Feira Livre de Queimados é encontro de domingo entre população e sua memória viva
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Por Thiago Kuerques
Final de semana é época de encher a sacola de frutas, legumes e verduras. As tradicionais feiras livres percorrem todo o território brasileiro. Remetem à idade média, nos comércios da produção excedente dos feudos, segundo artigo dos estudantes da UFRRJ de Nova Iguaçu, Fernandes, Saltoris, Emanuel, Souza e Neves, publicado no VII Congresso Brasileiro de Geógrafos. Frutas, verduras, legumes e a famosa combinação pastelzinho com caldo de cana estão presentes nas feiras das cidades da Baixada Fluminense. A reportagem do Site da Baixada visitou a Feira de Queimados que ocorre aos domingos na Avenida Professor Avelino Xandão por quase um quilômetro de extensão.
A feira já existe desde a década de 50. São barracas que vendem pastéis, carne de sol, pescados, plantas, verduras, camisas, bonés, ferramentas, queijos e frutas. São cerca de 2 mil pessoas fazendo compras a cada edição. Há 35 anos Damiana, de 48 anos, e Shirleide, 47 anos, montam uma barraca com variedades em temperos bem na metade da feira. A dupla conta que os temperos fazem sucesso, principalmente o de ervas finas e os de nome mais bem-humorados como Amansa Sogra.
“Vem gente de fora. Gente que vem visitar parente, gente que vem de outro estado.”
A maior parte da produção presente na feira tem origem no Seasa, no Rio de Janeiro. Mas há também uma boa produção local e livre de agrotóxicos. Em outra barraca, mais próxima a ponta que fica perto da linha de trem e da praça dos Eucaliptos, o senhor Adilson justifica a dificuldade em vender mamão. Afinal, conta o vendedor, a caixa da fruta era vendida a 40 reais agora é vendida a 120 reais.
“Cada mamão tá 5 reais. Sabe o motivo? Culpa das chuvas. O agricultor planta o mamão, joga fertilizante, a chuva leva e brota um mamão ruim. Aí eles reduzem a produção pra não ter prejuízo.”
O preço dos produtos é uma reclamação por toda a feira. Os frequentadores pechincham descontos, principalmente em legumes e verduras. Maria Alice, 56 anos, da barraca de verduras costuma dar dicas de receita para os clientes com a ideia de vender simpatia e fidelizar.
“Alho poró é bom usar também as folhas em carré e frango. Fica uma delícia e as pessoas tem mania de jogar a folha fora.”
As barracas de pastel oferecem a modalidade de rodízio de caldo de cana. Basta pagar o valor de 6 reais e beber quantos copos o cliente quiser. Um funcionário da barraca fica responsável por servir nas mesas ou nos copos de quem está de pé.
Não existe uma oficialização para a feira. Também não existe uma organização em Queimados ou na Baixada Fluminense para que os clientes possam se conectar às feiras. Para saber onde há uma feira livre é mais fácil tentar perguntar a quem vive em cada lugar da região. A melhor frase foi dita por um frequentador da feira que não quis se identificar.
“Aqui é o shopping do pobre. Ninguém sente vergonha de nada.”
Uma das autoras do artigo científico que investigou a feira livre de Queimados é Liziane Neves, 31 anos, de Nova Iguaçu. Mestre em Geografia pela UFRRJ e doutoranda em Geografia pela UERJ, Liziane conta que a escolha da feira de Queimados aconteceu por conta da extensão, da relação dos estudantes com a feira e para pensar a Baixada Fluminense.
“Nós direcionávamos nossos trabalhos a pensar a baixada fluminense como um território de cultura e lazer, diferente da imagem de marginalidade e vulnerabilidade ao qual se referiam as mídias, em especial alguns jornais locais.”
Uma nova publicação do artigo foi realizada e publicada por Camila Fernandes e Flávia Souza em 2014. A Feira Livre de Queimados acontece todo domingo, de 5 às 15 horas, na Avenida Professor Avelino Xandão, centro da cidade.