“Cidade Integrada”: ação do governo do Rio começa com mais perguntas que respostas sobre a segurança pública

Jacarezinho, primeira região escolhida, ficou em 64ª posição na escala de bairros com mais tiroteios no Grande Rio

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“Cidade Integrada”: ação do governo do Rio começa com mais perguntas que respostas sobre a segurança pública
© REUTERS / Alexandre Loureiro

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Moradores da favela do Jacarezinho amanheceram apreensivos com o cerco armado por 1.200 agentes de segurança, entre eles, policiais da UPP Santa Marta – a primeira UPP do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (19). A favela, que foi palco da operação policial mais letal da história do Rio, em maio de 2021, foi a escolhida para dar início ao intitulado programa “Cidade Integrada”, que desde 2020 estava sendo anunciado pelo governador Cláudio Castro.

Pouco se sabe sobre os custos e objetivos do “Cidade Integrada”, que demonstra seguir o mesmo caminho das UPPs, criadas em 2008.

A falta de informações sobre o Cidade Integrada chama a atenção e é destacada por Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado. “É impossível avaliar algo que não foi divulgado. Quais os objetivos do programa? Quais as metas de curto, médio e longo prazo? Não sabemos nada sobre esse projeto, assim como não sabemos nada sobre o Planejamento da Segurança Pública deste governo, que já tem três anos”.

Ideias com o apelo do “Cidade Integrada”, voltadas para a universalização de serviços básicos para todos os cidadãos, são importantes e urgentes para o Rio de Janeiro. No entanto, nenhum deles constitui um Plano de Segurança Pública. “São sim, ideias importantes que devem constar em um plano. Mas se não forem acompanhados de um plano abrangente, serão um desperdício de recursos públicos, assim como as UPPs. É preciso avaliar o que deu errado em outros planos para evitar desperdício de tempo, dinheiro e vidas”, afirma Maria Isabel.

Na escala de bairros do Grande Rio com mais tiroteio em 2021, o Jacarezinho está na 64º posição. Analisando os dados do Instituto Fogo Cruzado sobre as áreas que ainda tem alguma UPP, o bairro aparece em 12º lugar. Foi lá, porém, onde houve a maior chacina cometida durante uma operação policial da história do Rio de Janeiro.

Os dados apontam o Complexo do Alemão, também na Zona Norte do Rio, como a área de UPP com mais tiroteios em 2021: 85. Ao todo, 11 pessoas foram baleadas na região (uma morta e 10 feridas). Outras regiões também serão ocupadas

Além do Jacarezinho, documentos do governo revelados pela imprensa indicam que outras regiões do Rio de Janeiro, também serão ocupadas pelo “Cidade Integrada”. Muzema/Tijuquinha/Morro do Banco, no Itanhangá (que não tiveram tiroteios em 2021); Cesarão, em Santa Cruz (onde houve três tiroteios); Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Copacabana e Ipanema (com três tiroteios); Maré, na Zona Norte (com 51 tiroteios, 12 mortos e cinco feridos); e Rio das Pedras, na Zona Oeste (com um tiroteio e três feridos).

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 20 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e, em breve, em mais cidades brasileiras.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

Opinião

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site da Baixada

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