No coração do bairro da Piedade, em Magé, um antigo porto colonial se transformou em um dos espaços públicos mais valorizados da cidade. O atual Píer da Piedade, que hoje atrai moradores e visitantes com sua vista privilegiada da Baía de Guanabara, já foi um dos pontos mais movimentados do Brasil-Colônia, onde circulavam pessoas, mercadorias e memórias marcadas pela história da escravidão e do desenvolvimento ferroviário. Com uma paisagem que mistura natureza, ruínas históricas e novas intervenções culturais, o local se consolida como símbolo de lazer e resistência na Baixada Fluminense.

De porto escravista a centro comercial do Império

Quem visita o Píer da Piedade, em Magé, talvez não imagine o peso histórico que aquele calçadão à beira-mar carrega. Localizado no bairro da Piedade, o atual píer ocupa o mesmo espaço onde funcionou, durante séculos, o Porto da Piedade — um dos mais importantes do Brasil-Colônia.

No passado, o porto era ponto de desembarque de pessoas escravizadas e, com o tempo, tornou-se uma conexão estratégica entre a Baía de Guanabara e as regiões serranas. O terminal ganhou ainda mais destaque com a construção da Estrada de Ferro Teresópolis, que ligava a antiga Praia da Piedade à serra fluminense, facilitando o transporte de passageiros e mercadorias — inclusive de riquezas vindas de Minas Gerais.

As ruínas do antigo cais, como o molhe e o armazém-geral, permanecem como testemunhas dessa época. Imagens antigas ainda identificam o local como “antigo cais de desembarque”, frequentado por autoridades e viajantes ilustres, e que chegou a ser o ponto final da linha férrea idealizada por Augusto Vieira.

Abandono, revitalização e nova identidade para a cidade

Apesar da importância histórica, o Porto da Piedade caiu em desuso e passou décadas em abandono. A paisagem só começou a mudar em 2019, quando a Prefeitura de Magé reformou o antigo cais e o reinaugurou como Píer da Piedade.

A reestruturação transformou a área em um dos principais espaços públicos da cidade, com academia ao ar livre, quiosques, policiamento da guarda municipal e um circuito de câmeras que ajuda a garantir a segurança. O pôr do sol visto dali virou atração por si só — e o local passou a atrair famílias, praticantes de atividades físicas e eventos comunitários.

Magé, que muitas vezes é lembrada apenas por sua ligação com a Serra dos Órgãos ou como caminho para Teresópolis, agora vê no píer uma maneira de valorizar também sua relação com o mar e com a Baía de Guanabara, ponto que conecta a cidade com outras regiões da Baixada Fluminense.

A história negra de Magé ganha destaque no espaço

Um dos marcos mais recentes e significativos do Píer da Piedade foi a instalação do busto em homenagem a Maria Conga, figura histórica do município. A homenagem foi realizada em 28 de novembro de 2021, durante o evento “Arte na Praça”, no encerramento do Mês da Consciência Negra.

Maria Conga nasceu em 1792, no Congo, e foi trazida como escravizada ao Brasil. Aos 35 anos, conseguiu comprar sua alforria e fundou o Quilombo Maria Conga, um dos mais importantes da região. Ela se dedicou à proteção de outros negros fugidos da escravidão e sua luta virou símbolo de resistência em Magé.

O busto, esculpido por Cristina Febrone, foi instalado no píer como forma de eternizar a memória dessa líder quilombola. Além da escultura, o evento contou com apresentações de capoeira, gastronomia afro-brasileira e exposições de artesanato, transformando o píer em palco para a celebração da cultura negra.

Conexão com o presente e valorização do território

A história do Píer da Piedade é exemplo de como o passado pode dialogar com o presente. Mais do que um espaço de lazer, ele representa a reconexão de Magé com suas origens, sua geografia e seus personagens históricos. A revalorização do local, aliada a ações de preservação da memória e da cultura negra, coloca o município em uma posição de destaque no resgate da história da Baixada Fluminense.

Enquanto outras cidades da região buscam formas de fortalecer sua identidade cultural, Magé apresenta no píer um caminho possível: unir natureza, memória e infraestrutura pública em um só lugar.

Dicas finais

  • O melhor horário para visitar o Píer da Piedade é no fim da tarde, quando o pôr do sol tinge a Baía de Guanabara com tons alaranjados.
  • Pela manhã, o local é ideal para atividades físicas leves, com vista tranquila e ambiente seguro.
  • A página oficial do píer no Facebook divulga eventos e atualizações, facilitando o planejamento da visita.