O legado do Ualax MC pra cena Rap da Baixada Fluminense

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O legado do Ualax MC pra cena Rap da Baixada Fluminense

2014: Ualax e Marcão Baixada em Queimados, no Batidas & Rimas. Foto: acervo pessoal.

Não estou aqui pra contar a história do Ualax MC hoje, mas sim para contar onde a minha história se cruza com a dele; e acredito que foi de uma forma muito parecida com diversos artistas, amigos e fãs que têm apreço, admiração e amor pela pessoa que ele foi, pela importância do seu trabalho e pelo legado que ele está nos deixando. Descanse em Paz, irmão.

Ualax é um pioneiro real e foi uma pessoa disposta de corpo e alma ao Hip Hop na Baixada, que atravessou gerações de artistas e deixou sua marca.

Acordei hoje querendo compartilhar o impacto que o Ualax teve na minha carreira lá por 2010, quando eu ainda era um adolescente, me aventurado nessa coisa de fazer rimas na escola e nas praças do bairro que eu morava. Eu vi o trabalho dele pela primeira vez nas comunidades do Orkut, a antiga rede social do Google, que foi descontinuada em Setembro de 2014. Lá, eu participava de inúmeras comunidades de Rap e era ativo em fóruns de divulgação de filmes e documentários sobre Hip-Hop e de divulgação de músicas.

A verdade é que eu tinha umas 2 músicas gravadas no Audacity com um headset básico que você encontrava em qualquer Lan House (que foi uma outra febre da época); e eu não conhecia ninguém da Baixada Fluminense que fazia Rap. Me sentia sozinho e deslocado, até ler uma chamada de uma música mencionando que se tratava de um Rap feito na Baixada Fluminense.

A qualidade da gravação, que apesar de também ser ‘caseira’, estava anos-luz à frente das minhas únicas 2 músicas até aquele momento. A técnica, identidade e assinatura vocal, idem. Esse era o Ualax, um MC muito preocupado com a lírica, influenciado por lendas do freestyle da época, como o Gil Metralha, Marechal e Emicida, rimando em beats sampleados, inspirados pela chamada “Golden Era” do rap norte-americano; e o espírito Faça Você Mesmo, muito difundido no Rap por coletivos como o Quinto Andar, o MC Slow da BF e o seu grupo, Esquadrão Zona Norte.

Não me Troco por Nada“, também conhecida como “Não Tem Preço“, foi uma das primeiras músicas do Ualax; e pra mim é uma faixa icônica e essencial pro Rap da Baixada Fluminense, até hoje.

Ualax foi um cara que veio da música: Num passado mais distante, foi percussionista em grupos de samba e pagode; e abraçou o Rap e a estética underground pro seu trabalho autoral. A amizade e parceria que tive com ele, foi o primeiro contato real que tive com o Rap para além da Internet. Foi ele quem me apresentou à cena de Hip-Hop da Baixada Fluminense; e se minhas músicas não soavam tão bem como eu queria, a solução veio através dele: “Cara, cola com o Léo da XIII lá no Enraizados”.

O rapper e produtor Léo da XIII e o Instituto Enraizados, organização de juventude fundada pelo rapper Dudu de Morro Agudo, assim como o Ualax, são de fato, instituições do Hip-Hop na região; e de lá pra cá, aprendi a produzir minhas próprias músicas, me desenvolvi como artista e sigo nessa estrada até este momento em que escrevo.

Mas isso não é sobre mim; e sim sobre o Ualax; e que muita gente não sabe, esse era de fato o nome de batismo dele; e não somente o nome artístico. Autenticidade desde o berço. Cria do bairro Cerâmica, em Nova Iguaçu, mas tendo morado em diversos outros pontos da cidade, o MC passou por diversos grupos e coletivos, como o Chaparraus Nutrs, Válvula de Eskape e a M9 Crew, que foram projetos que tiveram expressividade no cenário. Abriu shows de grandes nomes nacionais que passaram por aqui, como ConeCrewDiretoria e Projota.

