Jovem negro da Baixada Fluminense pinta sobre ansiedade e depressão

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Durante a pandemia de COVID-19, várias pessoas descobriram talentos enquanto faziam o isolamento social. Com Lucas Finonho, de 21 anos, não foi diferente. O aluno de Artes Visuais da UERJ, após realizar apenas uma semana de aulas presenciais, se arriscou com tintas para se desafiar e acabou descobrindo um novo talento: pintura em tela.

Lucas resolveu utilizar as tintas que tinha em casa. Havia tinta guache, tinta de tecido, a maioria velha e até mesmo fora da validade. Fez uma pintura para uma amiga e se surpreendeu ao entregar, já que a amiga decidiu pagar pelo presente: “Eu fiquei super sem jeito, pois eu não era profissional e eu havia usado tintas velhas”, conta o morador de Duque de Caxias.

Quando postou nas redes sociais, no mesmo dia recebeu três encomendas, e a partir daí foi uma encomenda atrás da outra, e tudo foi fluindo de forma simples até setembro do ano passado, quando algumas questões foram incomodando o artista.

Começou sendo por necessidade, já que Lucas não trabalhava de carteira assinada e enfrenta dificuldade de conseguir um emprego que concilie com os horários da universidade, então ele se dedicou ao máximo para produzir o suficiente para pagar as contas básicas, o que acabou gerando um esgotamento.

“Estava cansado das pinturas de retratos realistas, porque tirava a minha liberdade de criação e acabou se tornando uma prisão, pois não passava uma mensagem, não existia uma narrativa por trás daquilo, eu tinha muito mais para falar. Nesse turbilhão de coisas na minha mente e limitações, as crises de ansiedade e depressão voltaram, chegou setembro, já estava pintando há quase um ano e não havia feito nada pra mim que eu realmente quisesse além das encomendas, e foi então que eu pensei em Ruínas”, explica o jovem.

“Ruínas não são como o fim, são como reinício”

O nome do trabalho é o mesmo que de uma canção interpretada pela artista da Baixada Aureah Lima, que leva o refrão: “Vou me reconstruir, e me resgatar, à me entregar, mesmo em ruínas, estarei pronto a me lançar, pois o fim não acaba aqui. Ruínas não são como o fim, são como reinício”.

Era exatamente como Lucas se sentia: via a sua luta em querer continuar, apesar de se ver sem nada, e desejar ressignificar o estado em que estava. Então a tela Ruínas se tornou o seu ponto de partida. A mensagem a ser passada é muito além de “agora vou recomeçar, enfim produzir o que eu quero”. A referência para a tela foi a foto de amigos que também sofriam com quadros de depressão profunda.

A história do artista se assemelha com a dos amigos que inspiraram a tela, hoje todos estão bem e recebendo o acompanhamento médico adequado. “As histórias se encaixavam perfeitamente no que eu buscava, no que eu queria falar: a estética da imagem em si, o aspecto de solidão, reflexivo, os tons pastéis e terrosos, o personagem fixo em um lugar mas observando ao redor e vendo que existe algo fora da vida dele. Porque quando eu penso em depressão, é algo que acontece só dentro de você, a solução disso você só encontra quando percebe que existem coisas além da sua mente, porque a mente de uma pessoa depressiva se auto sabota, fica inventando coisas que nem existem e você precisa se pôr de fora e olhar pra dentro de outra maneira”, explica o artista.

Comercialização e ambições futuras

O artista vende suas telas pelas redes sociais a partir de encomendas. Atualmente, a maioria dos seus clientes são casais, famílias, um público mais jovem que geralmente compra para dar de presente para namorados. Estão concentrados principalmente em Duque de Caxias, mas já houveram envios para fora do Rio, como São Paulo e Florianópolis. “Ainda tenho dificuldade de levar o trabalho pra fora daqui. Eu amo Caxias, mas quero alcançar outros lugares”, almeja Lucas. Com as novas criações autorais, a expectativa é expandir sua abrangência para galerias e colecionadores de arte de todo o Brasil.

O artista está conhecendo uma nova forma de trabalhar: a imersão em pinturas conceituais que realmente expressam suas histórias e vivências. Para o futuro não muito distante, Lucas sonha com a oportunidade de realizar suas primeiras exposições. Para isso, segue trabalhando para custear suas produções e pesquisas artísticas, mesmo sofrendo os impactos da crise econômica e do ensino à distância provocados pela pandemia.

SERVIÇO:

Jovem negro da Baixada lança projeto artistico “Ruínas”, colocando na ponta do pincel toda ansiedade e depressão desenvolvida durante o isolamento social. Para visualizar outros trabalhos do artista plástico, acesse: @lucasfinonho no instagram.

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