Artista e pesquisadora, Karina Romano fala sobre a luta de corpos negros na Baixada Fluminense

Cria do IFRJ de Belford Roxo tem conquistado espaço na cena criativa do Rio de Janeiro

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Moradora de Belford Roxo há mais de 20 anos, a pesquisadora, artista multidisciplinar e modelo Karina Romano tem muito orgulho da terra que a acolheu. Se define como “um corpo preto e periférico” com responsabilidades, criando as próprias narrativas através da arte. É, também, íntima do IFRJ por ter se formado “pessoal e profissionalmente” em Produção de Moda, segundo palavras dela, nas dependências do Instituto.

“Eu sou uma mulher preta, periférica e pra mim é de grande importância ter um espaço de capacitação, profissionalização e construção social e acadêmica na Baixada Fluminense. É de grande relevância um espaço de criação de narrativas, através da educação, da cultura e da arte.”

Os moradores de Belford Roxo, assim como os de vários outros subúrbios, têm dificuldades de acessar outros espaços. “Nós somos colocados à margem o tempo todo”, afirma Karina. Por isso a pesquisadora joga luz na importância de ter tido a oportunidade de estudar perto de casa, um lugar com relevante carência educacional, um ensino público de qualidade.

A responsabilidade do IFRJ é enorme na cidade e Karina garante que é também para “corpos e as falas dos pretos e periféricos da Baixada Fluminense, de Belford Roxo”. A responsabilidade, a sensibilidade e o desenvolvimento humano proporcionados pelo ensino no IFRJ influencia a subjetividade de cada história, de cada pessoa e isso é o que conta Karina Romano:

“Através da IFRJ, eu pude conseguir investir nos meus sonhos, ter uma formação que atendesse as minhas demandas enquanto preta e pobre. Estudar artes, que é uma área tão elitizada e possuir uma construção artística, política e social tão potente. Belford Roxo é potência!”

Karina Romano relata que a formação possibilitou outros voos. Atualmente é aluna da Escola de Belas Artes, na UFRJ. A artista reflete que “ter um corpo preto e periférico em um lugar tão elitista como a academia [a Escola de Belas Artes] é uma estratégia de ocupação dos nossos corpos”.

A reflexão sobre ocupação de espaços traduz a ideia de amplitude da existência dos talentos da Baixada. São, como o Cidade Negra e Seu Jorge (para citar somente dois da cidade de Belford Roxo), vozes da Baixada para o mundo. Karina Romano reconhece a dificuldade de deslocamento, principalmente para acessar locais que “não foram pré-estabelecidos” para ela. “Sempre tive que me esforçar bem mais para ter o mínimo e não deveria ser assim, sabe?”. Karina Romano tem grande noção da representatividade que possui para outras meninas:

“Para outras meninas pretas, filhas de empregadas domésticas e moradoras de Belford Roxo. E a quem mais eu puder acessar. Essa é a minha maior responsabilidade enquanto artista e pesquisadora em formação.”

A artista também reconhece estar em uma situação melhor por ter, segundo ela, “furado a bolha que bloqueia os acessos”. Por isso Karina reconhece a responsabilidade que carrega de representar não só a própria história como também a história dos próprios pais, avós e outros que surgiram antes dela e não conseguiram a emancipação.

Sobre a luta ela reconhece que os momentos de fraqueza existem. Para isso Karina diz que “antes de nós, vieram outros que tiveram um papel fundamental para que nós estivéssemos aqui hoje, eles foram “agentes facilitadores” e de amparo, então é pensar que temos resistido sempre”.

A história de Karina Romano reforça a educação como motor propulsor de desenvolvimento social. Para isso o IFRJ precisa seguir em funcionamento. É, também, para que a cidade de Belford Roxo e diversos jovens e potenciais artistas da Baixada Fluminense continuem reverberando que estudantes criaram uma petição pra impedir que o IFRJ de Belford Roxo perca o terreno e pare as atividades. Para assinar é só clicar aqui.

SERVIÇO
Site: https://www.behance.net/kromano
Instagram: @sinistradebel
Foto: Larissa Acsa

 

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