Com diretor da Baixada Fluminense, espetáculo “Revolução na América do Sul” estreia 60 anos depois da montagem de Boal

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Com diretor da Baixada Fluminense, espetáculo “Revolução na América do Sul” estreia 60 anos depois da montagem de Boal

Uma das primeiras peças nacionais a colocar a classe trabalhadora no centro da cena sob a ótica da luta de classes, “REVOLUÇÃO NA AMÉRICA DO SUL” está de volta através do Zoom (https://linktr.ee/Revolucaonaamericadosul) a partir do dia 18 de Março. O clássico de Augusto Boal ganha nova montagem 60 anos após sua primeira encenação sob as bênçãos da viúva do dramaturgo, Cecília Boal – que convidou Wellington Fagner para dirigir o texto. Apresentando o operário José da Silva, um representante do povo que mergulha em uma viagem nas contradições de um Brasil injusto à procura de uma solução para a fome que o devora, a dramaturgia que inaugurou o teatro épico sob a perspectiva dialética chega à contemporaneidade sob o olhar do dramaturgista Wellington Júnior.

“Se a classe trabalhadora hoje não é idêntica àquela existente em meados do século passado, ela também não está em vias de desaparição, nem ontologicamente perdeu seu sentido estruturante. A cena teatral contemporânea traz as questões urgentes do hoje, mas sempre em fricção com o passado. Este texto é um clássico da dramaturgia política brasileira e, como todo clássico, está sujeito às novas temporalidades. Boal é nosso Shakespeare com a língua dos três ‘P’ – popular, político e poético”, analisa Junior.

Nesta montagem fazemos um deslocamento dramatúrgico, uma atualização da obra, entendendo que o texto pode ser datado, mas a encenação não. Enquanto a montagem dialoga com a original revelando o olhar dissidente dos que veem o mundo através dos escombros da margem, a encenação intenciona o mundo do trabalho dos anos 1960 e o processo contínuo de precarização da mão de obra trabalhadora. “A reescritura do texto foi realizada a partir de um processo colaborativo em que o elenco tenciona as imagens presentes na dramaturgia de Boal com as referências de uma sociedade precarizada em um capitalismo de guerrilha”, adianta Fagner.

Das mesmas regiões periféricas apresentada no texto, onde vivem os trabalhadores que sustentam os privilegiados da sociedade desigual, saiu o convite de Cecília para a montagem. “Depois de uma parceria com a Fábrica dos Atores, escola livre de teatro que resiste há 20 anos em Nova Iguaçu onde eu e três atores do elenco fazemos parte, Cecília nos fez a proposta. Como eu estava em processo do meu TCC na Uni-Rio, iniciamos uma pesquisa lá com orientação de André Paes Leme. A Uni-Rio foi fundamental. Agora, montamos o espetáculo para o mercado. Não só pelo convite, mas também pela identificação com a obra de Boal”, pontua Fagner.

“O avô Jesael, a avó Josefa, Josélia, os Josés, quantos deles não conhecemos pela vida? E que vivenciam as consequências geradas por um sistema desigual e cruel? A peça revela as engrenagens que resultam na fome e morte de José, assim como o interesse de Zequinha e a frivolidade de políticos diante de uma realidade difícil e opressora. A peça escrita por Boal se aproxima dos dias atuais, pois o sistema continua o mesmo, mas vestido de novas facetas. O trabalho árduo das fábricas está agora próximo do exaustivo pedalar dos entregadores de aplicativos, os autônomos, que ganham uma nova roupagem através das tecnologias. Boal nos lembra que ‘José é mais um que morreu, mas nós ainda não’ e nos alerta e questiona de que, se a vida é agora, o que podemos fazer para mudar essa realidade?”, questiona a atriz Nathalia Cantarino.

Colocar a questão social acima dos dramas individuais, fazendo do palco um lugar que reconhece as vozes dos inconformados, foi o pretexto. “No espetáculo pensamos sobre este novo mundo do trabalho, onde existe um mascaramento de relações assalariadas, que assumem a aparência do trabalho do empreendedor (o famoso MEI), assim como as modalidades de trabalho intermitente. Os direitos desaparecem e isso faz com que a degradação da vida no trabalho no capitalismo do nosso tempo chegue a um patamar que se assemelha, em plena era informacional-digital, à era da revolução industrial”, ressalta Fagner.

Entre tantos desejos da montagem está o de confrontar os discursos oficiais da historiografia. “A paródia e o jogo do cômico são elementos da linguagem da cena que estruturam possibilidades de uma outra forma de contar a história do Brasil. A fome ainda persiste e o capital especulativo domina o país. Temos muito dinheiro, mas não temos a distribuição da renda. Talvez uma grande mensagem desta montagem, formada por artistas, em sua maioria, moradores das regiões periféricas do Rio de Janeiro, será a que nós vamos morrer de fome. Nossa classe passou quase um ano para conseguir um auxílio emergencial. É o retrato de uma política pública que realmente não entende a necessidade da arte e de seus artistas. Mas a grande mensagem é que nós, artistas, estamos vivos – e vamos resistir muito”, encerra Júnior.

 

SINOPSE:

O texto mais importante de Augusto Boal apresenta o operário José da Silva, um representante do povo, à procura de uma solução para a fome que o devora. Este trabalhador mergulha em uma viagem nas contradições de um Brasil injusto.

 

SERVIÇO:

TEMPORADA: 18 a 29 de março – De 5ª a 2ª feira

HORÁRIOS: 18h e 21h

ONDE: Através do aplicativo Zoom

RETIRADA DE INGRESSOS: Pelo Sympla – https://linktr.ee/Revolucaonaamericadosul

O vídeo contará com interpretação de libras e, após a exibição do espetáculo, haverá um debate com o público.

INGRESSOS: De gratuito a R$ 50

50 Ingressos Já – Grátis

10 Ingressos Amigo – R$ 10

10 Ingressos Colaborativo – R$ 20

10 Ingressos Parceiro – R$ 30

10 Ingressos Apoiador – R$ 50

 

Os valores arrecadados serão direcionados às despesas do grupo.

Foto de capa: Joselia Frasao

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