Em 2013, juntamente com o selo e estúdio Umdergrau Records, lançou a coletânea “Baixada Em Cena“, uma iniciativa para apresentar para o Rio de Janeiro e para o Brasil, a atual cena do Rap da nossa região, naquele momento.

Além disso, formou o DNA Baixada, grupo que foi resultado da junção de músicos autorais nascidos aqui, com o objetivo de trazer representatividade, autoestima e resistência. O grupo se fez presente no circuito artístico realizando vários shows e até mesmo se apresentando em vagões do metrô da cidade do Rio de Janeiro. O DNA foi selecionado para se apresentar na rodada de pitching de 2019 da Rio2C, o maior evento de criatividade e inovação da América Latina, o qual todas as grandes empresas da indústria fonográfica participam de olhos atentos aos artistas que se apresentam na programação.

Na última década, Ualax contribuiu de maneira grandiosa para a consolidação do Rap da Baixada Fluminense, seja difundindo o estilo ao organizar e produzir eventos como o Baixada Under Fest, em Nova Iguaçu, ou como empreendedor disposto a ajudar novos artistas, através do seu próprio selo musical, Katana Rec. Além de gravar e produzir músicas em seu estúdio, através da Katana, Ualax desbravou o mundo do audiovisual, assinando a direção de inúmeros videoclipes de lançamentos do selo.

Sou grato ao Ualax por ter sido uma peça-chave para minha jornada pessoal e artística até aqui; e nunca me cansarei de contar nossas histórias e de citá-lo quando me perguntam como eu comecei no Rap. E acredito que o nome dele será citado muitas vezes quando outros artistas responderem a mesma pergunta. A herança que ele nos deixa é a de sempre acreditar na força artística da nossa região; e de abraçar, ajudar e contribuir com os mais novos que forem chegando, não somente unindo, mas criando conexões e raízes profundas.

Você é uma lenda, nós te amamos e te agradecemos por isso. Que sua passagem seja de Luz e que sua família possa ser confortada neste momento.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site da Baixada

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9 comentários

  1. Dimmy disse:

    Gigante, está eternizado na nossa cultura e em nossos corações ❤👊

  2. Marcelle disse:

    Pra sempre em nossos corações 🖤

  3. weider s oliveira disse:

    Ualax não foi só um artista, mas um ser humano com bastante garra e um desejo ardente de realizar seus sonhos, além de farol pra quem tava ao seu redor…aprendi muito com ele, tenho certeza que todos a sua volta tambem…lamentavel essa perda.
    Valvula de Eskape smp irmão!!

  4. Blahka Tao disse:

    Mano, me sinto grato por ter conhecido, trabalhado e virado amigo desse cara. Vai fazer falta pra caralho por essas ruas do lado de ca.

  5. Camillacidade disse:

    Excelente talento!! Versátil, firme, genial deixou sua marcam até mais brother

  6. Renato Lima disse:

    Não acompanhei de perto essa fase musical do rap do Ualax, mas estive com ele durante longos anos na fase do samba e pagode a frente do grupo que íntegramos juntos o Pura Obsessão. Ualax era diferenciado demais em todos sentidos, o cara era autodidata, só de olhar ele aprendia e executava com perfeição tudo que se dispunha a fazer… Os gigantes não morrem, os gigantes são eternos!! Ualax gigante!

  7. Luiz Felipe disse:

    O cara era brabo, me inspirava nele quando fazia uns raps.
    Descanse em paz!

  8. José Arnaldo Oliveira disse:

    Agradecido pela crônica repleta de força, lirica e argumento para um documentário.
    Por aqui, nas bandas da Roda da Via Light, vi sua influência na seriedade no trato com o que fazia e no que exigia de todos e todas que se aventurassem a lita com o Rap, algo de muita essência. Presenciei ele em ação em um dos clipes e pude ver, no resultado final, a grandiosidade da sua capacidade – Roteiro mentalizado com produto final incrível, com tão poucos recursos mas com efeito impactante.

  9. Slowdabf disse:

    Obrigado pelas citações e pelo texto. Ualax Vive!!

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