Elza Soares: “Falar estilhaça a máscara do Silêncio!”
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Por Samuel Souza
E foi isso que Elza Soares fez em toda sua carreira: falou, gritou, berrou, fez da sua garganta alto falante para dizer ao mundo a que veio. E por quem veio. Foi defensora dos direitos da população negra, dos LGBTQIA+ e das mulheres. Foi defensora do Brasil e de todos os brasileiros. Em suas canções trouxe à tona as injustiças sociais, o país que não se vê na TV, denunciou preconceitos e celebrou as vitórias. Como ela mesma disse em uma de suas músicas: “Minha voz uso pra dizer o que se cala!”. A voz do milênio, símbolo de resistência e reexistência.
Reinventar foi palavra constante no vocabulário de Elza. Começou no Samba, passou pelo Jazz, R&B, Rock, Funk, Pop, Rap; e nas últimas semanas estava perguntando “O que é esse tal de Trap? Eu quero ouvir!”, como seu afilhado musical, o rapper Renegado, revelou em uma entrevista. Ela não parou no tempo nem deixou o avanço da idade a parar. Dois dias antes de morrer, aos 91 anos, por causas naturais, em sua recém adquirida cobertura no Rio de Janeiro, estava gravando um DVD com sucessos marcantes de sua carreira. Fazendo o que mais amava e que exigia na letra da canção “Mulher do Fim do Mundo”: “me deixem cantar até o fim, eu quero cantar!”. E seu desejo foi atendido.
Hoje nós é que cantamos para continuar o legado da deusa da Vila Vintém, ícone da música brasileira e dona de uma generosidade imbatível. Em agosto de 2020, a cantora gravou um vídeo parabenizando os alunos da Baixada Fluminense pelo Dia do Estudante. Na gravação, que fez parte do CIEPx, evento idealizado pela Nortear Educ e realizado em escolas públicas da região, Elza diz “que a educação é tudo pra um país. Estudar vale muito!”. Mais um dos vários ensinamentos que Elza Soares nos deixa.
Muito da história de Elza foi contada e reverenciada ainda em vida. No “Musical Elza”, que teve apresentação gratuita, em Duque de Caxias em novembro de 2019, o público pode conhecer mais de sua infância, a relação com a música, os amores e também as decepções. Foram incontáveis as vezes que ela “levantou, sacodiu a poeira e deu a volta por cima”.
“My name is now” (“meu nome é agora”, em tradução livre) ela repetia por todo o canto. E realmente ela é o agora, é o ontem, é o amanhã. Elza Soares é o futuro, o presente e o passado ao mesmo tempo. Brilha por onde estiver, rainha.