Aos 13 anos, Vitor Oliveira cria mapa de metrô para a Baixada Fluminense

Publicado em:

Por

Alguns amores nascem cedo e se transformam em sonhos. O poeta Carlos Drummond de Andrade uma vez escreveu que “amar sem inquietação é amar sem amor”. É a inquietação que faz a paixão de um jovem de 13 anos perseguir o sonho de ser condutor de composição do metrô, mais especificamente do Metrô Rio. Aos 13 anos de idade, Vitor Oliveira, criou um mapa do metrô para a Baixada Fluminense.

A criação de Vitor ficou popular através de publicação da irmã, Vitória Oliveira, no Twitter no último dia 28. No texto, Vitória fala que o irmão de 13 anos criou um mapa do metrô para a Baixada Fluminense em três dias. Vitória, que é estudante de gerência em saúde na EPSJV/FioCruz, conta que o alcance da postagem foi inesperado.

“Tive ideia de postar porque mostrava pras pessoas mais próximas que o Vitor sempre teve essa paixão muito grande por ônibus, metrô, VLT, bonde. Só que não pensei que fosse viralizar.”

No dia seguinte, conta Vitória, a publicação já tinha 2 mil curtidas. No dia 30 esse número passou de 87 mil. Tudo por conta da paixão incomum de Vitor pelo transporte metroviário. O jovem, que é natural de Tomazinho, em São João de Meriti, conta que desde o início da infância o metrô é uma paixão. A estação mais frequentada é a porta de entrada para a Baixada Fluminense: estação Pavuna. Vitor conta como nasceu a afeição pelo transporte sobre trilhos:

“Bom, desde pequeno eu sempre esperava o metrô chegar perto, eu dava ‘tchau’ pro condutor e ai eu fui pegando metrô toda vez, e ai foi essa paixão.”

Outro fator que estimulou o interesse do jovem foi a vida no local onde mora. De acordo com o jovem, onde mora passa um trem de carga. A linha cargueira corta o coração da Baixada Fluminense passando pelos bairros de Eden, em São João de Meriti, Jacutinga, em Mesquita e Andrade de Araújo, em Nova Iguaçu, por exemplo. O projeto é lúdico, feito por um adolescente. Mas retrata a imagem da ausência de transporte na região.

A linha de trem é símbolo de uma Baixada Fluminense original. Segundo dados da SuperVia, pelo ramal Japeri, um dos mais movimentados do Brasil, passam cerca de 200 mil pessoas por dia. Os outros ramais, Belford Roxo e Saracuruna, recebem fluxo semelhante. Muitos passageiros reclamam da má conservação de algumas composições, dos atrasos, dos intervalos maiores do que o programado, dos preços e da insegurança.

Os trens e ônibus são os transportes públicos que fazem escoar o fluxo de trabalhadores da metrópole. Considerando o metrô, cuja última (ou primeira) estação fica na Pavuna, bairro do Rio de Janeiro que faz fronteira com a cidade de São João de Meriti, ainda é um cenário escasso para uma população de 3,7 milhões de habitantes. Em levantamento do Sebrae de 2016, o número corresponde a cerca de 23% da população do estado. Os números podem ser ainda maiores em 2022, 6 anos depois.

De Tomazinho, Vitor vislumbrou uma Baixada Fluminense com rede de metrô extensa pelo território. O mapa criado pelo jovem possui estação no Shopping Grande Rio, em São João, Vila Centenário, Vila Leopoldina, Gramacho e até Saracuruna, em Duque de Caxias. Outra linha criada por Vitor passaria por Cosmorama, Rodilândia, Queimados e Paracambi.

“Eu simplesmente olhei para a situação dos trens e metrô, vi que estava péssima e comecei a fazer o mapa.”

Ao contrário do que sonhou Vitor Oliveira através da arte, o metrô ganha expansão para a zona oeste da capital. Estações como Antero de Quental e Jardim Oceânico, ampliações da linha 1, custaram cerca de 10,4 bilhões de reais, segundo matéria de Italo Nogueira na Folha de São Paulo de julho de 2016. A obra fez parte da transformação que a cidade sofreu para os Jogos Olímpicos do mesmo ano.

Havia um projeto do Governo do Estado do Rio de Janeiro de utilização da verba do leilão da Cedae para construção de um novo sistema sobre trilhos que ligaria Pavuna a cidade de Nova Iguaçu, beneficiando bairros de Mesquita, Belford Roxo, Nilópolis e São João de Meriti, cidade de Vitor. Mas o projeto não saiu do papel.

“Acho que a SuperVia poderia investir nos trens, na acessibilidade e melhorar os intervalos em todos os ramais, pois é complicado pegar trem do jeito que está hoje.”

O jovem conta que tem planos de refazer o mapa incluindo, por exemplo, Sepetiba e outros lugares de Duque de Caxias. Perguntado sobre qual sonho deseja realizar, Vitor possui uma certeza: ser condutor. Da inquietação com a situação do transporte público na Baixada Fluminense surgiu o amor pelos trens.

Antes da realização do sonho, Vitor matou a vontade de visitar a sede do Metrô Rio meses atrás e tem visita marcada na sede da Companhia Estadual de Engenharia de Transporte e Logística, em Copacabana, na quinta (08).

Os principais assuntos da Baixada Fluminense gratuitamente no seu email.