Um chuveirão trouxe o Site da Baixada de volta à vida e mais coletivo do que nunca
Quando falta água sistematicamente no bairro com maior IDH de uma cidade, é porque algo está ainda mais errado do que a gente imagina
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Por Wesley Brasil
Domingo, duas da tarde. Depois de uma semana agitada, tudo que um proletário quer é tomar seu banho de chuveirão tomando uma cerveja geladíssima de marca questionável enquanto a carne, ou melhor, a linguiça, fica pronta na churrasqueira. Era pra ser um dia de recompensa pelo trabalho árduo. Uma recompensa que nunca aconteceu.
Antes de explicar essa história, por favor deixe-me apresentar: sou Wesley Brasil, editor e fundador do Site da Baixada. A ideia original em 2006 era criar um portal pra falar do território, atrair audiência e eventualmente negociar mídia. Mas a última parte nunca deu muito certo. Na verdade, a única coisa que lucrei com essa história foi justamente a história – tanto essa jornada dos últimos 14 anos quanto a história da Baixada Fluminense.
Oras, a gente só consegue amar o que conhece. E quanto mais conheci a Baixada Fluminense, de ponta a ponta, mais aprendi a amar desse lugar.
Comecei a entender o território como destino, e não caminho.
Perceber que a Baixada Fluminense é mais do que um lugar pra dormir ou ainda um lugar pra ir embora, confesso, leva um certo tempo. Não sei precisar quanto tempo precisei, só sei que guardo memórias bem legais depois de quatorze anos com esse corre.
Num dado momento, após o nosso fracasso com uma campanha de financiamento coletivo, o Site da Baixada foi lentamente reduzindo as suas atividades até chegar num ponto onde ‘respirava por aparelhos’. Ele passou a ser um mero divulgador de releases que chegavam prontos no email da Redação, sem gerar assunto nem propôr o debate.
Querido leitor, por favor entenda o cenário: o Site da Baixada sempre foi uma atividade paralela enquanto eu me equilibrava com trabalhos que mantinham as contas em dia.
Mas em dezembro de 2019, depois de uma semana cansativa, me vi contemplando o chuveirão do meu quintal. Ele é conectado com a água que vem direto da rua, sem passar pela caixa d’água. Um calorão danado e aquele chuveirão seco. “Se meu bairro, que tem um IDH alto, tem esse tipo de problema, como devem estar os outros?” pensei na hora.
Bateu a bad.
Veio um filme na cabeça, com os tantos lugares incríveis e também os lugares tão carentes que conheci no território. Os tantos rolés (com acento agudo, por favor) que me fizeram enxergar a Baixada Fluminense como um país – desigual, por sinal, se tornando um retrato do Brasil.
Desde então nada foi igual. O SB voltou a publicar conteúdo, em janeiro nasceu o Baixadacast e antes do carnaval o papo sobre um possível financiamento recorrente se tornou real. Quando o primeiro doido disse que ajudaria, o tal do Thiago Kuerques, criei coragem e mergulhei. Havia acabado de largar o emprego. Era tudo ou nada. Uma nova história estava sendo escrita.
Mas o dia 16 de março veio pra todos, anunciando o lockdown por causa do novo Coronavirus.
Nem a pandemia, agora oficial, foi suficiente pra nos fazer parar. Pelo contrário. Começou a vir gente tão doida quanto eu querendo participar do Site da Baixada. Quando nos demos conta, éramos oficialmente um coletivo. Oras, o SB sempre foi um ‘inconsciente coletivo’ como eu dizia. Muita gente somava com o corre. Mas agora nos tornamos algo mais. Além do Thiago, mais gente veio ajudar a escrever essa história. Só ver nosso expediente atual ou navegar pelos posts do nosso Instagram ou o nosso Catarse com os assinantes que tanto apoiam esse corre.
O Site da Baixada existe pra ‘mostrar a Baixada Fluminense que você ainda não conhece’. Pra ser o aliado da cultura do território. Pra disputar a narrativa quando falarem mal daqui. Pra ser uma fonte confiável pra imprensa tradicional. Pra propôr um outro olhar sobre o nosso lar. Pra ser uma plataforma capaz de contar histórias e transformar a vida de pessoas criativas.
E também pra reclamar que não tem fornecimento de água no Jardim Meriti entre o sábado de noite até a terça-feira de manhã.
Te prepara, CEDAE.
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Essa é a primeira coluna deste novo momento do Site da Baixada. No passado o portal teve uma área de blogs, que não está mais no ar. Agora as colunas funcionarão por convite: a Redação do SB irá selecionar um assunto e apresentá-lo a uma pessoa com autoridade para falar sobre ele de forma pontual – sem colunistas fixos. Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a posição do portal.
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