FAETEC vai fechar Escola de Artes Técnicas Paulo Falcão em Nova Iguaçu

Unidade é espaço importante de formação profissional na cultura, impactando alunos e profissionais da Baixada Fluminense e toda a região metropolitana.

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FAETEC vai fechar Escola de Artes Técnicas Paulo Falcão em Nova Iguaçu

Fachada atual da EAT Paulo Falcão. Foto: Wesley Brasil / Site da Baixada.

A decisão de incorporar a Escola de Artes Técnicas (EAT) Paulo Falcão ao Centro Vocacional Tecnológico (CVT) Nova Iguaçu tem gerado apreensão entre alunos, ex-professores e funcionários. A unidade, conhecida por sua relevância na formação de profissionais da indústria cultural e do entretenimento para todo o estado, enfrenta um processo de esvaziamento que culminou na paralisação dos cursos e na incerteza sobre seu futuro.

Sucateamento e falta de comunicação com servidores

O processo de encerramento da EAT Paulo Falcão vem sendo comentado há alguns anos, mas foi apenas recentemente que os servidores tiveram acesso às informações de maneira oficial. Os funcionários da unidade souberam da decisão através das redes sociais e da troca de mensagens entre colegas de trabalho. Até mesmo membros do setor de Recursos Humanos da FAETEC foram pegos de surpresa, o que evidencia a falta de transparência no processo.

O diretor da unidade, José Carlos Muniz, que trabalha na FAETEC há 27 anos e está na EAT desde 2019, afirma que o esvaziamento da unidade não é recente. Segundo ele, a retirada progressiva de cursos e professores aconteceu ao longo dos anos, resultando na atual situação de paralisação. “Uma escola sem alunos é uma escola morta”, lamenta Muniz, que tentou reverter a decisão ao levar o caso ao governador do Estadomas não teve sucesso.

Infraestrutura reformada, mas sem utilização

Unidade foi reformada, mas parou de receber cursos e professores abrindo caminho para a incorporação do CVT. Foto: Wesley Brasil / Site da Baixada.

Unidade foi reformada, mas parou de receber cursos e professores abrindo caminho para a incorporação do CVT. Foto: Wesley Brasil / Site da Baixada.

Apesar do fechamento iminente, a unidade recebeu uma grande reforma em 2023. O teatro da escola foi completamente renovado e equipado, um contêiner novo foi instalado na entrada da unidade e uma padaria foi estruturada para cursos de panificação. No entanto, esses investimentos nunca chegaram a ser plenamente aproveitados. Até o momento, o contêiner nunca foi utilizado e a padaria permanece sem atividades. O teatro, que serve também como sala multiuso, ainda teve um último suspiro com uma festa de halloween no ano passado.

A falta de um evento oficial de reinauguração também reforça as suspeitas de que o fechamento da unidade já estava nos planos antes mesmo da finalização das obras.

Unificação das unidades

O processo de unificação da gestão da EAT Paulo Falcão e do CVT Nova Iguaçu está sendo conduzido pela Vice-Presidência Educacional da FAETEC. Documentos internos revelam que três modelos foram considerados:

  • Um modelo híbrido, onde as unidades manteriam individualidade administrativa;
  • Um modelo de absorção, que extinguiria uma das unidades;
  • E um modelo de nova entidade, que resultaria na criação de uma nova instituição.

A decisão tomada foi pela incorporação da EAT pelo CVT, que, de acordo com relatos, passará a focar em cursos da área de beleza.

Briga política na Faetec

A mudança também levanta questionamentos sobre influências políticas no fechamento da unidade. A gestora do CVT Nova Iguaçu, Márcia Cardoso, é ligada ao deputado estadual Anderson Moraes (PL). Cardoso se manifesta publicamente nas redes sociais a favor do clã Bolsonaro, que Moraes apoia. Além disso, a página do CVT Nova Iguaçu no Facebook tem diversas publicações com a imagem de Anderson Moraes.

O deputado Anderson Moraes já demonstrou apoio ao fechamento de outras instituições de ensino, como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O sucateamento da EAT Paulo Falcão teria se intensificado durante a gestão de Caroline Alves, também associada ao grupo político do deputado, de acordo com fontes ouvidas pelo Site da Baixada.

Por outro lado, o diretor Muniz procurou o deputado estadual Carlinhos BNH (PP), também de Nova Iguaçu, que se posicionou a favor da permanência da EAT Paulo Falcão e tenta mobilizar apoio para impedir o encerramento definitivo das atividades.

