Minidocumentário sobre a Batalha do Bilac expõe a realidade de jovens artistas periféricos emergentes

Documento audiovisual sobre a Batalha do Bilac registra uma geração de novos artistas em Duque de Caxias

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Minidocumentário sobre a Batalha do Bilac expõe a realidade de jovens artistas periféricos emergentes
Batalha do Bilac. Foto: Beatriz Domingos (@beadomingosjpg)

Batalha do Bilac. Foto: Beatriz Domingos (@beadomingosjpg)

O bairro Jardim Olavo Bilac, localizado no primeiro distrito de Duque de Caxias, bem perto da divisa com São João de Meriti, já foi parte de território indígena, para depois se tornar parte de uma fazenda, para mais tarde ser dividido em sesmarias e Freguesias, até se tornar – não sem muita luta e resistência – o que conhecemos hoje. Tal qual em quase todo território baixadense, essa resistência, quase encarada como teimosia, é elemento presente não só em sua formação territorial, mas também na formação psicossocial de seus moradores e moradoras.

Na era da informação, apesar de estar muito distante dos tempos do Brasil-colônia e do coronelismo, esta resistência perante as violências vivenciadas – da falta de direitos básicos ao homicídio propriamente dito – ainda se faz necessária. Segundo o doutor em ciência política pelo Instituto Superior de Pesquisas do Rio de Janeiro – ISER, André Luiz Rodrigues, em seu artigo “Homicídios na Baixada Fluminense: Estado, mercado, criminalidade e poder”, quem tem o poder nas mãos em nosso território é quem mais pratica e perpetua diferentes tipos de violência – no passado e no presente.

“(…) matar é uma ferramenta ordinária e primária de poder. Poder matar é ter poder na Baixada Fluminense. Ou, invertendo a construção para reforçar o ponto: ter poder político na Baixada passa pela franquia ao direito de matar”. [1]

Resistir a este processo de “apagamento” não é simples, porém, é visando essa resistência que movimentos artístico-culturais passam a acontecer em toda a Baixada Fluminense. Trazer o elemento artístico como resgate e respiro desta população, constantemente empurrada para o esquecimento, mas que “teima” em não permitir com que esse processo se conclua é o tema do minidocumentário “Batalha do Bilac – A Arte Salva”, de Eloísa Almeida, estudante baixadense de Jornalismo.

A “Batalha do Bilac” é uma roda cultural promovida por artistas independentes, que acontece na Praça Otávio Carneiro, coração do bairro Jardim Olavo Bilac. Reúne, em suas batalhas de rima, artistas de Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo – e até mesmo locais mais distantes na Baixada, como Nova Iguaçu, em algumas ocasiões – para batalharem tanto em clima amistoso quanto em seletivas municipais e regionais. Também acontecem exposições de artistas visuais e fotógrafos das regiões mais próximas, sempre com bastante empenho e zelo para com as obras expostas.

Com esse movimento acontecendo tão perto de casa, Eloísa diz ao Site da Baixada que a ideia da criação do minidocumentário se consolidava a cada nova experiência com o evento. “A cada Batalha do Bilac que eu ia, a vontade de compartilhar aquela história, de fazer mais e mais registros daquele momento era muito grande. Quando disse que gostaria de contar essa história num documentário todo mundo abraçou a ideia, percebi que já era para ter feito isso antes”, conta Eloísa.

Na obra, são entrevistados alguns dos artistas que fazem parte da organização do evento, como Eufena, R.Diop, Sarda MC e Nigat MC. De forma breve, resume a realidade tanto de quem chega cedo para organizar tudo, quanto de quem vem de outros lugares da baixada para participar das batalhas, ou curtir o show de um artista local, ou talvez ambos.

“Além de admirar muito o pessoal que organiza e participa da batalha, foi um dos eventos culturais onde eu mais vi familiaridade, todo mundo ajuda com o que tiver e se tiver, o evento é de todo mundo que chega e ta’ disposto a participar. Eu acho que arte é isso, partilha, soma e acolhimento, no ruim e no bom”, expõe Eloísa.

O documentário está disponível no YouTube, com 9m25s de duração. Apesar de curto, a jornalista em formação expõe que, da seleção da trilha sonora até os cortes na edição, tudo foi pensado para proporcionar a energia de um dia de evento, levar o espectador para dentro da batalha.

“As pessoas precisam ter ideia do que acontece aqui’ é o pensamento que sempre guia o artista baixadense.”, conclui Eloísa, em entrevista ao Site da Baixada.

SERVIÇO

FICHA TÉCNICA:

Título Original: Batalha do Bilac – A Arte Salva

Direção: Eloísa Almeida (@eloisaoriginal)

Produção: Eloísa Almeida

Imagens: Beatriz Domingos (@beadomingosjpg)

Elenco: Eufena (@eufenareal); Nigat MC (@nigatmc); PBL (@pblbeatz); R.Diop (@rdbxd9); Sarda MC (@sardaktz).

Gênero: Documentário

Tempo de Duração: 9min25s

Ano de lançamento: 2022

Sinopse: O produto apresentado é um documentário que apresenta uma roda cultural que acontece no Bilac, uma favela de Caxias, e como esse evento é um instrumento para transformação das vidas de jovens periféricos por meio da arte.

[1] RODRIGUES, A. L. Homicídios na Baixada Fluminense: Estado, mercado, criminalidade e poder. PENALVA, A. et al. Rio de Janeiro: uma abordagem dialógica sobre o território fluminense / Angela Penalva et al., organização. – Rio de Janeiro: EdUERJ, 2018, p. 118. ISBN 978-85-7511-476-6. Disponível em: https://doi.org/10.7476/9788575115169.

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