Estúdio Livre: de quarto apertado a casarão em Nova Iguaçu

Operando em Nova Iguaçu, Estúdio Livre adotou modelo híbrido para continuar crescendo e oferecer qualidade de vida para a equipe

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Estúdio Livre: de quarto apertado a casarão em Nova Iguaçu

Marcos Fonseca fundou o Estúdio Livre no quarto de seu apartamento em Nova Iguaçu e hoje atende dezenas de clientes com uma equipe em modelo híbrido. Foto: Vitor Tatagiba.

“Tem uma parada que eu tava lendo de psicologia, pra gente não se martirizar sobre o passado e muito menos viver na angústia do futuro. O lado bonito da vida está em viver plenamente o presente – então é isso que a gente tem que fazer”: com essas palavras, o publicitário Marcos Fonseca abre a sua fala que desdobra para a carreira profissional, escolhas e sobre como aquele cara que viralizou para o Brasil pilotando um Celtinha foi parar em outros lugares da América do Sul. Hoje Fonseca é proprietário do Estúdio Livre, que é um estúdio de comunicação, além de participar na sociedade de outros negócios.

A conversa com Marcos aconteceu por WhatsApp durante um dia pesado de tarefas e decisões. Ele se encontrava reflexivo sobre os caminhos do seu negócio até aqui e para o futuro.

Marcos Fonseca é um verdadeiro cronista do cotidiano. Em seu instagram, relata situações inusitadas e reflete sobre elas. Enquanto conversava com a reportagem do Site da Baixada, presenciou uma pessoa fazendo uso de entorpecentes em um viaduto em Nova Iguaçu: “Cara, papo reto, a galera perdeu a linha. Não tem mais dia, hora e muito menos lugar”, e já começa a analisar o caso.

Espírito livre vem de aventuras vividas pessoalmente

O espírito livre que originou não só o nome, mas todo o conceito da sua empresa, surgiu das aventuras vividas por Marcos. A maior e mais conhecida aconteceu em fevereiro de 2017 quando pegou seu Celta 1.0 sem direção hidráulica e foi parar na Argentina. Ele e sua família percorreram 5 estados brasileiros, cruzaram o Uruguai e só olharam para as terras dos hermanos.

“A ideia era ir até Buenos Aires, mas a gente esqueceu de reservar passagem antecipada haha”, ele recorda. Ao todo foram aproximadamente 6mil km para realizar o sonho da primeira viagem internacional dirigindo.

A conclusão que essa experiência trouxe viralizou na internet: “Viajar não é caro. Caro é combo de vodka na balada. Mas cada um com suas prioridades”. A publicação recebeu milhares de compartilhamentos no Facebook e até grandes marcas nacionais usaram a mensagem para promover ideias na internet.

Da escrivaninha com notebook ao negócio com dezenas de clientes

O Estúdio Livre começou em 2016 no que hoje seria o quarto de sua filha, Olivia, que na época ainda era só um sonho. Entre alguns objetos da casa amontoados no que era o ‘quarto da bagunça’, ocupou um espaço de 1,5 com uma mesa, notebook e conexão com a internet. A partir dali, prospectou clientes, atendeu algumas marcas locais e até de fora da Baixada Fluminense.

Quando precisou contratar, Fonseca instalou o Estúdio Livre numa sala pequena, dividida com o fotógrafo Vitor Tatagiba, fiel escudeiro até hoje. A sala se tornou um ponto de encontro de criativos da cidade e do entorno, promovendo encontros regulares para falar sobre o mercado criativo na Baixada Fluminense e tendências da indústria.

À medida que mais clientes chegaram e o espaço começou a ser um problema, chegou a hora de um novo salto: a mudança para um casarão na Rua Ivan Vigné, Centro de Nova Iguaçu. O local, no final da rua, oferecia facilidade para estacionamento, uma área para atividades com seus clientes na área de alimentação, um espaço amplo para a equipe de criação e também para a recepção de materiais gráficos – o Estúdio Livre atende tanto demandas digitais quanto impressas e até material de ponto de venda.

A decisão de reduzir o tamanho físico sem reduzir a performance

O tamanho do negócio influenciou bastante sobre a sua decisão de ocupar um casarão, mas também trouxe uma reflexão profunda: “as pessoas pensam que ‘esse cara aqui tá ganhando dinheiro então ele sabe o que está fazendo’. Foi necessário durante um tempo, mas hoje não vejo mais isso. Nisso entra uma série de coisas, principalmente vaidade. Em um determinado momento, a casa virou vaidade”.

