Nova plataforma digital conecta quem procura e quem oferece serviços dentro da indústria criativa
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Para além da lógica de uma ‘agência de empregos’, o {Esquema} é a primeira plataforma que reúne buscadores e prestadores de serviço de todas as áreas da Indústria Criativa em um só lugar. O espaço é virtual e visa intermediar oferta e demanda por profissionais e serviços, conectando trabalhadores autônomos, empresas, coletivos, marcas e instituições através de um banco de dados com filtros customizáveis. Ainda em fase de testes, o projeto inicia sua primeira etapa a partir desta semana.
Para ter acesso aos perfis é preciso realizar a busca através do serviço específico. Qualquer usuário poderá, também, publicar um projeto colaborativo ou montar uma equipe com outros profissionais que também utilizem a plataforma. Inspirado em sites internacionais, no Brasil, a maioria desses dispositivos têm formato de aplicativo e vem ganhando popularidade em outros setores, a exemplo do comércio e da construção civil, mas ainda não possuía uma versão voltada exclusivamente para o mercado da indústria criativa, em especial que contemplasse a área cultural. A Firjan define o conceito de Indústria Criativa como o braço da economia que tem como principal recurso as ideias ou o conhecimento; abrangendo cultura (todas as formas de expressão cultural e artística), consumo (arquitetura, design, moda e publicidade), mídias (editorial e audiovisual) e tecnologia (pesquisa e desenvolvimento, desenvolvimento de software, sistema e afins e biotecnologia).
Neste primeiro momento a área de abrangência é a Baixada Fluminense, com seus 13 municípios localizados na região metropolitana do Rio. Anteriormente chamada de ‘Recôncavo da Guanabara’,a Baixada atualmente é o terceiro maior colégio eleitoral de todo o estado e, de acordo com o IBGE, abriga quase 3,7 milhões de pessoas, o que corresponde a 27% da população da região metropolitana. O produtor executivo e morador de Nova Iguaçu, Matheus Carvalho, aponta que um dos principais problemas em desenvolver projetos culturais na periferia é identificar profissionais que atendam as demandas necessárias e estejam mais próximos.”Isso nos afeta em diversos pontos. Em primeiro lugar porque a grande maioria das ofertas de serviço com maior valor agregado estão na capital, o que já influencia na hora dos contratantes e dos profissionais criativos daqui, de alguma maneira, não priorizarem fechar seus negócios na região e isso acaba gerando um ciclo. Ou seja: além dos desafios corriqueiros dos realizadores nesses espaços, diversas atividades têm dificuldade de se desenvolver e se retroalimentar porque determinados profissionais ou não se colocam à disposição, ou mesmo nem disputam o mercado por suporem que não haja uma produção de qualidade em termos de serviço como na capital”, alerta o fundador da produtora Baixada System.
Ao longo de quase um ano e meio atravessando a pandemia de COVID-19, o setor tem sido um dos mais afetados e para uma das idealizadoras do projeto, Rebeca Brandão, um dos principais objetivos da iniciativa é promover a conexão entre os trabalhadores da cadeia criativa e um amplo mercado que busca por profissionais cada vez mais autônomos e inovadores, dinamizando toda a rede e buscando oferecer soluções para a grande crise que vive a área. ”A cultura, por exemplo, historicamente sofre com a falta de investimentos e de uma distribuição com mais equidade de recursos há décadas. O que acontece na maior parte do tempo é que seguimos reféns de uma estrutura de patrocínio engessada e completamente associada ao marketing cultural de empresas”, aponta a produtora cultural.
Ainda segundo Rebeca, é importante frisar que uma parcela enorme de profissionais que atua nos bastidores depende exclusivamente de suas redes para manter uma agenda de projetos durante o ano — fragilidade que ficou ainda mais clara durante o isolamento social por conta do novo vírus, quando um a cada dois trabalhadores do setor perdeu sua fonte de renda. De acordo com a produtora, a escolha da periferia como primeiro público alvo foi uma das principais condições para que o projeto saísse do papel. ”A Baixada Fluminense sempre foi um importante celeiro de profissionais, iniciativas e instituições culturais. Com a plataforma temos a possibilidade de construir um mapeamento funcional, onde não apenas artistas, mas todos os envolvidos nas dinâmicas das indústrias criativas e culturais, possam acessar oportunidades, construindo entre si e se retroalimentando. O {Esquema} é mais do que uma vitrine para profissionais e projetos de excelência, é uma ferramenta conectando oferta e demanda, em termos de serviços e projetos buscando construir uma rede de realizadores que desperte, inclusive, o interesse de empresas e indústrias locais em patrocinar projetos artísticos, como ativos de desenvolvimento territorial” — conclui a paranaense de 32 anos criada em Nilópolis.
Dados divulgados em 2020 pelo Itaú Cultural detectaram que metade dos postos de trabalho ocupados por profissionais da cultura deixou de existir entre junho de 2019 e o mesmo mês do mesmo ano. O setor reduziu drasticamente de 659,9 mil para 333,7 mil empregos, configurando uma queda bastante expressiva de quase 50%. O estudo também revela a realidade dos trabalhadores informais: eles foram os mais prejudicados da cadeia criativa. Eram quase três milhões em junho de 2019, mas perderam 21,3% de seus postos, caindo para menos de 2.250.500 postos em junho de 2020.
O cantor e compositor Marcelo Peregrino atenta para a importância da disponibilidade de uma plataforma como a do {Esquema} pela possibilidade de avaliar a especificidade de cada profissional, serviço ou empresa. ”Como é que a gente escolhe um profissional? É a partir do seu ‘currículo’, da sua história pregressa, do que ele já produziu. No campo da arte não é diferente, em especial, porque tem muita especificidade. Se é um diretor de cinema, vamos dizer, a linha dele é documental ou fez mais ficção? É um cara mais dramático, é um cara que conta uma história mais pela palavra ou mais pela imagética? Uma maquiadora, por exemplo, é para teatro ou para moda? É pra quê exatamente? Com uma plataforma dessa a gente tem condição de avaliar e ver quem melhor se encaixa no nosso projeto”; destacou o músico de São João de Meriti e, também, um dos criadores do selo musical independente Pirão Discos.
A plataforma já está disponível para testes abertos ao público, assim como os formulários para cadastro e avaliação. A previsão é que até o final deste ano toda a região metropolitana do Rio também seja contemplada. O Governo Federal, Secretaria Especial da Cultura, Prefeitura da Cidade de Nova Iguaçu, Secretaria Municipal de Cultura, FENIG patrocinam esta primeira fase do projeto.
Para visitar: esquema.co
Foto de capa: Lucas Santos.