Dezenas de crianças no Grande Rio carregam marcas físicas e psicológicas da violência armada

Instituto Fogo Cruzado contabilizou, em quase cinco anos, 103 crianças baleadas no Grande Rio, a maioria em favelas

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Dezenas de crianças no Grande Rio carregam marcas físicas e psicológicas da violência armada

Risco para crianças moradoras de favelas é ainda maior. Foto: (Kat Smith/Pexels)

2021 começou de forma trágica para a família de Alice Pamplona da Silva. A virada do ano levou não só o atípico ano de 2020, mas também a vida da menina de apenas cinco anos, que foi morta por um tiro disparado durante as comemorações do Réveillon, no Morro do Turano, no Rio Comprido. Alice infelizmente não foi a única. Ao todo nove crianças foram baleadas no Grande Rio em 2021 – três delas não sobreviveram.

“Muito se fala em proteção das crianças, mas muito pouco se faz. Os dados mostram que elas estão sendo feridas, mortas, que têm problemas psicológicos, mas pouco ou nada é feito por aqueles que têm o dever constitucional de garantir um crescimento saudável e com direitos garantidos para estes pequenos cidadãos”, cobra a diretora do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Olliveira.

Apesar do número assustar, a quantidade de baleados este ano, até o dia 12 de outubro, é 55% menor que no mesmo período de 2020 e de 2019, quando houve 20 vítimas em ambos. “Uma criança é muito. Para quem perdeu uma criança, ela é tudo. E esse tudo, não tem volta”, lembra Cecília.

Das nove crianças atingidas este ano, duas foram baleadas durante ações e operações policiais, outras duas em tentativas de homicídio, mais duas em ataques a civis. Além da Alice, que foi atingida por um tiro a esmo, uma bala perdida, durante a comemoração do ano novo. Outras famílias convivem com dor semelhante, já que dois casos não tiveram sequer a motivação definida. Essa falta de informação além de agravar o sentimento de perda das famílias, alimenta o ciclo de impunidade que esses crimes estão inseridos.

Em pouco mais de cinco anos, 103 crianças foram baleadas, inclusive bebês atingidos no colo da mãe, no Grande Rio segundo Instituto Fogo Cruzado – e 30 delas morreram.

Se a violência armada é um problema para todas as idades, não poupando nem os mais novos, para quem mora em favela, o risco é ainda maior. 62% das crianças foram atingidas em favelas nos últimos cinco anos. As operações policiais, muitas vezes feitas sem o mínimo preparo para preservar vidas e evitar os confrontos em áreas densamente populadas, fez com que 31 das 64 crianças baleadas nestas localidades fossem atingidas durante operações e ações policiais.

Crianças com problemas psicológicos

A violência deixa marcas físicas e também psicológicas. Em 6 de maio, um homem foi morto dentro do quarto de uma menina de 9 anos, no Jacarezinho, durante operação da polícia civil que deixou 28 mortos. O impacto emocional foi tão grande que, por dias, ela não quis dormir em casa. Além dela, outras crianças que foram expostas à violência desde cedo têm problemas de insônia, ansiedade e medo e tem seus crescimento duramente afetado.

 

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Instituto Fogo Cruzado usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da Instituição produz mais de 20 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e, em breve, em mais cidades brasileiras.

Por meio de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real. Elas estão disponíveis no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

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