Áreas dominadas pelas milícias cresceram 387% em 16 anos

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As áreas controladas por milícias cresceram de maneira exponencial, como mostra o Mapa dos Grupos Armados, lançado nesta terça-feira (13), em uma parceria do Instituto Fogo Cruzado com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF). As áreas de influência das milícias na Região Metropolitana do Rio de Janeiro se expandiram de tal modo que, das áreas dominadas por algum grupo armado no Grande Rio, metade está nas mãos das milícias (49,9%). Até 2008, milicianos ocupavam 23,7% dessas áreas. Já o crescimento populacional cresceu de 22,5% para 38,8%.

Entre o primeiro (2006-2008) e o último triênio (2019-2021) da série histórica que compõe o Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, as milícias apresentaram um crescimento de 387,3% nas áreas sob seu controle (de 52,60Km² para 256,28Km²). Isso quer dizer que, atualmente, 10,0% de toda a área territorial do Grande Rio está sob domínio das milícias.

Além do crescimento da milícia, foi observado também o crescimento das áreas da região metropolitana sob o controle de algum grupo armado. Ao todo, de 2.565,98 km² de área urbana habitada da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (retiradas a cobertura vegetal, áreas rurais e bacias hidrográficas), 8,7% estavam sob o controle armado entre 2006-2008. Atualmente, mais do que o dobro (crescimento de 131,2%) de área está sob o domínio de algum grupo armado: 20,0% (totalizando 513,86km²).

Os dados do Mapa dos Grupos Armados não deixam dúvidas: as milícias são as principais responsáveis por esse aumento de áreas sob domínio de grupos armados, razão pela qual se tornaram a principal ameaça à segurança pública no Grande Rio. A análise da série histórica permite constatar que a maior parte da expansão das milícias ocorreu por incorporação de áreas onde antes não havia controle territorial algum – e não por meio da conquista de espaços controlados por outros grupos.

Por isso, mesmo com um crescimento de 58,8% das áreas sob o domínio do Comando Vermelho constatado no período (de 130,26Km² para 206,83Km²) e de 41,7% da população (de 1.441.164 hab para 2.042.780hab), houve uma redução de 31,2% na participação da facção sobre o total das áreas controladas (de 58,6% para 40,3%) e 14,2% da população (de 53,9% para 46,2%). O Terceiro Comando Puro, por sua vez, também aumentou sua área de domínio em 110,8% (de 19,70Km² para 41,53Km²) e populacional em 70,3% (de 315.633hab. para 536.683hab), mas teve sua participação total em áreas dominadas reduzida para 8,9% e em populações sob seu controle em 2,5% (de 11,8% para 12,1%). Já a ADA, diminuiu em 65,1% sua área de controle (de 16,13Km² para 5,63Km²) e hoje domina 1,1% dos espaços dominados da Região Metropolitana. Ou seja: apenas a milícia expandiu o domínio territorial e viu sua participação no total de áreas dominadas por grupos armados crescer, o que demonstra o seu potencial de crescimento mais acelerado que os demais grupos. Hoje, a fatia da Região Metropolitana dominada por esse grupos divide-se, da seguinte maneira: 49,9% está sob domínio das milícias; 40,3%, sob o Comando Vermelho; 8,9% com o Terceiro Comando Puro e 1,1% com a ADA.

Entre 2006 e 2021, o Terceiro Comando Puro (TCP) incorporou aos seus domínios 18,45Km², enquanto o Comando Vermelho e os Amigos Dos Amigos, somados, diminuíram em 13,36km² o seu domínio territorial. Isto significa que, mesmo se todas as áreas perdidas pelo ADA e o CV tivessem sido conquistadas pelas milícias, elas representariam apenas 9,7% do aumento territorial observado. Portanto, ao menos 90,3% deste crescimento das milícias se fez em novas áreas, onde antes não havia controle de nenhuma facção.

A movimentação dos grupos armados ao longo de 16 anos é resultado de inúmeros eventos e fatores. Trata-se de um fenômeno complexo que, do nível local ao macro, é influenciado por variados aspectos da dinâmica social fluminense e nacional. Mas ao observar a linha do tempo composta pelo mapa, alguns episódios merecem destaque com relação aos seus impactos, positivos ou negativos: a CPI das milícias (2008), à presença das Unidades de Polícia Pacificadora (2008-2016), a crise socioeconômica, política e fiscal no estado (2014-2017) e crise da gestão da segurança pública no Rio de Janeiros (2016-2019) que levou ao fim da SESEG e a consequente autonomia das polícias civil e militar (2019).

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