Trauma de assassinato é transformado em esperança através da educação infantil em Queimados

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Trauma de assassinato é transformado em esperança através da educação infantil em Queimados

Ana Claudia do Carmo, mais conhecida como Aninha, faleceu aos 31 anos, vítima de assassinato a caminho da igreja que frequentava, no ano de 2005. Um mês após a Chacina da Baixada Fluminense, marcada nas páginas dos jornais e na população da região. Uma realidade de diversas localidades brasileiras, principalmente as periféricas e ainda desprestigiadas pelo poder público. É a partir da frase do educador Paulo Freire que as histórias podem começar a mudar. Freire dizia que “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Após 17 anos, Ana Claudia do Carmo segue parte da transformação e dará nome a uma creche em Vila Tinguá, bairro de Queimados.

A porta-voz da história é Jéssica Pollyane, 32 anos, sobrinha de Aninha e professora há 14 anos em Queimados. O envolvimento familiar com a educação começou com Irene Souza do Carmo, avó de Jéssica, mãe de Aninha. Irene é falecida professora do município de Nova Iguaçu e figura reconhecida na Baixada Fluminense. Em 1977 fundou a Escola São Sebastião, voltada para a educação infantil em Queimados, onde Jéssica trabalha.

Ana Claudia do Carmo foi professora da rede estadual por 10 anos no Ciep Roquete Pinto. Atuou por 2 anos como professora no Ciep Joaquim de Freitas. Também exerceu a profissão de psicóloga. Jéssica afirma que desde a fundação a escola funciona em prol da comunidade e possui como princípios básicos a educação, aprendizagem, amor, atenção e cuidado. A própria família atua em torno da instituição. Sheila Patrícia, Vilma Fátima e João Rodrigues do Carmo, viúvo de Irene, são exemplos de atuação familiar. Jéssica conta, inclusive, que a escola foi construída por João.

Lutamos por justiça durante anos, organizamos passeatas, mas infelizmente não tivemos nenhuma solução ou resposta até hoje.”

Jéssica conta que a ideia de transformar a tragédia em esperança foi de Zilda, ex-diretora do Ciep Roquete Pinto e amiga e admiradora de Ana. A creche a ser inaugurada em breve carregará o nome de Ana e um pouco de cada professora da família, conta Jéssica Pollyane.

Segundo dados da prefeitura de Queimados, são 30 escolas e 3 creches públicas. No total são 71 escolas no município. A educação ainda é um setor da sociedade com grande exigência de investimentos, principalmente na Baixada Fluminense. A realidade de muitas famílias da região é a necessidade de realização de trabalho presencial, muitas vezes distante do lar, sem ter como gerenciar os cuidados com crianças pequenas. A creche supre a necessidade de diversas famílias de Queimados.

“Infelizmente a realidade no ensino é de extrema carência, muitas famílias não têm acesso ao básico o que aumenta mais ainda a dificuldade de nossas crianças. Muitos alunos precisam da escola pra tudo, mas principalmente para se alimentar. É uma dura e triste realidade.”

Ainda em obras, a creche Ana Claudia do Carmo tem previsão de inauguração para 2024 e contará com 4 turmas divididas por idade além de salas de informática e multiuso. A capacidade será de acolhimento de cerca de 100 crianças. O local contará ainda com área de repouso, lavanderia, área de recreação, sala dos professores, administração e almoxarifado. O projeto prevê construção com acessibilidade visando a facilitação no atendimento às crianças com deficiência.

“A construção dessa creche terá um impacto gigantesco para tantas famílias que precisam sair para ganhar o pão de cada dia e não têm com quem deixar seus filhos.”

A Creche Ana Claudia do Carmo é o símbolo de reinvenção das tragédias urbanas. Professores atravessam caminhos, possuem caminhos atravessados. Já creches se estabelecem no meio da estrada da vida de quem necessita. Seja através de Irene, Ana Claudia ou Jéssica. Queimados agradece.

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