Depois de trabalhar num nível pessoal para ampliar sua visão das coisas, concluiu: ‘o espaço físico pra mim, virou vaidade. Quando eu entendi que não precisava daquela casa, que eu já tinha um posicionamento, decidi mudar’. Fonseca agora enxerga a internet como uma extensão da sua operação e adotou o modelo híbrido após o aprendizado durante a pandemia. Sobre a possibilidade de um espaço físico grande, dispara: ‘hoje não faz mais sentido’.

Hoje o Estúdio Livre funciona num ‘escritório muito menor’, como Marcos avalia o espaço físico, porém ‘a parada tá rodando da mesma maneira’.

Estúdio de comunicação atua especialmente no ramo da gastronomia e cuida do conceito da marca até a fotografia dos produtos, passando pelas campanhas publicitárias. Foto: reprodução/internet.

Estúdio de comunicação atua especialmente no ramo da gastronomia e cuida do conceito da marca até a fotografia dos produtos, passando pelas campanhas publicitárias. Foto: reprodução/internet.

Mudança na operação: trabalho de forma híbrida

A maior mudança do modelo 100% presencial para o híbrido foi a cultura da empresa, aponta Fonseca, que explica: “o trabalho remoto precisa de alinhamento e feedback constantes”. ‘Híbrido’ é o trabalho que mistura o presencial com o home office.

Para se adaptar ao novo modelo de operação, Fonseca garantiu, outrossim, a redundância na conexão de internet e um planejamento profundo de backups de arquivos na nuvem. Sistemas de gestão de tarefas e outros já estavam presentes no dia-a-dia da equipe, o que também facilitou a transição.

O modelo híbrido de trabalho traz uma redução considerável nos custos das empresas. No momento em que é mais confortável para os funcionários que preferem trabalhar em casa, permite até se concentrarem melhor em suas tarefas. Além disso, trabalhando em casa não existe o tempo de deslocamento até a empresa, o que permite uma melhora na qualidade de vida dos colaboradores.

De acordo com o Sebrae, apesar da redução de custos e melhora da qualidade de vida, o trabalho doméstico pode trazer desvantagens como excesso de trabalho, falta de atualizações sobre processos e uma atitude antisocial. Por consequência o Estúdio optou pelo modelo híbrido, mitigando essas questões para manter a produtividade em alta junto da felicidade dos profissionais.

Propósito acima de tudo

“Ter uma empresa não se trata de grana, se trata de propósito”, Fonseca explica. Ele não acredita nem em voto de pobreza e nem na busca insaciável por dinheiro. Assim sendo, nem sequer saca grandes quantias do faturamento da empresa, optando por um salário que não esfola o caixa.

Com o intuito de também avaliar as dores de crescimento do negócio, explica: “o início do estúdio foi até mais fácil do que é hoje. Porque quando você cria algo, você é o responsável não só por ter criado aquilo, como por alimentar aquilo. A partir do momento que você cresce e coloca outras pessoas pra cumprir o seu papel, se torna mais difícil: porque o meu negócio pra mim é um filho e eu quero ele sempre bem alimentado. É onde tiro o meu sustento, de onde vem tudo”.

Quando o empreendedor precisa delegar, pode encontrar uma série de dificuldades. “Se trata de muito sentimento envolvido”, ele explica. Mesmo com o negócio faturando muito mais do que no início, ele entende que seu lucro seria maior trabalhando sozinho: “meu irmão, se eu não correr atrás, eu não vou comer amanhã. E aí a questão muda de figura”. Mas ele entende a necessidade de seguir crescendo: “não se trata só de grana, se trata de uma série de coisas”.

Liberdade com responsabilidade

“O Estúdio Livre me trouxe o que eu sozinho não teria. Ele me trouxe a liberdade de não estar agarrado 100% do meu tempo. Claro, tenho obrigações e às vezes não posso fazer algumas coisas. Mas eu tenho uma liberdade com responsabilidade”.

Entre reuniões com clientes e a aprovação de peças criativas, Marcos Fonseca ainda encontra tempo para acompanhar de perto o crescimento da sua filha e estar presente em momentos que nem todos os pais conseguem. Isso só é possível porque ele dedica tempo para a organização do negócio, não só a entrega de tarefas, e seleciona ao máximo os seus clientes.

