O que o Site da Baixada trouxe na bagagem ao voltar de Salvador – e como isso afeta o leitor
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Por Wesley Brasil
Nos dias 02 e 03 de agosto aconteceu a 2° Conferência de Jornalismo de Favelas e Periferias, organizado pelo Fala Roça em parceria com o Consulado Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro. Entre os convidados estavam jornalistas e comunicadores de favelas e periferias da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro – entre eles, o editor do Site da Baixada, Wesley Brasil (este que vos escreve).
O embarque aconteceu no dia 01 de agosto e a volta no dia 04, o que abriu um leque de experiências em Salvador. Num nível pessoal, trago memórias e uma calma para o dia-a-dia que aprendi rápido com os baianos que tive contato. É um outro ritmo, muito mais agradável, que esse jeito caótico que vivemos na metrópole carioca. Porém não foi só a curtição das ruas do Pelourinho e é sobre isso que vamos falar por aqui.
Olhando para o Brasil a partir da Baixada Fluminense
Na Baixada Fluminense estamos a poucos quilômetros da capital do estado, mas parece que a distância é muito maior que a geografia carioca. Estarmos numa outra região, apesar de praticamente conurbada com o Rio de Janeiro, parece nos colocar distantes de pautas que mesmo nos afetando diretamente, não conseguimos pegar nas mãos.
Os assuntos debatidos em Salvador foram fundamentais. Por exemplo, eu particularmente não fazia ideia da existência do EducationUSA e nem da vontade do governo Norte Americano em atrair talentos para se formarem lá. Também não havia pensado no quanto a regulação das plataformas pode afetar o nosso trabalho realizado por aqui na região: imagina se as redes sociais passassem a nos pagar pelo conteúdo que geramos aqui e as pessoas consomem lá?
Estiveram em Salvador: @vozdascomunidades, @frentemare, @maredenoticias, @sitedabaixada, @nordesteusou, @entrebecos_ssa, @calango_noticias, @coletivofalaakari, @forumgritabaixada, @falamanguinhos, @lume_agencia, @tec.perifa, @territorio_do_bem_2024, @forumgritabaixada, @bem.tv e @sussuaranacity_.
Precisamos falar de um tal ‘jornalismo hiperlocal’
Ainda consumimos mídia de massa, é verdade, mas cada vez mais as pessoas se acostumam com o consumo de veículos mais próximos das suas realidades. Numa escuta recente que fiz por conta da nossa aceleração com Google News Initiative, me deparei com um dado curioso: todos os leitores ouvidos seguem alguma página de internet relacionada ao seu bairro ou cidade, mas nenhum deles reconhecia que essas páginas eram veículos de comunicação com credibilidade – e a maioria apontava apenas o Site da Baixada ocupando este lugar.
Esse papel de carregar informações corretas é ocupado pelo jornalista que apura, ouve as partes, se debruça para a produção jornalística em texto, vídeo, audio, foto, infográfico… E esse é o papel do Site da Baixada, especialmente através do seu olhar amoroso pelo território.
A experiência de Cleidiana Ramos em A Tarde (jornal tradicional na Bahia) escancara o peso do hiperlocal para o país. Oras, mesmo num veículo local, Cleidiana tem escavado histórias de interesse nacional nos arquivos do jornal. Todas as curiosidades daquele pedaço da Bahia me fizeram despertar para a importância de histórias aqui da Baixada Fluminense, desde a inauguração da Guia de Pacobaíba até a relação entre o famoso Arco do Teles no Centro do Rio e o meu tão amado Vilar dos Teles em São João de Meriti.
Mais uma vez o assunto ‘Clima’ precisa estar na mesa
A Mariana Gomes, da Associação de Pesquisa Iyaleta, trouxe atenção para a crise climática, tanto num olhar global quanto local. É fundamental que veículos como o Site da Baixada gerem dados e que estes fiquem disponíveis com facilidade. Quando noticiamos os efeitos de uma chuva numa determinada região, conseguimos compreender, cruzando as informações com outros veículos de outros lugares, os efeitos de alguma grande mudança climática.
Todo o noticiário, quando organizado e levado em consideração pelos governos, pode influenciar diretamente em ações de políticas públicas para alguns lugares. Afinal se uma região à beira de rio sofre com enchentes, uma outra à beira de encostas sofre com deslizamentos- efeitos diferentes de um mesmo evento climático.
Pensando projetos para serem financiados de forma sustentável
Um grande debate entre os participantes foi a questão do financiamento. O jornalismo no mundo inteiro vive uma grande crise há anos, enfrentando sérias dificuldades para se manter financeiramente de pé em todos os lugares. Entre os veículos hiperlocais não é diferente. A maioria das mídias comunitárias é ainda um trabalho paralelo: muitos fundadores têm um segundo emprego para pagar as contas, enquanto pratica o jornalismo por amor.
Entre as discussões sobre isso, as conversas caminham para a captação de recursos junto a fundos investidores internacionais e também a grandes empresas de atuação nacional. O próprio Fala Roça compartilhou sobre a sua experiência ao captar recursos num destes fundos para levantar a sua sede e ter o mínimo de sustentação para seguir em frente.
O encontro no Curuzu explodiu a mente de muita gente: o jornalista Anderson Meneses, diretor da Agência Mural, trouxe uma série de argumentos e caminhos para a captação de recursos com empresas. Talvez o conselho mais simples porém mais prático tenha sido: “seja cara de pau”. É fundamental que as organizações tenham uma boa apresentação, mas também precisam ir atrás de quem investe em comunicação e está alinhado aos valores da organização jornalística.
Como voltamos para o Rio de Janeiro depois disso tudo
Para os leitores mais atentos, que acompanham as redes sociais do Site da Baixada, o canal no WhatsApp e também a minha rede, está mais do que nítido que o Site da Baixada entrou num novo momento.
O olhar para assuntos nacionais e globais está chegando com força nas páginas do SB e estamos cada vez mais empenhados em trazer estas discussões para os leitores. Há um desafio grande para daqui até o final do ano: formar time. Já tivemos uma turma com dez pessoas, todas voluntárias, que deram seu melhor durante a pandemia. Houve um tempo que o Site da Baixada foi um banco de talentos para veículos como O DIA e TV Globo.
Por isso há uma missão importante de inspirar novos talentos a se juntarem nesta jornada e também uma outra missão: captar recursos para custear bolsas, produzir reportagens com freelancers, contratar pessoas e custear ações midiativistas.
O desafio é grande, ainda temos muita coisa pela frente, mas ao lado de outros veículos como os que convivemos em Salvador, o processo seguirá leve e divertido.
E pra quem estiver na empolgação e quiser desde já se juntar a essa história, nosso email segue o mesmo: redacao@sitedabaixada.com.br.