Prefeitura de Belford Roxo criou barreiras para construção definitiva do Instituto Federal

Unidade de ensino depende apenas de liberação de obras pela prefeitura da cidade

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O terreno grande e aparentemente vazio chama a atenção de quem passa pela Avenida Joaquim da Costa Lima, uma das principais de Belford Roxo. Do outro lado da rua funciona o batalhão e alguns metros à frente funciona um CIEP. É um lugar relativamente movimentado e a 15 minutos de carro até a Dutra.

Esse pequeno pedaço do Bairro São Bernardo tem sido alvo de disputas judiciais, após a chegada do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), sendo parte de um projeto estadual para implantação de outros quatro campi: Complexo do Alemão, São João de Meriti, Curicica (Cidade de Deus) e Niterói. Destes, apenas Niterói, São João de Meriti e Belford Roxo saíram do papel, graças ao apoio das prefeituras na época – o anúncio da então presidenta Dilma Roussef aconteceu em 2011.

O terreno foi doado ao IFRJ em 2013 pela Prefeitura, que estabeleceu um plano de metas envolvendo construção e operação. “Essa doação permitiu que fizéssemos várias fases de construção do prédio. A primeira fase são os módulos que existem no terreno. A ideia era permanecerem para o atendimento aos alunos até a construção do prédio definitivo”, explica Rafael Almada, Reitor do Instituto Federal do Rio de Janeiro.

As aulas começaram ainda em 2015, junto da Casa da Cultura na cidade. As aulas também chegaram a acontecer no CIEP 177, que fica a poucos metros do terreno atual.

As coisas saíram do planejado quando o atual prefeito, Wagner dos Santos Carneiro, conhecido como ‘Waguinho’, assumiu a prefeitura em 2017. “Aquele terreno tinha sido doado pelo governo anterior para escola técnica, não era pra construir faculdade não. Eles tinham dois anos. Já estão aí há seis anos e não fizeram nada”, declarou o prefeito, em vídeo para o Blog Alessandra Batista.

“O Instituto sempre dialogou com a prefeitura, mas em 2017 ela entrou na justiça para retomada do terreno. Foi um longo diálogo durante esse período – inclusive sem as licenças de obra. O IFRJ em Belford Roxo só não expandiu porque desde o processo de 2016, onde teve uma licença prévia, não obteve uma licença definitiva da obra. Isso fez com que a gente não conseguisse avançar na ampliação desse campus” – explica Rafael Almada.

A operação tinha recursos federais já destinados para a realização da obra, mas diante do tempo e das barreiras para a construção, agora será necessária uma solicitação ao Governo Federal. Quando a licença for liberada, o Governo Federal poderá destinar os recursos mediante licitação. “O que impede hoje a construção é a liberação da licença para a obra“, explica Márcio Franklin, diretor de implantação do IFRJ Belford Roxo.

Entre os rumores sobre a possível venda do terreno para a construção de um supermercado e as declarações do prefeito a respeito da construção de um Hospital para Mulher, o IFRJ Belford Roxo esclareceu, em nota, que “o IFRJ reforça a importância de construir um Hospital para Mulher, com maternidade e possibilidade de atender com saúde pública o município, mas jamais este movimento poderá ser feito fechando escolas ou reduzindo a capacidade de atendimento do campus”.

“Se não avançamos com as obras, foi porque a própria prefeitura não autorizou. Agora começamos a achar que ela esteja até boicotando as nossas obras para tirar o nosso terreno. Que é nosso: tem escritura, tem projeto arquitetônico, projeto de engenharia. Queremos ficar, construir uma escola sólida, importante e que faça diferença para a cidade de Belford Roxo”, declarou Ana Luisa Soares, Pró-reitora de Extensão do IFRJ.

Em resposta a decisão unilateral da Prefeitura, estudantes marcaram presença em um ato simbólico na manhã desta sexta-feira (12). Diante do ato pacífico, sem confrontos, a unidade foi aberta para a visita da população que conheceu as instalações desta primeira fase de módulos: 3 salas de aula, 1 laboratório de informática, biblioteca, cozinha, banheiros e salas administrativas.

Em 5 anos, o IFRJ Belford Roxo recebeu 1.987 estudantes, como a artista Jéssica de Sá (que trabalha com Anitta), a designer e fotógrafa Amber Luz, os produtores de moda João Victor, Sara Canto, Wlady Rollemberg, a artista e pesquisadora Karina Romano e muitos outros que têm ocupado diversos espaços em secretarias de cultura, museus, empresas na área da moda e outras.

Servindo de base para a indústria criativa brasileira, os estudantes que se formam em Belford Roxo carregam a identidade da Baixada Fluminense em suas criações, transformando em arte um território outrora conhecido pela violência e pelo abandono dos seus governantes.

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