Catu Rizo: cineasta da Baixada Fluminense exibe o território dentro e fora das telas

Cineasta nilopolitana produz filmes, webséries e projetos coletivos a partir de suas histórias

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Catu Rizo: cineasta da Baixada Fluminense exibe o território dentro e fora das telas
Catu Rizo. Foto: Mau du Carta.

Catu Rizo. Foto: Mau du Carta.

“Eu sou Catu Rizo, sou da Baixada Fluminense e me defino como alguém curiosa e inquieta em torno da potência transformadora das imagens e do som dentro e fora da tela”, conta a cineasta nilopolitana, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2013, dirigiu o filme de ficção “Com o terceiro olho na terra da profanação“, filmado na Baixada Fluminense e premiado na 16º Mostra do Filme Livre. Já seu segundo filme, “A terra das muitas águas“, realizou enquanto roteirista, diretora e montadora e teve sua estreia na 23º Mostra de Cinema de Tiradentes, em 2020.

Além de cineasta, Catu também é pesquisadora e mestra pelo Programa de Pós-Graduação de Cultura e Territorialidades, também na UFF. “Eu penso muito na imagem em movimento e na potência da poesia no cinema”, relata a baixadense. Catu fala que sempre se interessou por cinema e que jamais se esqueceu do seu primeiro contato com a tela. “O primeiro filme que eu vi no cinema foi o Rei Leão, com a minha madrinha, e eu fiquei impactada e muito emocionada com todo o universo”, conta Rizo. A artista ainda brinca que foi o momento em que se transformou numa “cinéfila de sessão da tarde”.

No entanto, a expectativa de trabalhar com cinema ainda era distante. “Foi quando com 15 anos eu estava vendo uma entrevista do Spike Lee, sobre o filme ‘Faça a coisa certa’, e me dei conta que o cinema podia ser essa ferramenta de narrar o mundo a partir da perspectiva de uma pessoa (o diretor)”, conta. Foi através do relato do cineasta estadunidense que a jovem baixadense pensou em trabalhar com cinema. Ainda aos 15 anos, Catu fez um curso livre de Iniciação ao Audiovisual e a Fotografia no Rio de Janeiro, e a partir da experiência foi chamada para ser assistente de produção de um curta-metragem. “A partir do curta, conheci outras pessoas e fiz outros trabalhos como assistente de produção em projetos independentes e, então, surgiu o desejo de fazer a graduação de cinema como uma oportunidade de me inserir na área”, relata a cineasta.

Apesar do ambiente encantador e motivador que a cinematografia pode proporcionar, o ramo também apresenta suas barreiras, sobretudo para as mulheres. Uma pesquisa, realizada pelo GEMAA (Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas), traça um perfil de gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros de maior bilheteria entre 2002 e 2014. Os dados revelam que 72% dos roteiristas são homens e apenas 24% são mulheres. Já na direção, 86% são homens e 14% mulheres. Se observamos o recorte racial esses números são ainda mais entristecedores, onde somente 2% dos diretores são homens negros e nenhuma das diretoras é negra.

Catu conta que quando começou a produzir o seu primeiro filme, “Com o terceiro olho na terra da profanação“, não imaginava tamanha desigualdade. “Desigualdades de gênero, raça, classe e outras interseccionalidades são um espelho da sociedade e o cinema é uma área que reflete essa desigualdade”, desabafa. Entretanto, Catu acredita que é possível transformar essa condição através de exercício constante de pesquisa, engajamento e fortalecimento de políticas públicas.

“Apesar da gente estar num cenário de desmonte e no sistema fascista (governo), eu acredito no poder de transformação das redes, não só para abrir caminho para nossa trajetória, mas para outras e reconhecer quem já esteve também”

Foi também através do seu primeiro filme, que Catu se aproximou do seu território. “Eu não só me reaproximei, como criei uma outra ligação com a minha cidade e com a Baixada”, relata a nilopolitana. A cineasta conta que foi através do cinema que teve contato com a cena cultural baixadense e pôde construir uma ligação de pertencimento com a sua região, além de criar laços de amizade e afeto. A artista fala que a partir desse encontro percebeu uma Baixada Fluminense diferente do que conhecia:

“Eu nomeio como o território sonhado, que muitas das vezes é negado pra gente, através de um cenário massacrante midiático que nos coloca como uma única narrativa: a da violência e carência. Sobretudo, quando você sai e se você não faz esse retorno, fica com essa percepção. Até um determinado momento, eu tinha essa percepção de que eu só conseguiria criar essa trajetória como cineasta e artista, se fosse fora. Isso era inconsciente e fazia com que eu buscasse referências e formações fora do território, até por uma ausência de espaços institucionais. Mas apesar disso, existe toda essa cena [cultural] independente que faz um trabalho de formação essencial do qual me sinto parte hoje”.

