Prefeitura de Belford Roxo tira metade do terreno do Instituto Federal

Prefeito alega o desejo de construir hospital, apesar de não apresentar projeto que justifique a ação

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Prefeitura de Belford Roxo tira metade do terreno do Instituto Federal

Após três anos criando barreiras para a construção definitiva do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e até ter revogado a doação do terreno onde a unidade de ensino avançado seria construída, ontem (24/06) a Câmara de Vereadores da cidade aprovou o projeto de lei 801, que tira metade da área destinada para o campus, deixando 4.426 metros quadrados (de um total de 8.852 metros quadrados).

Atualmente o terreno no bairro São Bernardo tem uma construção modular e temporária, como explica o Reitor do IFRJ, Rafael Almada: “Essa doação permitiu que fizéssemos várias fases de construção do prédio. A primeira fase são os módulos que existem no terreno. A ideia era permanecerem para o atendimento aos alunos até a construção do prédio definitivo”.

O prefeito Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, esteve pessoalmente na votação de ontem, que teve 24 votos contra o IFRJ e apenas um a favor. O projeto de lei faz revisões sobre o que já havia sido aprovado antes, estabelecendo novamente um plano de metas que a unidade já vinha realizando ou sendo impossibilitada de realizar, como a própria construção do prédio.

Parte do texto se refere também ao ensino de qualidade, gratuito e com condições dignas – o que já acontece mesmo sem o prédio definitivo. O IFRJ de Belford Roxo tem formado artistas para o Brasil com um olhar de quem vem deste lugar e o Site da Baixada vem noticiando os trabalhos realizados a partir dali, como o de Luiz Felipe Ribeiro, 25 anos, morador de Santa Amélia (Belford Roxo): em parceria com outros cinco alunos (Raquel Ribeiro, também do curso de fotografia, Maria Luiza Côrtes, Karoline Alves, Viviana Laureano e Adryel Barboza do curso técnico de moda) fez um ensaio fotográfico na estação de trem de Belford Roxo, lançando uma outra visão sobre aquele espaço no próprio território.

“O Instituto está avaliando as questões legais e vai acionar o Ministério Público (MP) para avaliar a irregularidade dessa lei”, comentou Marcio Franklin, diretor de implantação do IFRJ de Belford Roxo. O MP já havia requerido a nulidade da medida que revogou a doação do terreno.

Apesar de não ter contribuído com o processo de legalização das obras, Waguinho destacou que nunca foi do interesse da Prefeitura impedir o funcionamento do IFRJ no local: “Desde o início, eu, a deputada federal Daniela do Waguinho e o deputado estadual Márcio Canella nos posicionamos para ajudar ao IFRJ, pois sou o prefeito que mais investiu em educação neste estado. Quanto mais escolas técnicas, melhor. Se o IFRJ quiser mais terrenos para construir outras unidades em Belford Roxo, eu consigo. Mas o Hospital da Mulher com equipamentos de última geração, será construído para oferecer diversos tipos de exames como mamografia e preventivo. Além disso, as gestantes poderão fazer pré-natal e ter o bebê no Hospital da Mulher”, frisou Waguinho.

Apesar da sua declaração sobre investimento em educação no Estado, o Anuário Multi Cidades 2020 aponta o contrário: no Estado do Rio de Janeiro as cidades de Duque de Caxias, Macaé, Niterói, Nova Iguaçu, Campos dos Goytacazes, Petrópolis, São Gonçalo e Volta Redonda investem mais.

Na tribuna da Câmara dos Vereadores, o vereador Angelo Ramos, o Anjinho, destacou que o prefeito se empenhou para liberar parte do terreno para que o IFRJ construa o prédio. Já o vereador Bil da Piscina, enfatizou que nunca foi do interesse da Prefeitura impedir que o IFRJ continue no local. “Queremos manter a instituição, mas é inegável que Belford Roxo precisa do Hospital da Mulher”, resumiu.

O vereador Antônio Tayano lembrou que a população estava eufórica com a possibilidade de se instalar o IFRJ em Belford Roxo, em 2013. “O prédio não foi construído e, o máximo que fizeram, foi colocar um contêiner lá no canto com o nome da instituição. Agora ficam espalhando que o prefeito e os vereadores querem acabar com o IFRJ. Muito pelo contrário: estamos cedendo o terreno para que o IFRJ construa de fato o prédio”, sentenciou.

O ‘contêiner’ referido pelo vereador Tayano é, na verdade, uma construção modular com capacidade para 200 alunos por turno, com salas de aula, banheiros, espaço de convivência, banheiros e salas administrativas. O prédio é inspirado em outras unidades do Instituto Federal no nordeste, com design simples e voltado justamente para a economia de recursos em vista da construção de um prédio definitivo.

 

Em vídeo para o Blog Alessandra Batista, o prefeito Waguinho declarou: “Eles tinham dois anos. Já estão aí há seis anos e não fizeram nada”.

No entanto, durante o período a instituição estabeleceu parcerias de cooperação técnica com instituições do próprio município como o SINE (Secretaria de trabalho do município de Belford Roxo) e a FUNBEL (Fundação de Assistência Social de Belford Roxo). Além disso, também realizou parcerias com outras instituições de dentro do município e do entorno, como o Museu Vivo de São Bento, Centro Cultural Donana, Emancipa, Afoxé Raízes Africanas, UERJ, CEDIM (Conselho Estadual dos Direitos da Mulher), CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), Escola Nacional de Circo, FLIDAM (Festival Literário Internacional da Diáspora Africana de São João de Meriti) e a Secretaria de Turismo do Estado do Rio de Janeiro.

Em ano eleitoral e buscando a reeleição, o prefeito Waguinho agora tem a promessa de um Hospital para a Mulher nas mãos, cujos recursos para sua construção ainda não foram apresentados à população. No entanto, a cidade ainda luta contra o Coronavirus e está entre as dez cidades com maior risco de alastramento de casos pelo Coronavírus, como aponta a Fundação Perseu Abramo. A cidade é ainda a sétima do Estado com o maior número de óbitos por Covid-19 (163) de acordo com o último Boletim Coronavirus publicado pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.

Todas as cidades vizinhas de Belford Roxo já ampliaram sua rede de saúde: Nova Iguaçu segue com a construção de um Hospital de Campanha, Mesquita abriu um centro de atendimento logo nas primeiras semanas da quarentena, Duque de Caxias comprou um hospital privado e São João de Meriti reabriu o prédio do PAM no formato de Hospital Municipal.

Em resposta aos 1.329 infectados pela Covid-19, a cidade aprovou o relaxamento das medidas de isolamento na semana passada e só esta semana anunciou a testagem rápida para a população.

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