Fogo Cruzado completa 5 anos mapeando tiroteios no Rio de Janeiro e Recife

Mais de 12 mil alertas ajudaram fluminenses e pernambucanos a saírem da linha de tiro

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Fotografia: Pexels/Pixabay

Mapear os habitantes de uma cidade, contar as vezes que operações policiais afetaram a rotina da população, somar pessoas já vacinadas contra a Covid-19: todos esses levantamentos não seriam possíveis sem dados. Foi pensando na falta deles e na importância de estudar segurança pública que o Instituto Fogo Cruzado surgiu com o objetivo de mapear, de forma estatística, os tiroteios e descentralizar o debate sobre violência e criminalidade.

Há cinco anos, o Fogo Cruzado começou a operar na Região Metropolitana do Rio e, desde abril de 2018, na Região Metropolitana do Recife. A intenção era quantificar, de modo sistemático, tiroteios, pessoas baleadas, ruas interditadas e duração dos disparos e dos eventos.

Esses e outros dados não seriam possíveis sem tecnologia. Quase todo mundo está conectado, seja pelo computador ou pelo celular. Para ajudar as pessoas a saírem da linha do tiro, o Fogo Cruzado decidiu usar o celular como principal ferramenta. Por meio dele são dadas informações sobre tiroteios, operações policiais em andamento, ruas e transportes com circulação suspensa.

O Instituto fornece, através de um aplicativo aliado a um banco de dados, mais do que alertas à população. O sistema ajuda a mapear informações e levantar quantas pessoas foram baleadas por dia, por mês e até por ano. Sem esse banco de dados do Fogo Cruzado ninguém saberia que, em cinco anos, foram registrados mais de 40 mil tiroteios/disparos de arma de fogo nas regiões metropolitanas do Rio e do Recife.

A notícia boa é que isto tudo está disponível na API do Fogo Cruzado, em inglês Application Programming Interface (Interface de Programação de Aplicações), uma conexão que integra diferentes sistemas de informação, possibilitando a reutilização e a combinação de dados diversos, e completamente aberta para quem quer explorar essas informações. .

A partir dele, o Fogo Cruzado já emitiu cerca de 12 mil alertas sobre tiroteios em tempo real, que serviram de base para mais de 90 pesquisas acadêmicas. Estes dados ultrapassam o interesse acadêmico e as demandas mostram que toda a sociedade se beneficia pelas políticas públicas mais eficazes na busca de um lugar mais seguro para viver.

A partir de dados do Fogo Cruzado de 2018, foi sancionada no ano seguinte pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, a Lei Municipal 6.609/2019, que garante aos diretores de escolas a suspensão das aulas durante tiroteios para preservar a integridade física dos funcionários, professores e alunos.

Em 2020, com base em um estudo realizado pelo Instituto Fogo Cruzado em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, em 2016 e 2017, a Justiça do Rio determinou que helicópteros da polícia, também conhecidos como “caveirões aéreos”, deixassem de sobrevoar escolas.

Neste ano, em abril, o Fogo Cruzado foi convidado a participar da Audiência Civil Pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal para discutir estratégias de redução da letalidade policial do estado do Rio.

“Os impactos da violência armada são muito mais abrangentes do que os registros criminais apontam e os dados do Fogo Cruzado permitem essa análise, expondo os limites e problemas relacionados às políticas de segurança adotadas no Rio de Janeiro”, comenta a fundadora e diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Olliveira.

Ela afirma que as instituições públicas, quaisquer que sejam, funcionam tão bem quanto os mecanismos de controle externos a elas. “Desvios fazem parte da natureza humana. Por isso, a participação democrática é tão importante. No caso das nossas instituições de segurança, o espaço para monitorar é muito pequeno, a disponibilidade de dados é escassa e o acesso à justiça é restrito para aqueles que mais precisam”, completa.

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