“O melhor cliente é aquele que acredita no que você faz. Eu tenho clientes que sempre acreditaram em mim e me deram carta branca pra trabalhar”. Nesse sentido, um desses clientes é a Usina Hamburgueria, que está com ele desde a época da primeira salinha. “Foi o cliente que mais colheu resultado de tudo que eu fiz”, ele reflete. A Usina surgiu com uma loja em Nova Iguaçu, junto do Estúdio Livre. Hoje o negócio tem cinco unidades, além de ter um modelo de franquias em franca expansão.

Usina Hamburgueria é um dos clientes mais antigos do Estúdio Livre. Foto: reprodução/internet.

Usina Hamburgueria é um dos clientes mais antigos do Estúdio Livre. Foto: reprodução/internet.

Planos para o futuro

“Eu acho que o futuro é muito mais personalizado”, Fonseca dispara. Para ele, a indústria criativa tende para estúdios cada vez mais enxutos e mídias de nicho. “Acho que uma galera mais generalista vai perder mercado e aí onde entra a questão de ser mais enxuto. Tenho sentido muito isso, tô nichando cada vez mais e isso não reflete no faturamento”. Ele faz entregas mais personalizadas para os seus clientes por causa disso.

Marcos planeja se tornar acadêmico no futuro e compartilhar seu aprendizado com mais pessoas – tanto para clientes quanto para alunos em sala de aula. “O futuro do estúdio tende a ser também muito mais personalizado e caminhar para ser uma assessoria, criar mesmo um ambiente para o cliente”.

A clássica história empreendedora da Baixada Fluminense

Longe de ter nascido em ‘berço de ouro’, Marcos foi criado por uma mãe solo, a Tia Laura. Costureira, Laura sustentou o menino como pôde sob muito suor.

Marcos Fonseca nasceu em Jacarepaguá e foi morar em Austin aos 8 anos de idade com seu tio Paulo “na época do perrengue”, como lembra sua esposa, Ingrid Duarte, que está ao seu lado desde o ensino médio. Estudaram juntos e começaram a namorar 3 meses depois de se formarem, em março de 2005. “Casamos em 2010, nosso casamento teve 1.500 convidados!”, explica Ingrid.

A vontade de empreender começou já no seu primeiro emprego. Trabalhou em pequenos jornais e pequenas gráficas, onde adquiriu experiência para trabalhar com velocidade. No entanto nem tudo são flores: a forma como era tratado foi um verdadeiro teste psicológico e mostrou a ele como não tocar uma equipe.

Dos pequenos serviços conseguiu se tornar arte-finalista trabalhando na Barra e morando em Austin. Tantas madrugadas viradas, perdendo muito tempo de deslocamento, podem ter trago o efeito do modelo híbrido do Estúdio Livre hoje em dia.

Em 2012 se tornou sócio de uma agência de publicidade, onde vivenciou outros setores além do criativo, até 2013 quando seguiu solo como freelancer dentro de algumas grandes empresas do ramo da moda na Baixada Fluminense. Esse vôo solo durou até 2016, quando encontrou seu cantinho no quarto da sua futura filha.

Visão empreendedora desde o início

“Desde a sua entrada no mercado publicitário, ele tinha claro na mente que o modelo de agência tradicional estava falido. Sempre falava isso pra quem quisesse ouvir. E quando ele decidiu criar o Estúdio Livre, ele não queria de forma alguma o estereótipo de agência”, explica sua esposa. Ela conclui: “ele fazia questão de conhecer o produto que tava divulgando. Ir na loja do cliente, viver as dores junto”. Hoje Marcos Fonseca, além do Estúdio Livre, mantém sociedade com alguns parceiros que também são seus clientes.

Mas nem tudo é apenas sucesso na história do empreendedor da Baixada: o logotipo da sua empresa é grená em homenagem ao seu clube do coração, o Fluminense. O último título na Copa do Brasil foi em 2007 e do Campeonato Brasileiro foi em 2012.

Pelo menos o Fluminense é o atual campeão carioca*.

ESTÚDIO LIVRE
R. Cel. Bernardino de Melo, 2201, Sala 1508
Centro – Nova Iguaçu / RJ
Telefone: 21 98051-3146
Instagram: @estudio.livre

*Claramente o repórter também é tricolor. Nense!

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