Covid-19: número de casos confirmados e óbitos na Baixada Fluminense pode ser muito maior que o divulgado

Casos saltaram de 122 para 225 nos últimos três dias; total não registrado pode ter passado de mil

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Covid-19: número de casos confirmados e óbitos na Baixada Fluminense pode ser muito maior que o divulgado

O mês de abril começou com o pé esquerdo diante da declaração do Secretário Executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, a respeito dos dados extraídos dos testes para coronavirus no Brasil: “apenas 16% dos casos são registrados“.

Diante do número insuficiente de testes e também de leitos para tratamento de pacientes sob suspeita de Covid-19, o próprio governo federal tem recomendado à população que busque atendimento médico somente quando apresentar sintomas de falta de ar – e isso pode ser um dos principais fatores para que pessoas assintomáticas estejam transmitindo o Coronavirus ao redor país.

No Rio de Janeiro, a Secretaria Estadual de Saúde tem divulgado diariamente um boletim aberto para a população com os casos confirmados e óbitos. De acordo com a última publicação do Estado, realizada ontem (09), a Baixada Fluminense tem 218 casos confirmados, distribuídos em 12 das 13 cidades da região: Belford Roxo (28); Duque de Caxias (48); Guapimirim (3); Itaguaí (6); Japeri (3); Magé (9); Mesquita (19); Nilópolis (12); Nova Iguaçu (57); Queimados (7); São João de Meriti (23) e Seropédica (3). Ainda de acordo com o Estado, a cidade do Rio de Janeiro tem 1.633 casos confirmados.

A Baixada Fluminense tem 225 casos de Covid-19 e 23 óbitos, aponta o último levantamento do Site da Baixada, que cruza os dados do Estado com os municípios.

Os dados fornecidos pelo Estado estão em conflito com os dados divulgados pelas cidades. Um exemplo é Paracambi, que anunciou seu primeiro caso confirmado no dia 8 de abril através do Facebook mas não está na lista de cidades com casos confirmados pelo Estado. Mas este não é o único exemplo de discrepância de dados.

No boletim da Prefeitura de Duque de Caxias divulgado na tarde de ontem (09), a cidade tem 46 casos confirmados e 14 óbitos, enquanto o Estado divulga 48 casos e 8 óbitos. Em São João de Meriti, Estado e município divulgaram os mesmos dados, porém nem sempre foi assim: no dia 03 de abril, por exemplo, o Estado comunicou que a cidade tinha apenas 3 casos, enquanto o município divulgou pelo Facebook ter 10 casos confirmados.

Tantos conflitos de dados são causados pela complexidade da rede de saúde e pelo delay das informações entre as secretarias municipais e o Estado: uma unidade de saúde municipal envia a notificação para a secretaria municipal, que por sua vez envia a notificação para o Estado, enquanto as unidades estaduais e particulares reportam os casos confirmados direto para o Estado (sem necessariamente passar pelo município), que mescla todos os dados e os divulga no boletim. Todo este processo pode causar um atraso entre as informações e causar uma discrepância.

O levantamento realizado diariamente pelo Site da Baixada segue uma sequência: primeiro são levantados os dados divulgados pelos municípios no dia, depois são levantados os dados do boletim do Estado. Os dados que estiverem mais altos são entendidos como os mais atualizados.

Este processo, apesar de estar próximo ao número mais atual das cidades, pode apresentar falhas – uma vez que nem todos os municípios divulgam seus dados (reportando diretamente ao Estado), não leva em conta as informações da rede particular separadamente e também não leva em conta as informações da cidade do Rio de Janeiro, sob um olhar antropológico da região metropolitana.

Basta ver os primeiros casos confirmados na Baixada Fluminense: o primeiro é de uma mulher moradora de Duque de Caxias que trabalha na rede de saúde do Rio de Janeiro. Em Queimados, o primeiro caso foi também de uma mulher, que fez o teste na Barra da Tijuca. Já em São João de Meriti, o primeiro óbito registrado na cidade decorrente da covid-19 foi um homem que trabalhava no Rio de Janeiro e foi atendido no Méier. Em Nilópolis, o primeiro caso da cidade foi registrado direto pelo Estado em vista de uma desatualização do cadastro da paciente, que morava no município do Rio de Janeiro.

Indo além da observação das histórias reais, os dados corroboram a importância de observar a circulação dos moradores da Baixada Fluminense na cidade do Rio de Janeiro: em cidades como São João de Meriti, Mesquita, Nilópolis e Japeri mais de 40% dos habitantes trabalha na capital carioca, como aponta o levantamento Mapa da Desigualdade feito pela Casa Fluminense com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censo de 2010.

2020-04-09

De volta às declarações do Secretário Executivo do Ministério da Saúde, se apenas “16% dos casos são registrados”, então os atuais 225 casos confirmados da Baixada Fluminense poderiam significar mais de 1.181 não registrados, totalizando 1.406 casos.

Além da hipótese alarmante, os gráficos apontam um crescimento exponencial, onde o número de casos da Baixada Fluminense tem quase dobrado a cada três dias na última semana. A tendência nacional tem sido refletida na região, que parece estar longe de “achatar a curva” – conceito amplamente divulgado ao redor do mundo que significa desacelerar a disseminação do vírus para que o número de casos se espalhe ao longo do tempo em vez de haver picos no início, evitando assim o colapso de sistemas de saúde inteiros, como tem sido visto na Itália, por exemplo.

Medidas de isolamento não estão sendo cumpridas corretamente

Mesmo com o crescimento dos casos de Covid-19 confirmados e as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para que todos mantenham isolamento em suas casas, uma parcela da população insiste em seguir a vida normal e relatos de churrascos, partidas de futebol e outras aglomerações têm pipocado pelas redes sociais.

O comércio das cidades está oficialmente fechado, mas isso não impediu a população de ir às ruas nesta terça-feira (07), quinto dia útil do mês, se aglomerando nas filas de banco. Aposentados e pessoas com dúvidas sobre a renda básica emergencial formaram filas desproporcionais até para dias ‘comuns’. O exemplo mais claro disso foi a ‘rua dos bancos’ no Centro de São João de Meriti, onde as pessoas se amontoaram mantendo distâncias bem menores que o sugerido pela OMS, de pelo menos um metro.

Ontem (09), o Site da Baixada divulgou através do Instagram stories imagens da Vila São Luís, em Duque de Caxias, onde era possível perceber a circulação normal de pessoas nas ruas e aglomerações próximas a um supermercado – apesar do comércio estar fechado sob decreto municipal.

Procurada através do 190, a Polícia Militar informa que não faz ocorrências de aglomerações e só age diante de denúncias sobre empresas descumprindo o decreto estadual que estabelece quais negócios podem funcionar, mediante certas limitações. Os cidadãos que desejam denunciar aglomerações devem procurar os telefones informados pelas prefeituras de suas cidades.

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