O isolamento social pelas lentes de artistas femininas
Com participação de artistas da Baixada Fluminense, a iniciativa traz o olhar de mulheres de diversas parte do mundo para dentro da arte
Publicado em:
Por Larissa Medeiros
Idealizado por Karenina Marzulo, artista plástica e visual carioca, o projeto artístico feminino teve seu embrião formado em 2012, quando ainda cursava Artes Plásticas, ao notar a escassez de produções femininas em trabalhos artísticos. Para sair do papel, em 2013, o “Do Feminino na arte” lançou a primeira exposição intitulada como “Corpos Partidos”, no Instituto Cultural Germânico de Niterói – RJ.
De lá até aqui, 6 exposições e 2 ações virtuais foram trabalhadas pelo projeto. Apesar de ser produzido pelas próprias colaboradoras, Karenina conta que “a ideia é obter patrocínio e recursos para ampliá-la e agregar cada vez mais profissionais com suas devidas remunerações”.
Atualmente, a iniciativa “Todo barulho que transborda do meu silêncio”, exposição coletiva virtual, com apoio o Memorial Municipal Getúlio Vargas, é o mais recente dos trabalhos do projeto. Nele, 14 artistas e 14 imagens fotográficas divulgaram seu olhar durante o primeiro semestre de 2020, período mais rigoroso do isolamento social devido à pandemia do coronavírus.
Para a seleção da mulheres que iriam produzir para a exposição, Karenina, além de participar como modelo, convidou artistas que já haviam produzido para outros trabalhos do projeto. Entre os critérios para a escolha, foram analisados pesquisa, linguagem e adequação temática de cada trabalho.
O objetivo da exposição foi refletir as experiências individuais e coletivas em meio a uma das maiores crises sanitárias na sociedade. “A incerteza do encontro, a ausência do abraço, a escassez do trabalho, a transformação do cotidiano e uma nova maneira de perceber a vida se anunciar”, disse a artista.
O isolamento e a arte pelo olhar feminino da Baixada
Das catorze artistas, quatro são mulheres da Baixada Fluminense, sendo elas: Adrielle Vieira, Janaina Tavares, Carol Vilamaro e Laís Dantas. Janaina Tavares, moradora de Nova Iguaçu, diz que “meu sentimento em relação ao projeto é de respeito e gratidão. Dividir o espaço com mulheres tão potentes e profundas é um suspiro neste período de quarentena. A arte é o nosso barulho em meio a tantos silêncios”, afirma ela.
Apesar de ter se formado em Letras e Espanhol e nunca ter pensado em trabalhar com arte, Janaina conta que seu envolvimento com o mundo artístico aconteceu desde os 16 anos, quando participou do movimento estudantil secundarista e acabou por assumir a posição de coordenadora de cultura. Além disso, a artista foi responsável pela criação do primeiro sarau de rua, intitulado como “Sarau V”, em Nova Iguaçu.
“Fizemos mais de 20 edições na rua. Mobilizamos centenas de pessoas de várias gerações das artes, da educação, da militância, família, crianças e debatíamos sobre direitos humanos, direito à cidade, democratização da arte e a cultura local”, relembra ela.
Sobre a valorização do território, Janaina conta que ainda sente falta da sensação de pertencimento de quem vem da própria Baixada. Neste período de pandemia, ela ressalta que, para passar por esta crise não só territorial, mas como mundial, no campo cultural, ajudar no engajamento nas plataformas digitais, trabalhar com permuta de serviços e estar conectados em rede são alguns dos pontos principais para a continuação do trabalho após à quarentena.
Para acompanhar o “Do Feminino na Arte” e saber mais sobre as exposições da iniciativa, acesse o Instagram do projeto.
Foto de capa: Laís Dantas