No fim da Avenida dos Operários, em Paracambi, um imponente prédio de tijolos aparentes, ladeado por torreões e envolto por um bosque, chama atenção de quem passa. Conhecido como Fábrica do Conhecimento, o edifício é hoje um dos maiores complexos educacionais da Baixada Fluminense. Mas sua história começa muito antes, quando abrigava a maior fábrica de tecidos do Império do Brasil: a Companhia Têxtil Brasil Industrial.

Inaugurada em 1876 com alvará assinado pela princesa Isabel, a fábrica surgiu com a missão de mudar o panorama da produção têxtil no país. Na época, os tecidos fabricados no Brasil eram considerados grosseiros, usados principalmente como sacarias ou para vestir pessoas escravizadas. Com seus 400 teares e tecnologia de ponta importada, a Companhia Brasil Industrial rompeu esse padrão e ajudou a consolidar um novo momento na economia nacional.

O nascimento de Paracambi e a força da indústria

A escolha do local para a instalação da fábrica não foi por acaso. A região, que à época pertencia à antiga Fazenda dos Macacos, já contava com o ramal ferroviário D. Pedro II — inaugurado em 1861 — que ligava a área diretamente ao centro do Rio de Janeiro. Além disso, a abundância de quedas d’água facilitava o funcionamento das máquinas sem necessidade de carvão, e a presença de moradores nos arredores da estação favorecia o recrutamento de mão de obra.

A dimensão da indústria foi tamanha que motivou o surgimento da própria cidade de Paracambi, formada ao redor do complexo para abrigar os cerca de cinco mil operários necessários ao seu funcionamento.

De fábrica imperial a polo de conhecimento

Após mais de um século em operação, a fábrica foi desativada em 1984. No ano seguinte, o prédio foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) e, em 2001, adquirido pela Prefeitura de Paracambi. Com a nova gestão, o local ganhou novo propósito e passou a ser chamado de Fábrica do Conhecimento.

Hoje, o espaço reúne instituições de ensino, pesquisa e cultura das esferas municipal, estadual e federal. Só a área construída tem cerca de 4 mil metros quadrados. Por ali circulam mais de seis mil estudantes em equipamentos como o Campus Paracambi do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), o polo do CEDERJ, a ETE Paracambi (FAETEC) e a FAETERJ.

Mas a formação vai além da técnica: o complexo também abriga o Ballet Municipal Canto do Curió, o Planetário de Paracambi, o Espaço Cinema e Arte, um núcleo da Escola de Música Villa-Lobos, o Espaço da Ciência, uma brinquedoteca e as secretarias municipais de Cultura e Meio Ambiente.

A memória do lugar e o futuro da educação

Mais que um centro de ensino, a Fábrica do Conhecimento é um elo entre passado e presente. Em seus corredores já ecoaram os sons dos teares, hoje substituídos por aulas de teatro, balé e cursos de pós-graduação. Restou da maquinaria original apenas uma retificadora inglesa de cilindros de cobre, vestígio simbólico da atividade que moldou uma cidade inteira.

Em 2025, ano em que o prédio completa 150 anos desde o início de sua construção, o local se prepara para inaugurar um centro de memória. A proposta é preservar as histórias das famílias que ali trabalharam por gerações e criar um espaço museológico à altura de centros culturais industriais da Europa.

Segundo pesquisadores locais, Dom Pedro II visitou a antiga fábrica duas vezes. E, para muitos moradores, o prédio continua sendo um símbolo da importância de Paracambi na história do Brasil. Uma charge de 1873 já dizia: “Fazendo progredir a vossa fábrica, fareis também caminhar o país”. Um século e meio depois, o espírito dessa frase permanece vivo — agora, por meio do conhecimento.

Dicas finais

Quem visita Paracambi encontra na Fábrica do Conhecimento não só uma aula de história viva, mas também uma agenda cultural ativa. Além das instituições educacionais, o espaço frequentemente sedia apresentações artísticas, exposições, eventos científicos e sessões de cinema.

O prédio está localizado ao lado do Parque Natural Municipal Curió, o que faz do passeio uma opção interessante para famílias e amantes da natureza. Para quem mora na Baixada Fluminense, a visita é uma oportunidade de valorizar um patrimônio local com impacto nacional.