Um editorial indigesto, porém necessário: a cara de 2022

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Buraco no Jardim Meriti aberto pela Águas do Rio: um morador alimenta o buraco com areia diariamente para amenizar a profundidade. Foto: Wesley Brasil / Site da Baixada.

O primeiro texto opinativo após a retomada do Site da Baixada é sobre um chuveirão. O meu chuveirão, querido leitor, pra ser mais exato. Você deve lembrar da chamada: Um chuveirão trouxe o Site da Baixada de volta à vida e mais coletivo do que nunca. E cá estamos, um ano depois, falando do mesmo assunto.

Parece uma continuação de filme preguiçosa, com o enredo previsível e personagens já muito datados. Se antes nos debruçamos sobre uma falta de água, agora vamos falar de UM buraco.

Sim, UM. Unidade. Único.

Mas calma, não estamos traindo nossa linha editorial, que é focada em macro problemas. Esse buraco é só um exemplo, só um gancho pra uma possível parte três do filme. Mas antes, o chuveirão:

Procurada pela Redação do Site da Baixada a respeito da falta d’água de sábado a terça no bairro Jardim Meriti, em São João de Meriti, a concessionária Águas do Rio se manifestou:

“Os problemas nas complexas redes de abastecimento na Baixada Fluminense são históricos, como é o caso de Jardim Meriti. No entanto, a Águas do Rio está trabalhando desde o primeiro momento para recuperar os equipamentos recebidos e, em seguida, ampliar sua capacidade, trabalhando para levar água a todas as localidades de sua área de atuação.

A concessionária assumiu a operação plena dos serviços de água no dia 1º de novembro de 2021. Em São João de Meriti, esse começo está sendo marcado pela obra de reativação do reservatório de Vilar dos Teles, que ampliará a oferta de água tratada para mais de 40 mil pessoas.

A Águas do Rio completa ainda que trabalhará na recuperação e ampliação do abastecimento de forma contínua, dentro de um planejamento de curto, médio e longo prazo. Com essa perspectiva, São João de Meriti terá um grande marco no saneamento: em até 10 anos, 99% da população terá acesso à água tratada.”

Blá blá blá.

Não fosse a chuva desse domingo que esqueceu de exercer seu papel solar em pleno verão, a frustração seria maior: calorão, trabalhando todos os dias (inclusive aos domingos) para oferecer o melhor portal possível pro nosso território, não iria colocar a pança pra jogo e me banhar nas águas sagradas do chuveirão.

Mais um ano sem o doce prazer do proletariado, também conhecido como chuveirão.

O problema é que agora resolveram abrir um buraco na rua. Pequeno, aparentemente, mas fundo. E a cova parece aumentar com essas chuvas. Um morador tem jogado areia todos os dias, pra amenizar. Procurada na quinta-feira, a concessionária Águas do Rio, proprietária do buraco, informou que resolveria no dia seguinte. Hoje é domingo. O buraco tá lá, com o bocão aberto, bebendo água da chuva e sujando o carro da vizinha – que teve uma parte de sua árvore cortada sem consentimento por funcionários da concessionária, que usaram galhos de seu ipê amarelo para sinalizar o buraco.

Volto ao mesmo questionamento do ano passado, porém com uma adaptação: “quando se abre um buraco sem fechar no bairro com maior IDH de uma cidade, é porque algo está ainda mais errado do que a gente imagina”.

Precisaremos ter coragem pra encarar esse ano

A única conclusão que posso chegar, como editor e fundador do Site da Baixada, é que quando apertar o botão “publicar”, muitas portas vão se fechar – desde a própria Águas do Rio até quaisquer empresas que possam se sentir ameaçadas. ‘Esse pessoal do Site da Baixada gosta de treta’, um setor de marketing pode pensar.

Acho difícil que um funcionário persiga a mim e minha equipe com o celular, como aconteceu na porta da Prefeitura de Duque de Caxias no ano passado, quando estávamos apenas fotografando o espaço público – ironicamente para montar uma cervo de imagens pra quando a Prefeitura enviasse um serviço bom pra população, termos uma imagem pra ilustrar.

Por isso a única maneira de seguirmos em frente é com o apoio dos leitores. O jornalismo sério, que não se curva para os poderosos, precisa ser financiado de forma independente. Estamos incentivando nossos leitores a participar da nossa campanha permanente de arrecadação no Catarse com R$10 mensais.

Queremos mostrar a força que temos para mobilizar pessoas não só pra compartilhar nossas reportagens, mas também que temos um editorial tão relevante a ponto de ser financiado pelos leitores. Provamos isso no ano passado com a campanha com o Enfrente/Benfeitoria e agora queremos ainda mais gente.

O Site da Baixada não é um tapa-buraco. Queremos pavimentar um caminho de produção de conteúdo engajado a favor do território. Por isso fechamos 2021 com uma formação de comunicadores pro lugar que amamos. Por isso insistimos em jogar luz no que é positivo por aqui. Por isso enfrentamos a segurança pública e o descaso de governos com um debate sério e analítico.

Por isso somos o Site da Baixada.

Opinião

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site da Baixada

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