Nova Iguaçu apresenta exposição ‘Africanidades na Baixada Fluminense’

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Descendente de família angolana, a assistente social Mônica da Silva Santos, de 46 anos, se emocionou nesta quarta-feira (6) ao visitar as dependências da Casa de Cultura de Nova Iguaçu, que realiza até o dia 31 de janeiro, a exposição: ‘Africanidades na Baixada Fluminense – Contribuição do negro na formação da identidade brasileira’. Ao se deparar com um pelourinho, conhecido como lugar de castigo para criminosos e negros escravizados que eram punidos em locais públicos, além de um açoite, tronco, palmatórias e peias (algemas para os pés), ela chorou.

“Meus bisavôs foram escravos e essa é a primeira vez que senti de forma tão intensa como eles sofreram na época. Nunca tive esse choque de realidade. O negro está bem representado nesta casa. Esta exposição é um resgate ao passado da minha família”, lembrou Mônica, que ainda ficou impressionada com as cerca de 150 peças de utensílios para culinária da época, como o tonel de aguardente e a moenda portátil de cana de açúcar.

A exposição, que desperta o interesse popular sobre a herança africana, está sendo realizada pela Prefeitura de Nova Iguaçu, por meio da Secretaria de Cultura e Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu (Fenig), de terça a sexta-feira, das 10h às 20h e aos sábados, de 10h às 18h.

“Essa é a maior exposição sobre africanidades no estado do Rio. Temos peças mostradas pela primeira vez todas juntas, como o machado de decapitação e esquartejamento usado para assassinar Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Essa peça só foi mostrada em novembro do ano passado na Casa França-Brasil e agora aqui. A maioria das peças foram usadas no dia a dia de africanos e escravizados na Baixada. É um momento mágico e importante a realização desta exposição que retrata a grande contribuição da raça negra para nossa história”, afirmou o secretário municipal de Cultura, Marcus Monteiro.

Entre outras peças expostas na Casa de Cultura estão: bronzes do Benin, máscaras africanas raras, mapas raros do século XVI, pistolas de percussão, esculturas, braceletes, bustos do Oba (Rei) e da Rainha do Benin, tacho de ferro e cobre, carro de boi, raspador de mandioca, balança, livro de registro de escravos da Vila São Francisco Xavier de Itaguaí no período de 1861 a 1876, entre outros.

Ainda de acordo com Marcus Monteiro, a ideia é aumentar o número de exposições na Casa de Cultura, que têm atraído a visita de alunos de escolas municipais de toda a Baixada Fluminense.

“Este ano já fizemos outras duas grandes exposições, como a do artista plástico Raimundo Rodrigues e Olhares Sob Lares, que contou a vida doméstica na Velha Iguassú. Mas a ideia no próximo ano é aumentar o número de exposições e trazer até eventos de nível internacional, mas nosso foco é o patrimônio da Baixada Fluminense. Já temos 18 escolas municipais de várias cidades agendadas esta semana para visitar a exposição, que é gratuita”, lembrou.

Entre as muitas influências africanas na Baixada Fluminense, as marcas do povo africano no território são visíveis até os tempos modernos. Desde a capoeira e as escolas de samba até a herança religiosa, a africanidade constitui elemento fundamental na formação da identidade brasileira.

A exposição relembra fatos históricos importantes e até curiosos, como o nome do bairro vizinho ao Complexo Cultural Nova Iguaçu, o K11: nome derivado do “Kwanza”, como havia sido batizado um quilombo existente no local entre os séculos XVII e XVIII.

Entre esculturas oriundas da Costa do Marfim, Gabão, Nigéria, Benim e outros países africanos, a exposição retrata o negro como criador desde sempre, não somente como um corpo cuja utilidade seria apenas o de servir.

“Minha avó, Maria Madalena, morta há 10 anos, foi escrava em Barra Mansa e essa exposição me fez lembrar tempos difíceis, tristes, mas temos que resgatar essa história. Fui criada na roça e andava no carro de boi, o mesmo exposto aqui. Estou surpreendida”, contou a dona de casa Geni dos Santos, de 67 anos.

O Complexo Cultural Nova Iguaçu, Casa de Cultura Ney Alberto, fica na Getúlio Vargas, 51, Centro de Nova Iguaçu.

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