos que lutar contra o preconceito de sermos de fora do Rio de Janeiro. Hoje, somos parte da narrativa do graffiti nacional e ainda mantemos a nossa essência. Com esse tema, queremos relembrar a trajetória de muitos de nós que cresceram nessa realidade”, explica Kajaman, o criador do MOF.

Durante o dia do evento, cada grafiteiro bate na porta dos moradores pedindo licença e autorização para pintar o muro ou a parede do imóvel. Os moradores têm completa liberdade, e a exercem bem, para permitir ou não, para sinalizar o local que pode ser pintado e até para encomendar o tipo de pintura que gostariam de ter decorando as suas paredes. Ao final, os muros formam um grande painel, como uma exposição de grandes obras em progresso. Todo ano, são gastas cerca de 5 mil latas de spray para colorir a Vila Operária.

O encontro também gera renda para os moradores, que prestam serviços, hospedam visitantes e vendem produtos. Alguns deles, inclusive, já fazem parte da equipe de produção do evento e colaboram para a realização do projeto. Por tudo isso, o MOF acabou se tornando parte do calendário afetivo da Vila Operária.

O Sr. Arnaldo, por exemplo, mora na comunidade há mais de 50 anos e, gosta tanto do MOF, que já chegou a pedir para os organizadores realizarem o evento duas vezes por ano. Segundo ele, o dia do evento é o dia mais feliz para os comerciantes da região, pois o evento atrai muita gente. “Sempre que posso, abrigo o pessoal que vem de Minas lá em casa. Ultimamente, eu costumo ajudar com o que mais gosto: o som. Fico muito feliz em ajudar e  peço que papai do céu me dê muita saúde pra estar aqui até os meus 90 anos perturbando eles”, brinca.

Apesar do caráter voluntário, o MOF é realizado com extrema organização. Para controle, os grafiteiros participantes são cadastrados gratuitamente através da página do evento no Facebook www.facebook.com/meetingoffavela.

Em 2016, ao completar 10 anos de existência o evento recebeu a grande lenda da fotografia urbana, a americana Martha Cooper, que pôde registrar e conhecer de perto o que acontece na comunidade. Os estrangeiros, e os que vêm de fora do Rio, podem solicitar uma vaga no alojamento que é montado na Colégio Estadual Vinícius de Moraes, base operacional do evento. A Secretaria de Estado de Cultura e a Prefeitura de Duque de Caxias, colaboram com melhorias na estrutura e permitem que o evento ganhe mais visibilidade.

MOF – A história

Criado em 2006, o MOF surgiu após a realização do evento internacional “Meeting of Styles – MOS”, que só permitia a participação de artistas convidados, deixando muitos artistas fora do evento. Foi, então, que o grafiteiro André Kajaman realizou a primeira edição do MOF totalmente democrática. Era um convite aos excluídos, abrindo os muros da comunidade para quem quisesse chegar. Foram aproximadamente 50 participantes. A iniciativa deu tão certo que a última edição, em 2016, reuniu cerca de 5 mil pessoas, das quais 800 eram artistas. Foram brasileiros, chilenos, argentinos, mexicanos, sul-africanos, franceses e alemães num valioso intercâmbio de estilos, experiências e influências culturais.

A Vila Operária

A comunidade, como muitas outras no estado do Rio, é estigmatizada pela pobreza e violência. No entanto, o MOF sempre aconteceu num clima de integração, alegria e colaboração entre visitantes e moradores. Hoje, a Vila Operária também é conhecida por ser uma galeria de arte gratuita e participativa, estimulando o turismo, a geração de renda, elevando a autoestima da população local e oferecendo aos jovens a arte como forma de expressão. Com os anos, os moradores que, em geral, nunca entraram em um museu, já entendem de arte, elegem os seus artistas preferidos e acompanham os seus trabalhos pelas redes sociais.

Meeting of Favela – MOFQuando: dia 8 de dezembroOnde: Colégio Estadual Vinícius de MoraesPraça Paulo Biar, s/n – Vila Operária, Duque de CaxiasHora: Das 10h às 22hCadastramento gratuito: facebook.com/meetingoffavela

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