Além do lugar de pertencimento, o cinema permitiu que Catu se entendesse como parte de algo maior. A artista relata que um filme só existe na coletividade e enquanto realizadora percebe que é possível potencializar esse processo coletivo e colaborativo. ”A coletividade faz parte de como eu me entendo como sujeita no mundo. Quando eu me vejo como uma idealizadora e artista baixadense, que está criando e contando narrativas sobre o meu território, é impossível não caminhar coletivamente, porque já estiveram outros antes de mim”, conta. Catu enxerga o caminhar coletivo como uma possibilidade de transformação e defende essa coletividade como seu fazer artístico e modo de existência.

Hoje, Catu Rizo faz parte do movimento Baixada Filma, além de integrar o coletivo de mulheres e pessoas transgênero do Departamento de Fotografia do Brasil (DAFB). A cineasta acredita que seu processo de retorno ao território não tem mais fim e, por isso, segue em constante pesquisa e criação na Baixada Fluminense. Para isso, a artista conta com o processo coletivo e as relações construídas a partir dele. Conheça agora três importantes projetos colaborativos realizados pela artista na região:

Quem conheceu lembrará sempre

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Catu Rizo (a esquerda), Mariah da Penha e Flaviane Damasceno (a direita). Foto: Catu Rizo.

Websérie documental que conta a história de uma grande professora iguaçuana. Mestra na arte do viver e apaixonada por literatura e a cultura popular brasileira, Maura Santana da Conceição dedicou mais de 40 anos de sua vida para o magistério, acreditando na força transformadora da educação pública.

A websérie foi construída através do acervo pessoal de Maura com mais de 2.000 fotografias, vídeos vhs e cartas que narram sua vida desde o jardim de infância até o seu último aniversário de magistério. A série conta com quatro episódios: dois já estão disponíveis no canal Mariah Da Penha Santana no Youtube e os próximos dois episódios serão lançados em junho deste ano.

Roteiro e direção: Catu Rizo e Mariah da Penha

Vizu Perifa

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Da esquerda para a direita: Anne Santos, Luana Pinheiro, Nathalie Peixoto, Jon Thomaz, Laís Dantas e sentados: Heli Anthus, Catu Rizo e Josy Antunes. Foto: Getúlio Ribeiro.

Série de cinco oficinas virtuais a fim de proporcionar trocas de saberes sobre visualidades com artistas e fazedores periféricos em cinco linguagens visuais. O projeto teve como intuito destacar a importância das perspectivas e narrativas periféricas na produção criativa e artística. As oficinas estão disponíveis no perfil do Instagram @designlinhadas

Direção audiovisual: Catu Rizo
Direção geral: Designlinhadas

Baixada Filma por elas

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Bella Tavares, Kathleen Ferreira, Pamela Ohnitram, Catu Rizo, Nathalie Peixoto, Carol Vilamaro e Giordana Moreira. Foto: Maria Paula Freire.

Mostra coletiva elaborada a partir do Manifesto Baixada Filma que discute a territorialização das políticas públicas e do orçamento para o audiovisual no Estado do Rio de Janeiro. O projeto foi constituído coletivamente por Cineclube Xuxu ComXis, Facção Feminista Cineclube e pelas realizadoras Carol Vilamaro da Laranja Vulcânica e Catu Rizo. Além da colaboração da produtora cultural Giordana Moreira, do Roque Pense.

Além das produções cinematográficas, Rizo também integra o corpo de professores do projeto Imagens em Movimento e vem desenvolvendo uma Formação Livre de Cinema e Educação, em parceria com o Zona de Cinema, apresentado por Catu junto à cineasta Gisele Motta. O curso é voltado para educadores, professores, arte-educadores, educadores populares, pais, mães e responsáveis de crianças e adolescentes e demais interessados na convergência entre cinema e educação. São oferecidos oito encontros virtuais que buscam trazer uma outra forma de pensar a educação, visando o território e a trajetória do estudante.

Para conhecer outros projetos e trabalhos de Catu Rizo visite o link https://linktr.ee/caturizo.

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