Império do Gramacho é bloco de enredo símbolo de resistência em Caxias

A tradicional Estação Primeira de Mangueira possui uma relação fundamental com o bloco de enredo Império do Gramacho. O bloco, que também possui as cores verde e rosa e um dos últimos ainda existentes na Baixada Fluminense, tem 60 anos de história. Foi legalizado em 1972, após 15 anos de existência. Em 2023 chega carregando um clima de retomada com criatividade e solidariedade, de acordo com o escritor e membro do bloco, o caxiense Heraldo HB.

O carnaval da Baixada Fluminense é conhecido pela Beija-Flor de Nilópolis, Grande Rio de Caxias, Inocentes de Belford Roxo, Independente da Praça da Bandeira de São João de Meriti, Unidos da Ponte de São João de Meriti, Unidos do Cabuçu, Império da Uva, Leão de Nova Iguaçu, entre outras. A tradição dos blocos de enredo é antiga. Heraldo HB cita alguns blocos ainda resistentes:

“Bloco Império do Gramacho era muito famoso. Mas bloco de enredo mesmo hoje só tem 4 na cidade [de Duque de Caxias]. Bloco do China ainda consegue botar um bloco na rua mesmo com perrengue. Esperança de Nova Campina também.”

O próprio Império do Gramacho já se chamou Império do Bananal e Bloco da Maloca. De acordo com Heraldo, há registros históricos do bloco que datam de 1961.

“O primeiro samba legalizado, em 1972, foi feito pelo Padeirinho, Pelado e Preto Rico. Quem são? São da lendária ala de compositores da Mangueira. Na época só competia com a Portela. Época dos bambas como Cartola, Zagaia, Pelado, Preto Rico, Padeirinho, Moacir Ameixa.”

O bairro de Jardim Gramacho é vizinho do bairro de Gramacho. O primeiro fica às margens da Baía de Guanabara e estabeleceu um controverso aterro sanitário. Já Gramacho, localizado ao lado, fica às margens da Rodovia RJ-101 e do rio Sarapuí. É onde se encontra a quadra do Império do Gramacho que se divide entre diversas atividades culturais durante o ano e dedicação intensa dos membros e da comunidade em época de produção de desfile para o carnaval. O espaço é equipamento cultural na cidade.

Com o cineclube Mate com Angu, Heraldo HB dirigiu e produziu em 2015 um documentário sobre o bloco. Foi quando o escritor e também cineasta se afeiçoou ao carnaval de Gramacho.

Existe ainda uma federação de blocos de enredo do Rio de Janeiro com verba irrisória da prefeitura do Rio. Segundo representante do bloco, não é possível cobrir despesa de reboque, de transporte que leva os membros.

Então a verba vem de eventos organizados e doação da comunidade.”

O que define o Império do Gramacho é a grande garra. Parar Heraldo, a expectativa para o desfile de 2023 está alta. O enredo deste ano se chama A Festa dos Reis. É o pensamento de uma festa surrealista envolvendo as várias realezas do mundo das artes, do futebol, da religião e da sociedade. O escritor e cineasta conta que os membros do bloco estão criando um carro alegórico que “pras condições, parece uma mega produção”. Muitos estão acreditando que o desfile de 2023 será histórico.

Segundo o presidente da agremiação, Emílio Reis, o trabalho esse ano está especial:

“O samba-enredo bastante cantado e com muitas mãos voluntárias trabalhando na quadra até altas horas. Não tem preço ter uma ajuda tão especial na hora de montar o Carnaval. O que falta de dinheiro sobra em dedicação e criatividade. Essa é a riqueza que esse Bloco carrega nessas décadas todas de existência.”

O sonho é de que as pessoas de Gramacho, que Heraldo confirma ser “uma área de uma galera sem grana e que passa muito perrengue”, possam ter uma vida melhor. Mesmo que em 2023 a coisa esteja diferente, como diz o cineasta, há um elemento fundamental para a vida e a sobrevida do Império do Gramacho.

“O carnaval só tá de pé porque a comunidade chega junto mesmo.”

O desfile do Império do Gramacho será no dia 18 de fevereiro na rua Chile, no centro do Rio de Janeiro. Para quem quiser conhecer a quadra e ver o trabalho sendo montado, o endereço é rua Pedro Lessa, 110, no Gramacho.

Serviço:
Facebook: www.facebook.com/blocoimperiodogramacho