80% das mulheres ainda iniciam um negócio movidas pela necessidade, aponta Sebrae

A independência feminina na Baixada Fluminense chega pela internet

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“Esse cenário pode ser complementação de renda familiar, necessidade de criar os filhos e gerar renda ao mesmo tempo ou até mesmo como escape de situações de dependência e/ou violência doméstica”, afirma Gláucia Muniz, Analista gestora do projeto de mulheres empreendedoras, do SEBRAE da Baixada Fluminense I.  

O desemprego em 2020 atingiu a marca de 12 milhões de brasileiros de acordo com dados do primeiro trimestre de 2020 divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD). Somente de janeiro a abril deste ano, o número de finalizações de contratos e trabalhos informais chegaram juntos ao equivalente a 898 milhões de pessoas a mais em busca de novas oportunidades.  

Porém, este cenário, apesar de conflituoso para todos, afeta ainda mais as desigualdades sociais presentes no país. O PNAD também apresentou outro estudo sobre a economia no território durante o mesmo período. Entre os mais afetados economicamente, a população feminina e os que autodeclaram pretos e pardos entraram em destaque no ranking da desigualdade. 

A pesquisa mostra que, entre o quarto trimestre de 2019 e o primeiro de 2020, a porcentagem de mulheres fora do mercado foi superior a de homens correspondendo a  14,5% e 10,4%, respectivamente. Na população preta e parda, os números foram de 13,5% e 12,6%, em 2019, para 15,2% e 14%, em 2020. Em comparação à população branca, os dados chegaram a 1,1% de diferença entre os períodos (8,7% para 9,8%). 

Devido a estes números, a necessidade do plano B para o público feminino e, em especial, para pretas e pardas, acaba fazendo parte ainda mais cedo das preocupações cotidianas. O número de empreendimentos comandados por mulheres em 2018, segundo dados de pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), conduzida pelo SEBRAE, é de aproximadamente 24 milhões.

Porém, para Isis França, empreendedora no ramo de festas e bolos de pote de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, começar um negócio sempre foi plano A. Ela afirma que, além de se adaptar melhor definindo a própria rotina de trabalho, as inspirações que teve ao seu redor contribuíram para a iniciativa sair do papel.

“Trabalhar para mim, mesmo eu sabendo das dificuldades, era um objetivo. Nunca gostei de ser mandada por ninguém. Além disso, ser cercada por mulheres guerreiras não só atualmente, mas em toda a minha história contribuiu muito para isso. Saber que as minhas antepassadas não podiam estar à frente de um negócio com um propósito e hoje eu posso foi muito importante para mim”, relembrou Isis.

Já para Thamirys Marques, dona do brechó online Patri7 e moradora de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, foi necessário unir o útil ao agradável. “O brechó nasceu da necessidade de ter uma fonte de renda. Como eu sempre fui social media e sempre gostei muito de brechó, tive a ideia de começar um online. Minha vontade era de ter um negócio bom para a Baixada Fluminense. Eu não conhecia nenhum empreendimento deste tipo com o meu estilo por aqui.

O comércio online é a nova porta do empreendimento

O mercado na internet através das redes sociais ampliou ainda mais o leque de possibilidades para as mulheres que vivem do próprio negócio. “É um fato que o empreendedorismo feminino se utiliza dos meios digitais como forma de sobrevida. Apesar de atualmente não termos dados estatísticos que concretizem esta informação na Baixada Fluminense, posso dizer que esse é um espelho dos negócios liderados por mulheres que atendo no SEBRAE”, diz Gláucia.

Isis conta que a internet foi essencial para que o comércio dela chegasse a novos patamares. Além disso, ela utilizou a ferramenta para divulgar as opiniões do próprio cliente e também publicar sobre iniciativas que ela estava fazendo no dia a dia para ampliar seu conhecimento e melhorar o próprio negócio.

Porém, ressalta a dificuldade que é também lidar com o novo território de expansão do empreendimento. “Temos que estar preparados para o que vai vir de lá. Os comentários nem sempre são bons. Não posso sair respondendo de qualquer forma. Precisamos ir com a cabeça feita e saber lidar com isso”.

O apoio ao empreendedorismo local iniciou após a pandemia do COVID-19. Nas grandes marcas como Submarino e Americanas, a frase “Apoie o comércio local” tornou-se incentivo para os compradores por causa do marketplace – serviço onde empresas utilizam as plataformas de grandes lojas virtuais. Porém, em especial para a população negra, o episódio ganhou força após as manifestações ocorridas no exterior pela morte de George Floyd, homem negro que faleceu depois que um policial de Minneapolis ajoelhou-se no pescoço dele e o levou a óbito, e a temática racismo ter virado pauta nas redes sociais.

“As pessoas começaram a dar mais voz para mulheres negras, principalmente. É claro que essas mesmas vozes foram percebidas depois de coisas trágicas terem acontecido, mas não tira o mérito da causa. As redes sociais também vieram para ajudar” – diz Thamirys Marques

Apesar do cenário complexo que os microempreendedores estão vivendo atualmente, Isis conta que as redes sociais foram grandes aliadas para o negócio. “A pandemia me surpreendeu muito. As pessoas estão valorizando mais o microempreendedor. Nesse momento, por exemplo, eu posso ajudar meus amigos de diversas áreas, um indica o outro nas próprias redes. A internet foi a principal causa para essa solidariedade acontecer e sermos mais recíprocos”, afirma ela.

SERVIÇO
Thamirys
Brechó Patri7
https://www.instagram.com/brechopatri7/

Isis
Tiana Potes
https://www.instagram.com/tianapotes_/
Tiana Festas
https://www.instagram.com/tianafesta/

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