Coronavirus: organizações e lideranças assinam carta cobrando medidas a favor da Baixada Fluminense
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A população da Baixada Fluminense está preocupada com os riscos que a pandemia de coronavírus traz para região. Com problemas históricos de violação de direitos e desigualdades no acesso a direitos básicos, os moradores da região temem que o cenário se agrave ainda mais.
Neste sentido, cerca de 100 coletivos, organizações, lideranças sociais e iniciativas, de 13 municípios da Baixada Fluminense, estão empenhados em combater a disseminação do novo coronavírus (COVID-19) e têm propostas para enfrentar a crise nesse momento de pandemia.
O Site da Baixada é uma das organizações que assinam esta carta.
Para Douglas Almeida, coordenador de mobilização da Casa Fluminense e morador de São João de Meriti, pouco vem sendo falado sobre a situação da Baixada Fluminense no contexto da pandemia do Coronavírus. “Vemos muitas pessoas ainda circulando nas ruas normalmente, mesmo com as medidas de isolamento domiciliar. Ouvimos também pessoas relatando nos seus bairros que estão com os sintomas, mas que não consegue fazer o teste. Por isso, precisamos pautar de forma articulada medidas de prevenção na região da Baixada Fluminense”, afirmou o Douglas.
Com objetivo de articular iniciativas que estão acontecendo na região, o #CoronaNaBaixada está trabalhando em três frentes: (i) compartilhamento de experiências de solidariedade local; (ii) elaboração e divulgação de estratégias para orientar os moradores da Baixada a ficarem em casa; (iii) interlocução com a mídia para visibilizar o dia a dia nos municípios e com o poder público, acompanhando as medidas que estão sendo adotadas.
O #CoronaNaBaixada elabora uma carta manifesto com 7 propostas direcionadas às prefeituras e ao Governo do Estado para garantir direitos à população da Baixada Fluminense. A articulação segue recebendo mais adesões no formulário online (clique aqui para acessar), divulgado pelos perfis e canais dos signatários.
Confira abaixo o texto da carta #CoronaNaBaixada:
A pandemia do coronavírus (COVID-19) é algo novo para todas as gerações. Mas diversos problemas na Baixada Fluminense já existem antes da pandemia e com ela podem se agravar.
Na Baixada, infelizmente, é histórico o processo de violação de direitos. A população pobre, preta e periférica, moradora dessa região, sofre com a violência, desemprego e precarização do trabalho, baixo número de leitos disponíveis e problemas no acesso à saúde, falta de saneamento (água potável, coleta de esgoto, coleta de lixo), adensamento habitacional excessivo (mais de 3 pessoas dormindo no mesmo quarto), dentre outros.
Infelizmente, a infraestrutura e as condições não são boas, propícias para a proliferação do coronavírus. Mas os governos e a sociedade têm que entender suas responsabilidades para evitarmos a expansão do número de casos. Hoje, temos poucos, mas é necessário prudência e atenção. Muitas denúncias chegam de pessoas com sintomas que não foram testadas, inclusive que vieram a óbito. Há prefeituras que estão se esforçando para seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das autoridades sanitárias, mas algumas ainda não entenderam a gravidade da situação ou preferem seguir as orientações desastrosas do presidente da República, com isso não implementaram medidas sérias para o isolamento e informação aos moradores, estando na contramão das orientações da OMS.
Nesse momento de crise, precisamos que as prefeituras da região façam ações coordenadas com o Governo do Estado, buscando soluções conjuntas numa região onde a circulação entre os municípios é bem comum. O vírus não conhece nossas divisas.
Reforçamos que seja garantido à população da Baixada Fluminense:
- A recomendação da OMS de realização de testes em pacientes com sintomas do novo coronavírus, inclusive os casos leves, testando o máximo de pessoas possíveis para que haja o isolamento adequado de quem estiver contaminado com o COVID-19.
- Medidas de redução da circulação e aglomeração de pessoas, sem uso excessivo da força, seja no comércio, indústrias, transporte público, templos religiosos e também nos bairros residenciais. Garantir o isolamento dos idosos e das pessoas com doenças crônicas, como hipertensos e diabéticos.
- Renda para trabalhadores informais e formais que tiveram seus contratos suspensos ou foram demitidos. Reforçar a importância que os municípios e o estado pressionem o governo federal por medidas de transferência de renda, como a efetivação da proposta de renda básica emergencial, sugerida por um conjunto de organizações no Brasil. É importante que a medida beneficie as famílias dos estudantes da rede municipal com renda inferior a 1 salário mínimo.
- O acesso à água potável, em meio a diversas denúncias de falta d’água em vários bairros da Baixada Fluminense. Além disso, fazer a higienização periódica das ruas.
- Insumos para a população em situação de rua, pessoas com deficiência e às populações favelada e periférica, tais como: álcool gel, máscaras faciais de proteção descartáveis, copos descartáveis nos bebedouros, produtos de higiene pessoal, além de outros que sejam indicados pelos gestores de saúde pública e órgãos integrantes do Sistema Único de Saúde. Garantir que não haja cobrança abusiva desses insumos e dos produtos da cesta básica.
- Que a Política de Segurança Pública seja pautada por ações articuladas, na lógica de inteligência e não de operações cotidianas, visando otimizar e integralizar as medidas de prevenção ao COVID-19. A preservação das vidas deve ser prioridade, impedindo a violação de direitos, para que não haja o fortalecimento de milícias e outros grupos criminosos.
- Serviço de monitoramento que possibilite, em acordo com as recomendações sanitárias de proteção contra o contágio, identificar e intervir em situações de violência doméstica e outras formas de abuso contra mulheres, crianças e adolescentes, população LGBT e outros grupos vulneráveis em função do período de isolamento social/quarentena, além de reforçar a Patrulha Maria da Penha.
Clique aqui para fazer download da carta original em formato PDF.