Enraizzadas: Jovem de Belford Roxo dribla o desemprego fazendo tranças
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Por Rafaela Lohana
Mulher, negra, periférica, ensino médio completo e dezenove anos. Esse é o perfil de Carla Pereira, que é semelhante a atual parcela da juventude atingida pelo desemprego. Para desviar dessa rota, que teve um aumento de 29,7% – segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD) – em 2020 entre pessoas de 18 a 24 anos, Carla teve de criar alternativas e uma delas foi empreender.
Vendo sua renda mensal diminuir por conta da pandemia do novo coronavírus, a jovem que na época além de ser manicure também vendia doces, encontrou num grupo de rede social, uma nova oportunidade de conseguir ter algum retorno financeiro: “Nesse grupo de São Vicente, onde meus parentes moram, apareceu (um anúncio) que precisavam de meninas para fazer curso de: cabelo, unha, extensão de cílios, etc. O valor do workshop era dez reais mais um quilo de alimento. Me inscrevi com uma amiga. Na época eu só tinha quarenta reais.”.
O investimento deu certo. As primeiras clientes foram sua família e algumas amigas, então o Enraizzadas surgiu com o intuito de que para além das tranças, possa trazer mais da cultura e tradição por trás dos penteados.
“Trançar o cabelo, ainda é considerado algo simbólico e sagrado. As tranças eram uma forma de representar momentos, os povos africanos conseguiam se identificar através dela e até demostrar o estado civil. Para alguns grupos religiosos de matrizes africanas o Orí que é a nossa cabeça, sempre foi muito importante, então para cada forma que o cabelo é moldado tem uma função.” – explicou Carla.
A ida aos domicílios é necessária, e ela relata que em alguns momentos sofreu racismo, por isso informações sobre a história por trás das tranças é essencial já que os penteados se popularizaram como produto mercadológico, sendo retirado do seu lugar de identidade, resistência e ancestralidade da cultura negra.
Quando perguntada sobre até onde ela pretende que seu negócio chegue, Carla respondeu que à pessoas que sem acesso, de maneira que possa ensiná-las a trançar. E completou sobre a importância de vitrines virtuais como a Feira BXD: “A feira tem uma importância gigantesca, porque mostra empreendedores com singularidades, potenciais diferentes, que não são valorizados. Em contrapartida, faz a gente ver coisas que nem sabíamos que tinha por aqui. Não parem nunca.”.
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