Mulher transforma desilusão em doce e acolhimento na Baixada Fluminense

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Mulher transforma desilusão em doce e acolhimento na Baixada Fluminense

Há quem diga “minha história daria um filme”. O gênero, neste caso, é o drama ou a comédia romântica. Marina Kubrusly, nova moradora de Nova Iguaçu, vende doces na região do Jardim Tropical, Califórnia e centro de Nova Iguaçu, região que mal conhece, para sustentar o custos da formação em curso superior. Marina não conhece Nova Iguaçu, perdeu emprego e foi abandonada pelo marido. Algo inimaginável há cerca de 6 meses, segundo ela.

“Caí de paraquedas em uma cidade e uma vida totalmente desconhecidas e fiquei sozinha.”

Marina é de Vila Isabel, bairro do Rio de Janeiro, e estuda Biomedicina no bairro carioca do Rio Comprido. O sonho da estudante é trabalhar com estética. Entre brigadeiros e doces de morango ela relata que o amor quase fez tudo virar um pesadelo.

Carioca de 28 anos, Marina Kubrusly morava em Vila Isabel com o pai e o irmão. Trabalhava no centro do Rio de Janeiro. Vendia planos de saúde de uma empresa líder de mercado. Em abril de 2021, após 7 anos de namoro, Marina aceitou o pedido de casamento do namorado iguaçuano. Segundo a estudante, o casal fez cumpriu todas as etapas de um evento como este. Marina relata que o casal elaborou lembranças, fez chá de panela e até tiveram padrinhos.

“Mesmo com a minha vida toda no Rio como família, trabalho, curso, amigos, decidimos vir para Nova Iguaçu porque é a terra dele, ele conhece mais a região e os aluguéis são mais em conta.”

Antes de vender doces pelas ruas da Baixada, Marina estudava Enfermagem em uma universidade particular no Rio Comprido. Com o sonho de trabalhar com estética um professor indicou que era melhor que Marina tentasse ingressar no curso de Biomedicina. De acordo com o professor, com o novo curso as oportunidades seriam melhores.

Cursando Biomedicina no Rio Comprido, vivendo a mudança de vida, Marina conta ter vivido uma reviravolta. O casal decidiu junto todos os passos para mudança. A ida para Nova Iguaçu ocorreu. Já estabelecidos no bairro Jardim Tropical, segundo Marina, o companheiro não levou as próprias coisas para a nova casa. O comportamento mudou. De acordo com a estudante, o homem começou a ficar mais agressivo.

“Mais ou menos uma semana conversamos para diminuir as brigas, não tinha mudado toda a minha vida pra isso. Ele falou que só queria deixar a casa pronta e que não iria ficar.”

Dessa forma, Marina passou a viver sozinha em uma cidade da Baixada Fluminense que pouco conhecia. O fato de ter se mudado e o contexto da pandemia da covid-19 fez com que, segundo Marina, perdesse o emprego no centro do Rio. A realidade de muitos trabalhadores da Baixada é a do deslocamento para a capital, onde se concentram o maior número de postos de emprego.

Segundo levantamento realizado pela FIRJAN, divulgado na plataforma Retratos Regionais, de janeiro de 2020 a junho de 2021 houve uma redução de mais de 60 mil postos de trabalho na região metropolitana do estado. A capital concentra o maior número de demissões, cerca de 90%. O caso de Marina retrata ainda existir o infeliz e tradicional preconceito regional de empresas do Rio com trabalhadores que vivem na Baixada Fluminense.

A venda de doces foi, então, uma saída escolhida por Marina baseada também na experiência.

“Criei a Santa Felicidade [microempresa própria] em maio de 2020 vendendo pelo IFood, vendendo na Uruguaiana. Quando consegui emprego de carteira assinada, parei com a Santa Felicidade.”

A estudante conta ter paixão por fazer doces e pelo contato com as pessoas. Apesar da timidez e de não gostar de incomodar as pessoas, confessa Marina. Com a demissão, os custos de aluguel, mercado, deslocamento e o sonho de cursar Biomedicina, a vida com doces retornou. Desta vez, diz Marina, Santa Felicidade na Baixada Fluminense.

A Baixada é acolhimento. Marina diz ter tido a sorte de ter escolhido uma vila para viver. A estrutura permite interação e cooperação entre os moradores. A estudante conta ter se tornado grande amiga de uma amiga iguaçuana do ex-marido. Atualmente elas moram juntas com o filho pequeno da qual Marina é madrinha. A cidade, revela Marina, surpreendeu.

O gosto por Nova Iguaçu se deu pelo contraste com a vida em Vila Isabel. Enquanto no bairro carioca os lugares, segundo Marina, são próximos e há a história afetiva, o conhecimento de infância, na Baixada é diferente.

“Me sinto mais segura andando por aqui, apesar de não conhecer muita coisa ainda. Lá em Vila Isabel a qualquer hora é muito perigoso, teve um ano que fui assaltada 3 vezes só na minha rua.”

Outro fato importante relatado por Marina Kubrusly é sobre as relações interpessoais dos vizinhos. A realidade dos bairros mais centrais do Rio de Janeiro como Tijuca, Lapa, Vila Isabel, Méier, entre outros, é a de portões fechados, condomínios de muros altos, grades resistentes. Em Nova Iguaçu ainda existe em vários locais a dinâmica da “conversa de calçada”, o tratamento mais amistoso. Segundo Marina, os antigos vizinhos eram mais fechados, conversam pouco e parecem não se preocupar com o outro. Já na Baixada as pessoas são mais amáveis, demonstram mais importância no bem-estar do outro.

“Aqui é diferente, todo mundo se conhece na rua, perguntam como tá, um ajuda o outro. Parece uma grande família.”

A Baixada Fluminense é uma região com muitas demandas, com escassez de alguns serviços e inúmeras riquezas, sobretudo pela população. Marina encontrou na região força para recomeçar. Sobre o amor, o rompimento da relação de sete anos e o abandono em uma vida totalmente desconhecida seria natural o desânimo.

“Mesmo com o que ele fez ainda acredito no amor. É a coisa mais linda que existe. Ter uma família, ter com quem contar. Infelizmente não deu certo dessa vez. Mas acredito no amor.”

Marina Kubrusly persegue o sonho de conseguir cursar Biomedicina e trabalhar na área de estética. Para isso segue batendo de porta em porta vendendo brigadeiros, doces de morango, entre outras guloseimas. Uma história que daria um filme. Mas, sobretudo, uma história de mulher forte que transformou desamor em esperança.

Serviço:
Instagram: https://www.instagram.com/santafelicidade_/

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