Jovem do interior do Maranhão se reencontra trabalhando no carnaval da Beija-Flor

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É na Baixada Fluminense, mais precisamente no magnetismo artístico que é o carnaval da Beija-Flor, que um jovem do interior do Maranhão estabeleceu força para viver e sonhar. Ayrton Barbosa, de 23 anos, é natural de Presidente Dutra, no centro do estado nordestino. Em seu primeiro ano de trabalho no carnaval, o jovem narra a trajetória até a escola de Nilópolis.

Viveu por oito anos em São Paulo, depois se mudou para o Rio. Atualmente vive na Vila Cosmos, perto de Vicente de Carvalho, na zona norte da capital. Estudou Moda em São Paulo e Bellas Artes no Rio. Mas a mudança de vez para a capital carioca se deu por motivos traumáticos.

Fui expulso de casa em maio do ano passado [2022]. Aí voltei pra cá pro Rio.”

A história começa com a infância difícil. Ayrton conta que quando ainda era jovem, a mãe foi tentar trabalho e melhoria de vida em São Paulo. Aos 13 anos ele se mudou com a irmã para a capital paulista e relata sobre o susto que tomou com os contrastes entre o interior e a cidade grande.

“Primeiro que o ensino era totalmente diferente, a locomoção. As crianças na cidade evoluem mais rápido pra terem que enfrentar as demandas de viver naquele lugar e comigo não foi diferente.”

A paixão de Ayrton Barbosa pelo carnaval nasceu através da avó. Na infância em Presidente Dutra, no Maranhão, a avó, católica, era a única de uma família majoritariamente evangélica que gostava de carnaval.

“Nas épocas de carnaval a gente fazia uma garrafa de café e ficava assistindo escondido os desfiles das escolas de samba. O primeiro desfile que acompanhei de fato foi o de 2007. Não tinha como eu não virar torcedor da Beija-Flor.”

O desfile em questão foi o do tema “Áfricas: Do Berço Real À Corte Brasiliana”. Os versos “Sou quilombola, Beija-Flor/Sangue de Rei, comunidade/Obatalá anunciou/Já raio o sol da liberdade” ficaram marcados à época do título da escola e da hegemonia da escola de Nilópolis. Dentro da Beija-Flor é um dos desfiles mais lendários, segundo os membros, principalmente pela questão estética.

Ayrton conta que passou a questionar e querer fazer parte do carnaval. Admirava a confecção de cada alegoria, cada fantasia. As perguntas sobre como os profissionais faziam os desfiles e qual caminho tomar para participar também rondavam os pensamentos do jovem.

“Meu Deus! Quero participar do carnaval!”

Depois de adulto notou que o carnaval é um mercado amplo e estabelecido. A carreira profissional poderia se encaixar com a paixão pelo carnaval. “Notei que as pessoas ficam empregadas o ano inteiro, então era possível”, conta.

Em um encontro entre profissionais da Tuiuti e da Beija-Flor em meados de 2022 Ayrton conta ter conhecido Andre Rodrigues, carnavalesco da escola da Baixada Fluminense. Após ter o trabalho notado, os desenhos e designs, André convidou Ayrton para fazer parte do time de criação da Beija-Flor.

“Por medo, eu nunca tinha pedido emprego aqui. Sei como a Beija-Flor é muito fechada pra comunidade. E como não sou da comunidade, por ser de outro estado, nunca passou pela minha cabeça que eu poderia ser aceito aqui dentro.”

Ayrton conta que se depois de tantas reviravoltas na vida encontrou acolhimento na quadra da azul e branco. Por ser filho de Yemanjá, disse se sentir em casa na Cidade do Samba e nas dependências da Beija-Flor por haver muitas referências à entidade no lugar.

Sobre a Baixada Fluminense e Nilópolis Ayrton detalha as impressões que teve quando esteve pela primeira vez.

“Existe uma questão da pobreza muito semelhante à que via no interior do Maranhão, mas dentro da quadra da Beija-Flor tudo se transforma. As pessoas tomam pra si uma energia que foi tirada delas. Há uma energia caótica, no bom sentido da expressão.

Ayrton conta que foi em muitas quadras, mas que o caldeirão que é o refúgio da Beija-Flor torna Nilópolis e a Baixada Fluminense lugares especiais. O jovem conta que o único plano é agarrar as oportunidades que aparecem pela frente.

Sinto que a gente pode perder muito por não se jogar nas coisas. Aprendi desde cedo que o trabalho não vem até a gente, a gente é que tem que ir atrás do trabalho.

Dessa forma os desejos do jovem vindo do Maranhão é levar frescor para o carnaval, sobretudo através da emoção. O carnaval, conta Ayrton, serve pra emocionar as pessoas e é isso que tranforma. A Beija-Flor ficou em quarto lugar e desfilará no sábado (24/02) no tradicional desfile das campeãs junto de Mangueira (5º lugar), Vila Isabel (3º lugar), Viradouro (2º lugar) e Imperatriz Leopoldinense, a grande campeã do carnaval 2023.

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