O que diz a Faetec

A Coordenação de Comunicação da Faetec respondeu os questionamentos do Site da Baixada com a seguinte nota:

“A Faetec informa que a Escola de Artes Técnicas Paulo Falcão, atualmente denominada Faetec Nova Iguaçu – Unidade Paulo Falcão, será incorporada à Faetec Nova Iguaçu – Unidade Centro. Uma vez que ambas ocupam o mesmo imóvel, essa medida otimiza o uso dos recursos públicos, garantindo maior eficiência na gestão da Fundação.

A fundação esclarece que não há a possibilidade de renovação dos contratos encerrados, porque isto já estava previsto no edital e em conformidade com a Lei 6901/2014. Ainda assim, a Faetec já deu início ao processo de substituição, tendo realizado a primeira convocação de novos profissionais no final de fevereiro, com novos chamamentos programados para março.

Quanto aos cursos mencionados, a Faetec já convocou os docentes das áreas de artes cênicas e maquiagem de caracterização, porém, até o momento, nenhum professor compareceu para assumir as vagas. A Faetec está empenhada na continuidade das atividades e os cursos não serão descontinuados.”

Em visita à unidade, o Site da Baixada constatou que os imóveis são diferentes, sendo apenas vizinhos mas sem conexão direta.

Impacto para os alunos e a indústria cultural

Teatro / Sala multiuso passou por reforma, incluindo instalação de ar-condicionados e outros recursos. Foto: Wesley Brasil / Site da Baixada.

Teatro / Sala multiuso passou por reforma, incluindo instalação de ar-condicionados e outros recursos. Foto: Wesley Brasil / Site da Baixada.

A EAT Paulo Falcão teve um papel importante na formação de profissionais da área cultural e do entretenimento, atendendo a demandas de emissoras de TV e da indústria do carnaval. Cursos como aderecista, camareira e interpretação teatral ajudaram muitos alunos a ingressarem no mercado de trabalho e em universidades, como a UNIRIO.

Atualmente, ex-alunos enfrentam dificuldades para obter certificados de conclusão dos cursos. O sistema da FAETEC apresenta erros, e a unidade, apesar de ter enviado as informações necessárias, não consegue resolver o problema.

Mobilização popular atraiu mais de 350 assinaturas em poucas horas

Nas redes sociais, o ex-professor Guarnier publicou um vídeo que detonou a discussão também no meio presencial. Em declaração ao Site da Baixada, Guarnier afirma:

“Se essa escola fechar, não só Nova Iguaçu, mas a Baixada e a Região Metropolitana do Rio vai perder um aparelho que é muito significativo, que é muito importante. Ele tem muito potencial, formador. Ele tem público.”

Para mostrar o poder de mobilização da unidade, foi criada uma petição no change.org a favor da reestruturação da Escola das Artes Técnicas Paulo Falcão. O grupo liderado por Guarnier afirma na petição que “Este é um chamado para sensibilizar o governo do Estado do Rio de Janeiro e reivindicar a reestruturação e investimento na Escola das Artes Técnicas Paulo Falcão – FAETEC. É crucial para o patrimônio artístico e cultural da região que a instituição permaneça forte e vibrante”.

Futuro incerto

Com a iminente incorporação pela unidade do CVT, há temores de que a formação técnica em artes seja descontinuada na Baixada Fluminense. Para o diretor Muniz, essa decisão faz parte de um processo maior de desvalorizacão da arte no Brasil. “Eu acredito que esse país não valoriza muito a arte. Quando você cala a arte, a cultura, os movimentos sociais, você está calando a voz e a vez de alguém em prol daquilo que você acredita”, afirma.

Enquanto o fechamento se concretiza, quatro funcionários seguem comparecendo à unidade e cumprindo sua carga horária, mesmo sem atividades acadêmicas em andamento.

O destino final da EAT Paulo Falcão e de seu legado ainda permanece indefinido.

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Um comentário

  1. Anônimo disse:

    Sem dúvidas que uma escola a menos faz diferença! Esses políticos tinham que se empenhar mais em ter mais atividades para o povo da baixada, não em diminuir as possibilidades, visto a educação estar em decadência, o que pode se esperar que reste para a população menos favorecida? O povo precisa de opções de crescimento não ao contrário!
    Se não for assim a tendência é mais ainda crescer a violência e o tráfico!

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