As batalhas do jovem negro Wesley Peixoto para conquistar o diploma no ensino superior

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As batalhas do jovem negro Wesley Peixoto para conquistar o diploma no ensino superior

Vestir a beca, receber o diploma, respirar de alívio. As sensações descritas ainda são muito distantes para muitos moradores da Baixada Fluminense. São inúmeras dificuldades: acesso ao ensino de base de qualidade; custeio de deslocamentos; necessidade de usar a maior parte do tempo para dedicação ao trabalho; distância dos cursos e universidades desejados, entre outros. É a realidade de Wesley Peixoto, 24 anos, de Belford Roxo, que conseguiu o sonho graças às vendas de doces durante a época da faculdade.

Wesley relata a experiência de sobrevivente que remou contra a maré. O jovem conta ter trabalhado como jornaleiro aos 16 anos. Também como animador de eventos, como voluntário nas Olimpíadas e Paralimpíadas do Rio de Janeiro, realizadas em 2016. Wesley Peixoto estudou em um espaço chamado Pré-vestibular para Negros e Carentes (PVNC), no Bairro Vila Operária, em Nova Iguaçu. Segundo dados do portal do PVNC, o pré-vestibular é uma organização fundada em 1993, na Baixada, justamente com o objetivo de enfrentar a luta contra a desigualdade social e discriminação social no âmbito do ensino superior.

O ingresso de Wesley na faculdade de Serviço Social ocorreu através do Enem com bolsa integral pelo ProUni. A localização da faculdade, em Duque de Caxias, tornou o trajeto com transporte público saindo de Nova Iguaçu demorado e custoso. Segundo Wesley Peixoto, a universidade só oferecia auxílio transporte, o Bilhete Único Universitário, para residentes na cidade do Rio de Janeiro.

“Então a minha falecida avó paterna, Maria de Lourdes, me ajudou até o segundo período da faculdade, em 2015, quando estava no final do período ela faleceu. Eu não sabia o que fazer, coloquei a mão na cabeça e disse: -“o que vou fazer agora?”. Foi daí que pedi forças e ajuda a Deus e comecei a pensar em estratégias que podiam me ajudar a finalizar.”

A trajetória de Wesley ressalta as dificuldades enfrentadas pela população da região. Após tentativas de trabalhados formais e informais, o jovem relata que o apoio familiar foi fundamental para que pudesse lutar por oportunidades.

“Em 2016, eu meio que perdido de como ia seguir a faculdade, vi um pote de paçoca e decidi que ia vender doces para pagar a passagem pois estava desempregado. E assim foi, peguei ali o pote de paçoca, levei pra faculdade e comecei a vender no intervalo. Muita gente não compreendeu.”

Com a venda de paçoca, jujuba, bananada, bala de amendoim e bala de doce de leite, Wesley passou a comercializar além dos intervalos da faculdade. De bicicleta e com o desejo de concluir a faculdade de Serviço Social, o jovem passou a vender também de porta em porta em lojas de Heliópolis, em Belford Roxo, e em Caioaba, Rancho Novo e na região da estrada Iguaçu.

“Isso foi do 2º ao 8º período. Fiz 3 estágios na UPA Infantil em Caxias sem remuneração. Lá tive uma ótima supervisora de estágio chamada Claudia Valéria. Na faculdade recebia apoio dos professores e na minha família de todos, até da minha mãe Luciana.”

O diploma foi conquistado em 2018 com Trabalho de Conclusão de Curso sobre racismo e a relação com o Serviço Social. Depois de formado, o jovem seguiu vendendo doces e trabalhou em uma empresa de ferragens na zona norte do Rio até conseguir vaga na área de formação. Foram as vendas de doces que, segundo o jovem, proporcionaram a sequência na vida acadêmica. O ingresso no Mestrado em Relações Étnico-raciais, no Cefet, campus Maracanã, ocorreu em 2019. A linha de pesquisa de Wesley Peixoto, também conhecido como Wesley dos Doces, se relaciona com a própria história de vida.

“Estou finalizando [o mestrado em Relações Étnico-raciais] falando sobre trajetórias escolares dos jovens negros. Essa é minha história. Acredito que [contá-la] ajudará muitos jovens a não desistirem dos seus sonhos.”

Atualmente Wesley Peixoto trabalha com Serviço Social na Secretaria Municipal de Assistência Social, Cidadania e da Mulher (SEMASCM), em Belford Roxo. Um dos fatos mais importantes, segundo Wesley, é o retorno ao curso Pré-Vestibular onde estudou. Hoje Wesley Peixoto é professor de sociologia na Vila Operária, em Nova Iguaçu. O espaço possui no quadro de professores um grupo extenso de ex-alunos da instituição.
Wesley Peixoto, formado em Serviço Social, se considera corajoso e batalhador sem, segundo ele, entrar na questão de meritocracia.

“Sou alguém que arregaçou a manga pra conseguir chegar aqui.”

Professor e assistente social, o jovem vive de aluguel junto da mãe, Luciana Paulo, em Belford Roxo. Entre as batalhas da vida, muitas foram vencidas mas, segundo Wesley, ainda há muita luta. O grande sonho é algo muito comum entre os brasileiros: conquistar a casa própria.

SERVIÇO:
Pré-Vestibular para Negros Carentes – Vila Operária, Nova Iguaçu: 21 2667-7190
Facebook: Wesley Brownn
E-mail: [email protected]
Instagram: @wesley_brownnn

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