IFRJ empresta tablets para alunos acompanharem as aulas

Os corredores vazios do IFRJ de São João de Meriti estão longe da normalidade de uma escola. A melancolia do silêncio eventualmente quebrado pelo som dos passos de um ou outro funcionário é o reflexo da primeira pandemia do mundo conectado pela internet, afetando a rotina da humanidade.

É neste cenário sobre o vazio e sob um calor de 33ºC e sem uma brisa sequer, que Carolina Porciuncula cruza o enorme terreno da escola onde estuda, cheia de esperança por dias melhores. 2020 foi um ano difícil, especialmente para pessoas como ela que precisam fazer um verdadeiro malabarismo para seguir alguma rotina de estudos.

Carolina é uma entre os mais de mil estudantes que receberão um tablet e um chip com conexão a internet, emprestados pelo IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro), com o objetivo de acompanhar as aulas sob o modelo das Atividades Pedagógicas Não Presenciais (APNP) – cujos educadores insistem em explicar que não são Ensino à Distância (EaD). Mas o acesso a um equipamento como este gera outros desdobramentos, que vão além da sala de aula virtual.

“Nós temos dificuldades com o acesso e uma dessas dificuldades é a financeira. É uma oportunidade legal ter esse acesso. Isso vai me ajudar a estudar, vou poder produzir material pra minha atividade de extensão, que é produção de podcasts. Falamos sobre racismo, questões indígenas e feminismo” – explica Carolina.

O podcast que Carolina realiza junto de seu colega, o Jeferson, faz parte de um trabalho ainda maior que envolve rodas de conversa, rodas de leitura e debates sobre os temas que conduzem os episódios do programa. A realização de um programa para internet, seja qual for o formato, exige equipamentos que pessoas de baixa renda não têm acesso – como computadores, microfones, câmeras e outros. Para Carolina, apenas um tablet, mesmo que por pouco tempo, já é o suficiente para pelo menos começar.

A entrega dos tablets (e chips) faz parte do Auxílio Conectividade em Caráter Emergencial, uma medida tomada pelo IFRJ para oferecer condições de permanência de estudantes (combatendo a evasão escolar), num ambiente com condições técnicas: o básico para acesso à internet enquanto as atividades presenciais não voltam à normalidade. A verba para isso veio da economia na gestão dos recursos do ano de 2020, especialmente por causa da pandemia.

O Auxílio Conectividade estava previsto para outubro, mas sofreu atrasos. De acordo com o IFRJ, o fornecedor dos equipamentos não cumpriu com o prazo de entrega.

“Esta ação vem preencher uma lacuna ainda não resolvida da demanda por meios digitais de parte da comunidade acadêmica. Estamos satisfeitos em poder colaborar com estudantes, especialmente com os economicamente vulneráveis. Acho que com o tablet, junto do chip que dá acesso à rede 4G, nós poderemos melhorar a oferta e sobretudo o acesso a educação pública aqui na Baixada Fluminense” – explica Rodney Albuquerque, Diretor-geral do IFRJ campus São João de Meriti.

A unidade meritiense do ‘IF‘, como é carinhosamente chamado por alguns, segue com esperança de olho no futuro, mesmo ainda respirando a melancolia de não poder receber seus alunos para encher suas salas e compartilhar o conhecimento: o plano é instalar uma incubadora de startups no prédio anexo da unidade.

Enquanto isso, Carolina e sua turma seguem não só planejando mas também já realizando os primeiros episódios do podcast – cujos links estarão em breve disponíveis nas páginas do Site da Baixada e também no Baixadacast, o podcast do SB.

* Esta reportagem foi realizada com recursos obtidos pelo financiamento coletivo do Site da Baixada: catarse.me/sitedabaixada. Todos os protocolos sanitários foram seguidos durante a apuração e produção da foto de capa.