A Avenida Baronesa de Mesquita, em Mesquita, passou por uma transformação significativa nos últimos anos. O que antes era um espaço deserto e sem infraestrutura adequada, hoje se destaca como um polo de arte urbana e lazer, atraindo moradores e visitantes da Baixada Fluminense. Essa mudança foi impulsionada principalmente pelo projeto Revitaliz’Art, que desde 2017 vem ocupando muros com obras de grafite que valorizam a história e a cultura negra.
Além da arte, o local também ganhou melhorias urbanas como iluminação em LED, ciclovia e parquinho infantil. A presença da Vila Olímpica da cidade na mesma avenida reforça o potencial do espaço como ambiente de encontro, esporte e convivência.
Revitalização urbana transforma cenário da Avenida Baronesa de Mesquita
A revitalização da Avenida Baronesa de Mesquita é um exemplo de como ações urbanas podem transformar realidades. Antes caracterizado pelo abandono, com pouca iluminação e descarte irregular de lixo, o local agora conta com nova infraestrutura urbana. A ciclovia foi ampliada, a iluminação foi modernizada com LEDs, e um parquinho para crianças foi instalado.
Essas melhorias tornaram a região mais segura e atrativa, especialmente para famílias e pessoas que buscam alternativas de lazer ao ar livre. A mudança também valorizou o entorno da Vila Olímpica de Mesquita, reforçando o papel da avenida como eixo estruturante do bairro.
1,7 km de arte negra a céu aberto: o impacto do Revitaliz’Art
Criado em 2017, o projeto Revitaliz’Art surgiu da parceria entre artistas locais e a Prefeitura de Mesquita. Com foco na valorização da cultura popular e da identidade negra, o projeto utiliza os muros da linha férrea da Avenida Baronesa de Mesquita como suporte para intervenções artísticas.
Ao longo de 1,7km de extensão, que atravessam os bairros Cosmorama e Vila Emil, é possível encontrar painéis com retratos de personalidades como Milton Nascimento, Zezé Motta, Nelson Mandela, Martin Luther King, Ruth de Souza, André Rebouças, José do Patrocínio, entre outros. Todas as obras são assinadas por artistas negros, reforçando a importância da representatividade na construção das narrativas visuais.
Grafite como ferramenta de resistência e memória
Para os artistas envolvidos, o projeto vai além da estética: ele é um meio de resistência e reescrita da história. Airá O Crespo, um dos grafiteiros, destacou a importância de personagens negros contarem suas próprias histórias. “O grafite acaba sendo um multiplicador dessa história. Temos que ressaltar que não basta apenas contar a história de personagens históricos, é preciso dar representatividade às pessoas negras”, afirma o artista.
Wallace Pato, autor do painel que mostra crianças negras a caminho da escola, ressalta o impacto social da arte em espaço público: “É importante o fato de ser na rua, onde todos terão acesso à cultura negra, que costuma ser marginalizada. Ali, nos muros, o acesso é universal”.
Homenagens a ícones da cultura e da luta antirracista
O projeto presta homenagem a nomes fundamentais da história e da cultura negra, tanto no Brasil quanto no mundo. Um dos murais mais simbólicos traz o rosto de Pelé ao lado de figuras como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez, Zumbi dos Palmares, Bezerra da Silva, Elza Soares, Lima Barreto, entre outros.
Ruth de Souza, primeira atriz brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema, é lembrada em um painel próximo à estação Edson Passos. A atriz, que completaria 100 anos em 2021, tem sua trajetória exaltada como símbolo de talento, pioneirismo e resistência negra no teatro, no cinema e na televisão brasileira.
Michael Jackson em três fases e a ligação com o Brasil
Outro destaque da galeria a céu aberto é a série de três painéis que homenageiam Michael Jackson, retratando diferentes fases de sua carreira: na infância com os Jackson Five, no início da carreira solo, e durante sua passagem pelo Brasil, em 1996. A obra reforça a conexão da música negra com diferentes gerações e culturas.
Quem foi a Baronesa de Mesquita?
Apesar do nome da avenida remeter à nobreza brasileira, há uma curiosidade sobre sua origem. A “Baronesa de Mesquita” não existiu exatamente com esse título. O nome provavelmente presta homenagem à tradição da família Mesquita, importante para a formação territorial da Baixada Fluminense. Um dos nomes mais marcantes foi Jerônimo Roberto de Mesquita, o segundo Barão de Mesquita (1857–1927), proprietário rural e político influente, que foi presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Ele contribuiu com a chegada da ferrovia à região de Nova Iguaçu, à época conhecida como Iguaçu Velho. Foi em torno de uma de suas propriedades que surgiu a Vila Emil, hoje parte de Mesquita.
O título de baronesa, no entanto, está associado a Jerônima Eliza de Mesquita, conhecida como Baronesa de Itacuruçá (1851–1917), uma mulher influente na sociedade da época e parte da mesma linhagem nobre. A família Mesquita teve papel relevante no desenvolvimento de várias localidades da Baixada, como Nilópolis e Mesquita.
Reconhecimento turístico e orgulho para Mesquita
A relevância do Revitaliz’Art é tanta que o mural da Avenida Baronesa de Mesquita passou a integrar o guia oficial de turismo do Governo do Estado do Rio de Janeiro. No site institucional, o espaço é descrito como uma atração cultural acessível, com iluminação noturna e visitação 24 horas, fortalecendo o turismo na Baixada Fluminense.
Além do turismo, o projeto reforça o orgulho local e o pertencimento da população de Mesquita. A arte nos muros dialoga com o cotidiano das pessoas, gera reflexão, representa histórias apagadas e cria novas referências para a juventude negra da região.
Dicas finais
- A Avenida Baronesa de Mesquita fica próxima à estação de trem Edson Passos e ao Estádio Giulite Coutinho, facilitando o acesso.
- A visita pode ser feita a qualquer hora do dia, mas os detalhes dos murais são melhor apreciados à luz do dia.
- Levar as crianças pode ser uma ótima opção, já que há um parquinho no local e o ambiente é propício para passeios em família.
- Para quem busca conhecer melhor a cultura da Baixada Fluminense, o Revitaliz’Art é um ponto de partida cheio de significados.