Moradora de Belford Roxo aposta em conscientização sobre Endometriose

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A cólica abdominal é um dos efeitos mais recorrentes do período menstrual. A dor pode ser bastante incômoda e até mesmo atrapalhar algumas atividades do dia-a-dia, mas a tendência é que melhore com o uso de remédios e suma com o passar dos dias. Quando isso não acontece e a cólica se intensifica, é preciso ficar atenta: pode ser endometriose, uma doença inflamatória que atinge o endométrio – tecido que reveste o útero – fazendo com que se espalhe para outros órgãos.

De acordo com a médica ginecologista Dra. Rosana Viana, mulheres em idade reprodutiva com histórico da doença entre parentes diretas têm mais chances de desenvolvê-la. Além disso, outros fatores servem de alerta, como gravidez tardia, alterações no ciclo menstrual. Entre os principais sintomas estão, além da cólica intensa, dor durante a relação sexual e ao urinar, alteração nos hábitos intestinais, isquemia e, frequentemente, infertilidade.

A doença afeta cerca de 6,5 milhões de mulheres no Brasil, segundo levantamento da Anvisa. Mas esse número pode ser ainda maior. Isso porque a endometriose é uma doença silenciosa, de difícil diagnóstico. Segundo a Dra. Rosana, cerca de 22% das pacientes são assintomáticas. Quando percebidos, os sintomas frequentemente são confundidos com as características normais do período menstrual, e negligenciados. A consequência disso é o diagnóstico tardio, feito quando a doença já está em estágio avançado.

Foi o que aconteceu com a ativista Nidia Meirelles, de 40 anos. Ela conta que sempre sofreu com cólicas muito intensas, que eram consideradas normais pelos médicos. Durante uma aula de pilates, ela sentiu uma dor súbita e teve um inchaço na região da barriga no decorrer dos dias. Após uma bateria de exames e de consultar diversos médicos, veio o diagnóstico de endometriose e a necessidade de operar às pressas. A partir de então, a vida de Nidia mudou completamente, pois a doença não tem cura mas pode ser controlada com o tratamento adequado, feito por uma equipe multidisciplinar.

Infelizmente, a realidade brasileira é marcada por uma profunda desigualdade social: a última Síntese de Indicadores Sociais divulgada pelo IBGE estima que 27 milhões de brasileiros vivam em extrema pobreza. Na Baixada Fluminense esse cenário é particularmente delicado e as edições mais recentes do Mapa da Desigualdade revelam que os municípios da região têm uma média de renda inferior às demais cidades do estado, bem como o acesso a serviços públicos de qualidade. Inseridas nessa realidade, muitas moradoras da Baixada têm dificuldade de acesso à informação e ao tratamento necessário. Sensibilizada pela situação de mulheres que, assim como ela, sofriam com a endometriose, Nidia decidiu ajudar como podia.

“Criei uma rede e comecei a ajudar meninas com a doação de remédios contínuos.  Descobri que minha médica trabalhava no município de Belford Roxo onde moro e comecei a recolher o cartão do SUS das meninas que não podiam ir à clínica para marcar e eu ia 4h da manhã e marcava todas.”

Num desses dias em que estava na clínica, Nidia viu a oportunidade de sugerir à diretora que aproveitasse a equipe multidisciplinar já existente para o tratamento de pessoas com endometriose. A ideia foi aceita e logo chegou a informação de que tramitava na Câmara dos Deputados um projeto de lei que propunha a criação de um dia de conscientização sobre a endometriose.

O desejo de aumentar ainda mais o projeto se intensificou com a morte de Daiana Rocha, uma paciente que sofreu embolia pulmonar em decorrência da doença. O PL 414/2020, também chamado de Lei Daiana Rocha, institui o dia 13 de Março como Dia Nacional de Luta contra a Endometriose, aos moldes do que já acontece em diversos locais do mundo. Atualmente, o projeto aguarda a deliberação do Plenário. 

No âmbito estadual, há uma lei de 2005 assinada pela então governadora Rosinha Garotinho que determina a criação de uma Semana de Prevenção à Endometriose e Infertilidade. Essa lei, entretanto, se restringe ao nível da conscientização, sem estipular diretrizes para o tratamento da doença. Nas cidades de Nova Iguaçu e Belford Roxo, também circulam leis semelhantes pela Câmara dos Vereadores.

Esse olhar do poder público é uma peça-chave para que cada vez mais mulheres tenham acesso à informação e tratamento, sinaliza Nidia. A endometriose é uma doença que passou muito tempo invisibilizada e tratada como frescura, inclusive pela comunidade médica, que ainda carece de profissionais especializados no assunto. Suas consequências vão muito além da dor física: a depressão é um dos sintomas mais perigosos da endometriose. Isso ressalta ainda mais a necessidade do acompanhamento feito por uma equipe multidisciplinar, que deve ser formada por profissionais como psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas.

Para se comunicar e dar voz às tantas mulheres que sofrem com a doença ainda desconhecida por muita gente, Nidia criou a página “A vida como ela é com Endometriose”, que esclarece as principais dúvidas sobre o tema, além de desmistificar uma série de preconceitos que ainda existem. Para além do ambiente virtual, ela realiza palestras em escolas e postos de saúde e campanhas de rua.  Seu objetivo é conscientizar cada vez mais pessoas, para que as mulheres consigam obter um diagnóstico rápido e não passem pelo que ela passou.

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